Histórias

Henrique Custódio

Isabel Alçada decidiu promover os seus segundos «15 minutos de fama» de que falava Warhol (os primeiros vieram com a sua entronização em ministra da Educação) e lançou uma proposta que pôs toda a gente a invectivá-la (à excepção de Albino Almeida, pois claro: o presidente da Confederação dos Pais - Confap, esse apoiante fatal dos desmandos socráticos na Educação, tinha de vir a terreiro defender o Ministério).

Em entrevista ao Expresso, a ministra anunciou que pretendia acabar de vez com as reprovações nas escolas, esclarecendo que «a alternativa é ter outras formas de apoio, que devem ser potenciadas para ajudar os que têm um ritmo diferenciado».

Invocava, como fonte inspiradora de tão avantajada ideia, o que acontece «na Finlândia, Suécia, Noruega e Dinamarca», onde «em vez de chumbar, os alunos com mais dificuldade têm apoio extra».

Esqueceu-se de dizer que na Finlândia, por exemplo, os alunos são desde a primária acompanhados pelo mesmo professor que funciona como tutor, que as escolas são sempre próximas dos seus utentes, que as turmas são minúsculas, que as escolas são apetrechadas desde as bibliotecas aos ginásios, que os professores têm carreiras escalonadas e recebem por todas as competências ou responsabilidades que assumem.

Também não disse que na Noruega há 12 alunos por professor no Básico e 8,2 no Secundário, contra 28 e 30 em Portugal, respectivamente, que 40% das escolas básicas norueguesas são tão pequenas que crianças de diferentes idades têm aulas juntas ou que, na Suécia, cerca de 60% das escolas do 1.º Ciclo funcionam com menos de 50 alunos.

Tal como não concluiu, daqui, o essencial: que é todo este investimento no Ensino, nas suas infra-estruras e no seu pessoal docente e não docente que explicam que «em vez de chumbar, os alunos com mais dificuldade têm apoio extra».

Todavia, enquanto volteia sobre a cabeça atónita do País a importação administrativa deste resultado pedagógico dos países nórdicos, a mesma ministra prossegue uma política que é oposta à praticada pelos escandinavos e que produz os tais resultados pedagógicos: encerra escolas primárias de proximidade (só este ano lectivo foram 700), desenvolve um programa de fusão de agrupamentos escolares que fecha dezenas de escolas secundárias e concentra dezenas de milhares de alunos em unidades gigantescas, isto a par de uma interminável degradação da carreira docente e o desguarnecimento contínuo das escolas em meios, pessoal e equipamentos.

É evidente que todos, à uma, malharam na proposta: os partidos da oposição, as organizações sindicais, até as associações de pais, com a já referida excepção da Confap do senhor Albino.

Entretanto, vinda de uma ministra que começou por ser professora do ciclo preparatório antes de se especializar a escrever histórias juvenis, esta intenção de obter resultados pedagógicos através da anulação dos meios para os conseguir, não revela nem uma professora nem uma efabuladora. Talvez uma contadora de histórias – mas das manhosas.

 



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