- Nº 1931 (2010/12/2)

Incómodos, azias e raivas

Opinião

A greve geral, logo que foi marcada, provocou incómodos, azias e  raivas a muita gente – gente que, como é o caso dos analistas de serviço, tratou logo de se precaver, anunciando a previsão do fracasso da greve.

Assim, escrevendo antes da greve o que lhes estava encomendado para depois dela, adiantaram serviço.

Porque as previsões destes analistas são sempre, eles o dizem, infalíveis – não por não falharem mas porque eles as proclamam infalíveis, bastando-lhes, depois, fechar os olhos à realidade e escrever o que vêem...

Quem se enganou redondamente nas previsões foram os que ergueram a greve geral: previam uma greve muito grande e, em vez disso, fizeram a maior greve geral de sempre.

Greve geral? Quem é que disse?...

Uma «analista», no Público, garante que na rua dela ninguém fez greve: «tudo funcionou: o café, o talho, o restaurante, a farmácia, a tabacaria e o quiosque».

Um «sociólogo», no DN, corrobora a colega, assegurando que também nos seus domicílio, rua e  loja, se viveu «uma quarta-feira qualquer» – e jura, até, que ele próprio, vejam bem!, trabalhou «o dia inteiro».

Não dizem, mas é por demais evidente que também cães, gatos, piriquitos e restante fauna doméstica, solidários com os donos, disseram «não» à greve geral.

Portanto, não houve greve geral. A «analista» e o «sociólogo» juram a 4 pés juntos que lá em casa, no privado, tudo funcionou.

Para ambos, também, os sindicalistas são uns grandecíssimos malandros, uns agitadores que, a soldo sabe-se lá de que inconfessáveis interesses, o que querem é desencaminhar os trabalhadores, acenando-lhes com direitos que a modernidade e a inevitabilidade não toleram.

Estes escritos trazem à memória as raivas, azias e incómodos que os «analistas» e «sociólogos» de antanho vertiam no Diário da Manhã, à época órgão oficial do regime salazarista - como hoje o são, afinal, o Público e o DN no que respeita ao regime de política única dominante.

Também esses antepassados dos actuais escribas de serviço sabiam previamente tudo o que ia acontecer. E como, nesse tempo, o que tinha que ser tinha muita força, tudo acontecia como eles… previam.

José Casanova