Indianos rejeitam aumento dos preços e privatizações

Greve contra factura da crise

Mi­lhões de in­di­anos ade­riram, a se­mana pas­sada, a uma greve de 24 horas con­vo­cada para con­testar o au­mento ge­ne­ra­li­zado dos preços e a pri­va­ti­zação de em­presas pú­blicas, e de­fender o em­prego com di­reitos.

«Mais de 100 mi­lhões ade­riram à jor­nada de luta»

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A pa­ra­li­sação re­a­li­zada no dia 7, terça-feira, foi subs­crita por oito cen­trais sin­di­cais do país - uma das quais afecta ao par­tido do Go­verno, o Par­tido do Con­gresso -, e apoiada pelos Par­tidos Co­mu­nistas e de es­querda.

A estes somou-se no pro­testo o Bha­ra­tiya Ja­nata Party (BJP), que, tal como na greve geral do pas­sado mês de Junho, pro­cura ca­valgar sobre o des­con­ten­ta­mento po­pular para com o exe­cu­tivo li­de­rado pelo pri­meiro-mi­nistro Man­mohan Singh.

Se­gundo dados di­vul­gados pelas es­tru­turas sin­di­cais, mais de 100 mi­lhões de tra­ba­lha­dores de di­versos sec­tores ade­riram à jor­nada de luta, par­ti­cu­lar­mente forte nas pro­vín­cias go­ver­nadas pelos co­mu­nistas e seus ali­ados.

Em Tri­pura, Ke­rala e Ben­gala Oci­dental, a adesão à greve rondou os 99 por cento. A tí­tulo de exemplo, nestes dois úl­timos es­tados o total de voos sus­pensos por com­pa­nhias aé­reas pri­vadas su­perou os 175.

No resto do país, a pa­ra­li­sação teve um im­pacto mais mo­desto, mas, ainda assim, re­gistou-se uma forte adesão nos trans­portes ur­banos e su­bur­banos, co­mércio e ser­viços, portos, in­dús­tria pe­tro­lí­fera e ou­tras uni­dades trans­for­ma­doras, cons­trução civil, te­le­co­mu­ni­ca­ções e em al­gumas es­colas e uni­ver­si­dades.

 

Exemplo fla­grante

 

Des­taque, igual­mente, para a adesão à greve de cerca de um mi­lhão de tra­ba­lha­dores afectos ao sector ban­cário e às ac­ti­vi­dades fi­nan­ceiras, no­me­a­da­mente os fun­ci­o­ná­rios das ins­ti­tui­ções pú­blicas. Estes con­si­deram-se es­pe­ci­al­mente vi­sados pelo plano de pri­va­ti­za­ções, já que, ar­gu­mentam, nesse caso per­de­riam os ac­tuais vín­culos e as ga­ran­tias de pro­tecção so­cial.

O temor dos fun­ci­o­ná­rios dos bancos pú­blicos não é in­fun­dado. No mesmo dia em que cum­priam 24 horas de greve, os ban­queiros reu­niam num lu­xuoso hotel de Mom­baça, ca­pital fi­nan­ceira da Índia.

Do en­contro saiu a in­tenção de criar até 50 mil novos em­pregos no sector, pro­messa a ser con­cre­ti­zada caso avance o plano de pri­va­ti­za­ções, dis­seram. Mas os mag­natas da alta fi­nança co­lo­caram um senão: «o pro­blema é que a Índia não tem qua­dros qua­li­fi­cados».

A de­cla­ração não é ino­cente. O que pre­o­cupa o ca­pital fi­nan­ceiro não é qua­li­fi­cação dos qua­dros dis­po­ní­veis, mas a pos­si­bi­li­dade do Es­tado pri­va­tizar a banca es­tatal obri­gando os com­pra­dores a man­terem os ac­tuais tra­ba­lha­dores e res­pec­tivos con­tratos.

Dito de outro modo, à bo­leia da «falta de qua­li­fi­ca­ções», a grande bur­guesia pre­tende ga­nhar a dois car­ri­nhos: abo­canha o sector pú­blico e des­carta os tra­ba­lha­dores subs­ti­tuindo-os por ou­tros, pre­cá­rios e dis­postos a vender a força de tra­balho por me­tade ou menos.

 

A crise como des­culpa

 

Para além das pri­va­ti­za­ções de seg­mentos cen­trais da eco­nomia na­ci­onal, ou­tras im­por­tantes ques­tões foram in­cluídas no ca­derno rei­vin­di­ca­tivo dos sin­di­catos. A es­ca­lada do preço dos bens de pri­meira ne­ces­si­dade pa­rece im­pa­rável. Os gé­neros ali­men­tares bá­sicos au­men­taram quase 11 por cento na pe­núl­tima se­mana de Agosto e os com­bus­tí­veis para uso do­més­tico se­guem rumo se­me­lhante, pelo que os tra­ba­lha­dores e o povo exigem do go­verno me­didas con­cretas contra a es­pe­cu­lação.

No mesmo sen­tido, sus­tentam as es­tru­turas re­pre­sen­ta­tivas dos tra­ba­lha­dores, o pa­tro­nato pro­cura impor pi­ores con­di­ções de tra­balho e au­mentar a ex­plo­ração, facto que obriga à to­mada de me­didas enér­gicas para que se cumpra a le­gis­lação la­boral em vigor.

O go­verno, por seu lado, in­siste na ne­ces­si­dade de baixar o dé­fice pú­blico para os 5,5 por cento do PIB e usa a crise in­ter­na­ci­onal como álibi para a sua po­lí­tica. A questão é que Man­mohan Singh não apenas se re­cusa a in­vestir os lu­cros do sector pú­blico em ac­ti­vi­dades pro­du­tivas e que be­ne­fi­ciem a ge­ne­ra­li­dade do povo (au­men­tando, por essa via, o mer­cado in­terno), como, ainda re­cen­te­mente, aprovou a li­be­ra­li­zação do sector dos com­bus­tí­veis e cortou os sub­sí­dios es­ta­tais neste âm­bito.

Assim, não é de es­tra­nhar que tra­ba­lha­dores, pe­quenos e mé­dios em­pre­sá­rios e agri­cul­tores pro­testem contra a fac­tura da crise que lhes é apre­sen­tada, ao passo que o pre­si­dente da Shell na Índia, Vi­kram Mehta, de­fenda, ci­ni­ca­mente, que o país deva «mo­vi­mentar os preços do­més­ticos de acordo com as ten­dên­cias in­ter­na­ci­o­nais».

 



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