- Nº 1925 (2010/10/21)

O valor dos apelos e dos consensos

Opinião

Não sendo fácil contabilizar com exactidão o valor da «unidade» que assola o País e todos os dias nos entra casa adentro pela via dos comentaristas, politólogos, especialistas em poupança, gente dos prós e dos prós, etc., há neste momento um número que justifica, em parte, todo este esforço e que ilustra o que se passa há mais de 34 anos em Portugal: 2.913.028.265 euros.

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Dois mil, novecentos e treze milhões, vinte e oito mil e duzentos e sessenta e cinco euros, nem mais nem menos, é o escandaloso número dos lucros obtidos pelas 23 maiores empresas portuguesas no primeiro semestre de 2010, o ano de mais PEC`s, mais austeridade, mais sacrifícios.

Assim se entende a razão de tantos apelos ao consenso, «necessário» para a manutenção da política de direita expressa no PEC III e nas medidas inscritas na proposta de Orçamento do Estado. Assim ficam mais claras as razões de tanta preocupação com as contas públicas, a despesa do Estado e as percentagens.

A questão não é se o défice se cifra em 7, 8 ou 15 por cento, mas se o percentual do aumento dos lucros das maiores empresas se mantém em 8,5 por cento, ou, até, se continua a crescer. Este sim é o valor que interessa!

Como os ganhos a defender são significativos, o capital mobilizou as suas forças e veio ao terreno em defesa dos interesses superiores do seu País. Foi vê-los empenhados, num autêntico frenesim.

Os banqueiros do BES, BCP, BPI e Totta, carregando às costas o pesado fardo dos seus 893 milhões e 930 mil euros de lucros no primeiro semestre, lá foram ajudar à reflexão do PSD e do Governo e avisar que o momento exige estabilidade.

Crise social, sim, mas nem pensar em crise política por causa dos Bankers e dos Banquiers (que em Portugal se traduz de forma criativa para «mercados financeiros»), os mesmos que vão buscar dinheiro ao BCE a taxas de 1 por cento e que emprestam a Portugal a juros de 5 e 6 por cento, conforme lhes apetece. Literalmente.

Pelo mesmo diapasão dissertou o presidente executivo da EDP, António Mexia, que surfando nos seus 639 milhões e 400 mil euros de lucros em 6 meses - e no já anunciado aumento da electricidade em 3,8 por cento -, também lá foi dizendo que face aos mercados «nervosos» e à crise que veio de fora, as medidas avançadas pelo Governo são mais que inevitáveis.

A mesma maldita crise que obriga as petrolíferas a aumentar os preços dos combustíveis, em particular a Galp, essa empresa que anda pelas ruas da amargura e que viu os seus lucros aumentarem apenas em 89 por cento.

 

Podem contar com o PCP

 

Somado, tudo se resume ao objectivo da manutenção da política que permite que, por cada dia que passa, o capital arrecade 16 milhões de euros de lucros. É em torno disto que conjugam esforços o capital, o PS, o PSD, o CDS e outros destacados responsáveis da situação em que nos encontramos.

Quando Cavaco Silva apela à necessidade de consenso, o que pretende é a manutenção e o agravamento das injustiças. Quando Alegre afirma que é preciso aprovar o Orçamento, está, simultaneamente, a subscrever todas as medidas de ataque aos trabalhadores e ao povo propostas pelo governo do PS com o apoio do PSD.

Defesa dos interesses do capital - eis a razão suprema de tanto consenso na manutenção da profunda injustiça social, que faz com que, por exemplo, a cada 30 segundos os lucros totalizem mais do que um ano inteiro de Salário Mínimo Nacional, remuneração que o Governo e o patronato se preparam para não aumentar; tudo fazendo para que a 1 de Janeiro de 2011 o SMN não chegue a 500 euros.

O mesmo Governo que convive tão bem com os milhões e milhões de lucro do capital, procurará impedir que o SMN aumente em pouco mais de 0,80 cêntimos por dia. É contra este «consenso» de retrocesso social; contra este roubo a quem trabalha; contra este caminho de declínio económico que é necessário continuar a mobilizar todos os que são alvo de um rumo brutal e de injustiça.

Para alargar a frente social de luta, apresentar propostas de ruptura, pôr Portugal a produzir, criar emprego, combater as injustiças. Para impor uma política patriótica e de esquerda ao serviço dos trabalhadores, do povo e do País. Para abrir um novo rumo de esperança. Para essa imensa obra que depende da vontade dos homens e mulheres do nosso País, podem contar com o PCP. Neste caminho faremos consenso. Para este caminho empenharemos todas as nossas forças.

Assim será no contributo decisivo dos comunistas para a dinamização da luta de massas e para o êxito da greve geral convocada pela CGTP-IN para o dia 24 de Novembro.

Assim será na dinamização, alargamento e apoio à candidatura presidencial de Francisco Lopes, a única que não está envolvida nem comprometida com esse imenso consenso de defesa dos interesses do capital.

Cada um escolhe os interesses que defende. O PCP há quase 90 anos que tem bem clara a sua opção.

Paulo Raimundo