Obama

Henrique Custódio

O Avante! noticiou o caso há três semanas sob o título «Jackpot no subsolo afegão», nos EUA o assunto apenas tem interessado programas de humor por cabo como o Daily Show de Jon Stewart e por essa Europa fora ninguém pareceu muito incomodado com a coisa.

Cuja consiste no seguinte: os EUA confirmaram já saber há dois anos e meio que o subsolo do Afeganistão contém gigantescas quantidades de ferro, cobalto, cobre, ouro e sobretudo lítio, um metal fundamental na produção de baterias para telemóveis e computadores portáteis. Um relatório do Pentágono afirma mesmo que o país é a «Arábia Saudita do lítio», podendo as jazidas ultrapassar as conhecidas na Bolívia, o maior produtor mundial deste estratégico elemento.

A Casa Branca já manobra para assegurar que tão importantes recursos naturais não sejam explorados por companhias de outras potências económicas, nomeadamente da China, enquanto empresas multinacionais já estão a «trabalhar» com as autoridades-fantoche afegãs, com funcionários norte-americanos a elaborar um projecto de concurso internacional que desemboque na concessão deste autêntico jackpot de recursos naturais.

Percebe-se agora melhor por que o actual presidente norte-americano, Barack Obama, prometeu taxativamente na sua campanha eleitoral que os EUA «iriam reforçar o seu combate ao terrorismo no Afeganistão»: o homem já sabia de ciência certa – a da prospecção mineira – o que o grande capital norte-americano pretendia daquela zona, em concreto.

Aliás, esta promessa eleitoral de Obama seria mesmo a única que o novo Presidente dos EUA cumpriria zelosamente, mal se instalou na Casa Branca: as outras foram sendo esquecidas, através de decisões repetindo e continuando toda a política da administração Bush.

Obama prometeu encerrar Guantánamo no espaço de um ano e dar aos seus prisioneiros o direito a, pelo menos, um julgamento nos tribunais dos EUA: passou ano e meio desde a sua posse e Guantánamo continua cheia de prisioneiros sem culpa formada, nem qualquer tipo de defesa.

Obama assegurou que terminariam os interrogatórios de prisioneiros norte-americanos em países estrangeiros com práticas de tortura e tudo continua na mesma.

Obama criticou severamente o «Patriotic Act» de Bush, que permite vasculhar a vida e a intimidade de todos os cidadãos norte-americanos, asseverando que «a luta contra o terrorismo pode e deve fazer-se sem limitar as liberdades fundamentais dos cidadãos» e o que fez, chegado ao poder, foi ratificar e prolongar essa legislação totalitária.

Obama garantiu que os EUA iniciariam a retirada do Iraque no espaço de um ano e, ano e meio depois, a ocupação continua e intensifica-se.

Na rudeza dos factos, mais uma vez fica exposta a essência do poder na «grande democracia norte-americana»: seja quem for que presida aos destinos do país, a política de saque e arbítrio é sempre a mesma.

Entre Bush e Obama, o que individualmente os distingue é a boçalidade reaccionária do primeiro perante a demagogia culta e florentina do segundo. É bonito, mas dispiciendo.

O que interessa é que a política de ambos é, notoriamente, farinha do mesmo saco.

 



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