PCP exige respostas estruturais para a floresta

É possível conter os fogos

Me­lho­rias no dis­po­si­tivo de com­bate aos in­cên­dios flo­res­tais com­provam que, como o PCP de­fendeu, é pos­sível travar este fla­gelo. Mas esse ca­minho está por fazer, as res­tri­ções or­ça­men­tais vão em sen­tido in­verso e o Go­verno foge às suas res­pon­sa­bi­li­dades, ten­tando aliviá-las para o calor e para actos ne­gli­gentes ou do­losos. Na acção po­lí­tica geral e na in­ter­venção ins­ti­tu­ci­onal, os co­mu­nistas vão con­ti­nuar a pri­vi­le­giar as res­postas aos pro­blemas es­tru­tu­rais da flo­resta por­tu­guesa e a luta por outra po­lí­tica agrí­cola.

O con­di­ci­o­na­mento fi­nan­ceiro es­ti­lhaçou os ser­viços do Es­tado

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As po­si­ções do Par­tido foram apre­sen­tadas no dia 4, quarta-feira, por Agos­tinho Lopes, membro do Co­mité Cen­tral e de­pu­tado. Co­men­tando os dados ofi­ciais re­fe­rentes aos in­cên­dios flo­res­tais, su­bli­nhou que, na con­ti­nui­dade de 2009, ano em que ar­deram 87 mil hec­tares, o ba­lanço dos úl­timos 15 dias de Julho veio de­mons­trar, mais uma vez, que os pro­blemas es­tru­tu­rais da flo­resta por­tu­guesa estão longe de estar re­sol­vidos, como o PCP tem de­nun­ciado.

O mi­nistro e o se­cre­tário de Es­tado da Ad­mi­nis­tração In­terna, prin­ci­pais res­pon­sá­veis pelo Plano Na­ci­onal de De­fesa da Flo­resta Contra In­cên­dios, vêem crescer o nú­mero de ocor­rên­cias e a área ar­dida, bem como a di­mensão e a du­ração de al­guns dos fogos, e voltam a in­vocar as con­di­ções me­te­o­ro­ló­gicas ad­versas e os in­cen­diá­rios, para jus­ti­fi­carem a si­tu­ação. Para o PCP, isto re­pre­senta fuga a as­sumir a res­pon­sa­bi­li­dade po­lí­tica pela causa es­sen­cial e cen­tral dos in­cên­dios flo­res­tais: o es­tado da flo­resta por­tu­guesa. Agos­tinho Lopes lem­brou, a pro­pó­sito, que em 2007 e 2008, anos de baixo ín­dice de se­ve­ri­dade diário (me­dida do risco de ocor­rência de um in­cêndio, tendo em conta as con­di­ções me­te­o­ro­ló­gicas), os mesmos go­ver­nantes atri­buíam às me­didas do Go­verno o facto de nesses anos re­gis­tarem re­du­zido nú­mero de in­cên­dios flo­res­tais e menos área ar­dida. 


A saída vis­lum­brada


Estas cons­ta­ta­ções não põem em causa as me­lho­rias ve­ri­fi­cadas no dis­po­si­tivo de com­bate, par­ti­cu­lar­mente na res­posta ini­cial, res­salvou o di­ri­gente e de­pu­tado co­mu­nista, sa­li­en­tando de se­guida que, pelo con­trário, elas de­mons­tram que, de­pois de um longo pe­ríodo de in­cúria e su­bes­ti­mação pela po­lí­tica de di­reita de su­ces­sivos go­vernos (PS, PSD e CDS), res­pon­sá­veis por mais de 2,7 mi­lhões de hec­tares de flo­resta quei­mada nos úl­timos 25 anos, e de­pois dos anos ca­la­mi­tosos de 2003 e 2005, foi pos­sível travar o fla­gelo, como o PCP sempre afirmou e propôs.

Do ponto de vista do PCP, tal acon­te­ceria com in­ves­ti­mento pú­blico ade­quado em meios e re­cursos hu­manos, com outra or­ga­ni­zação do dis­po­si­tivo de com­bate e com a con­vo­cação e o en­vol­vi­mento de todas as en­ti­dades e agentes mais di­rec­ta­mente in­te­res­sados e pre­o­cu­pados com o pro­blema – pro­du­tores flo­res­tais e com­partes dos bal­dios e as suas as­so­ci­a­ções, corpos de bom­beiros, mu­ni­cí­pios, de­par­ta­mentos de ins­ti­tui­ções uni­ver­si­tá­rias.

Era pos­sível, como o PCP in­sis­ten­te­mente afirmou, ca­mi­nhar para res­postas ne­ces­sá­rias a um com­bate efi­ci­ente, re­du­zindo subs­tan­ci­al­mente a di­mensão e o nú­mero de fogos, os pre­juízos e os riscos de aci­dentes pes­soais. Mas es­teve sempre pre­sente, nas po­si­ções dos co­mu­nistas, um alerta: o cerne do pro­blema era e é o es­tado da flo­resta e das matas por­tu­guesas.

Agora mais uma vez se com­prova que as ques­tões es­tru­tu­rais da flo­resta, o seu or­de­na­mento e a sua gestão ac­tiva, e a cha­mada pre­venção es­tru­tural não pas­saram do papel.

Para quem tenha dú­vidas acerca desta afir­mação, Agos­tinho Lopes deixou um de­safio: com­prová-la, fa­zendo o ba­lanço de con­cre­ti­zação da «ma­triz de res­pon­sa­bi­li­dades e in­di­ca­dores de im­ple­men­tação da Es­tra­tégia Na­ci­onal para as Flo­restas», a ENF, apro­vada pelo Go­verno a 15 de Se­tembro de 2006, após os de­sas­tres de 2003 e 2005.

Con­fluindo com po­lí­ticas agro-ru­rais (e não só), que agra­varam o aban­dono da agri­cul­tura e a de­ser­ti­fi­cação hu­mana e eco­nó­mica de muitas re­giões, e con­tra­ri­ando as boas in­ten­ções afir­madas, as po­lí­ticas agro-flo­res­tais pa­ti­naram, sem ven­cerem es­tran­gu­la­mentos e dé­fices cau­sados pelas po­lí­ticas dos úl­timos 30 anos. Nesse im­passe, pesam de forma de­ci­siva as con­sequên­cias di­rectas e in­di­rectas da con­tenção or­ça­mental de­ter­mi­nada pelo PEC.

O forte e cego con­di­ci­o­na­mento fi­nan­ceiro re­duziu e es­ti­lhaçou os ser­viços do Es­tado para a flo­resta (a re­dução do nú­mero de agentes, o sis­tema de mo­bi­li­dade es­pe­cial, a re­con­fi­gu­ração da Di­recção-Geral dos Re­cursos Flo­res­tais na Au­to­ri­dade Flo­restal Na­ci­onal), atin­gindo dras­ti­ca­mente o in­ves­ti­mento na flo­resta e o avanço no or­de­na­mento flo­restal. Este pro­cesso acabou por frus­trar a enorme dis­po­ni­bi­li­dade, o em­pe­nha­mento e até en­tu­si­asmo de pro­du­tores e téc­nicos flo­res­tais e de com­partes dos bal­dios e o grande en­vol­vi­mento das suas as­so­ci­a­ções.

No rei­nício dos tra­ba­lhos par­la­men­tares o PCP vol­tará a co­locar estes pro­blemas em dis­cussão na As­sem­bleia da Re­pú­blica, adi­antou Agos­tinho Lopes. O PCP, sem des­curar a ne­ces­si­dade de re­forçar e sa­tis­fazer as ca­rên­cias do Dis­po­si­tivo Na­ci­onal de Com­bate aos In­cên­dios Flo­res­tais, dando par­ti­cular atenção aos pro­blemas das Cor­po­ra­ções de Bom­beiros Vo­lun­tá­rios, vai na sua acção po­lí­tica geral e in­ter­venção ins­ti­tu­ci­onal, con­ti­nuar a pri­vi­le­giar as res­postas aos pro­blemas es­tru­tu­rais da flo­resta por­tu­guesa, onde é ele­mento cen­tral outra po­lí­tica agrí­cola.

 

Os es­tí­mulos do mer­cado

 

No mer­cado da ma­deira, os preços rui­nosos de­sin­cen­tivam qual­quer efec­tiva pro­dução flo­restal. En­con­tram-se sob o do­mínio mo­no­po­lista de al­guma grandes em­presas, par­ti­cu­lar­mente no sector do eu­ca­lipto e pasta de papel, mas o Go­verno e a Au­to­ri­dade da Con­cor­rência con­ti­nuam a não ter qual­quer in­ter­venção.

Entre 2008 e 2010, o preço da pasta de papel passou de 580 para 700 euros por to­ne­lada, en­quanto a ma­téria-prima (eu­ca­lipto) desceu de 45 para 39 euros por to­ne­lada. Não ad­mira assim que as contas da Por­tucel apre­sentem, no pri­meiro se­mestre deste ano, um au­mento dos lu­cros de 92 por cento, ou seja, quase o dobro do que al­can­çaram nos pri­meiros seis meses de 2009!

 



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Assim é que não

Entre o que ficou por fazer e o que foi mal feito, num con­texto de po­lí­ticas que acen­tu­aram o aban­dono da agri­cul­tura e a de­ser­ti­fi­cação de muitas re­giões, os pro­blemas cau­sados pela po­lí­tica de di­reita nos úl­timos 30 anos não foram ven­cidos pelas boas in­ten­ções de­cla­radas após as ca­tás­trofes de 2003 e 2005.