O Partido e a ligação às massas
Armindo Miranda
A obra do camarada Álvaro Cunhal que motiva esta nossa iniciativa, dá-nos a conhecer a imensa sabedoria do nosso Partido, acumulada durante tantos anos na luta pela liberdade, pela democracia e na defesa dos interesses da classe operária, de todos os trabalhadores, e outras camadas da população e coloca à nossa disposição, um vasto conjunto de experiências e ensinamentos muito úteis para termos em conta na luta que hoje travamos no nosso país pela transformação da sociedade.
E uma dessas tão importantes experiências é sem dúvida a ligação do Partido às massas e a importância da organização como instrumento dinâmico e consequente dessa renovada e permanente ligação, aos trabalhadores e outras camadas sociais antimonopolistas. Premissa fundamental para o avanço da luta, pela resolução dos seus problemas concretos e pela alteração da situação política no nosso país.
Esta componente do nosso trabalho está, como sabemos, presente de forma destacada em todos os congressos, conferências, encontros e na actividade diária do Partido e considerada como elemento estratégico para fazer crescer as raízes e o alargamento da sua influência junto da classe operária, de todos os trabalhadores e do povo.
É como se a ligação às massas fosse o pão e o alimento diário, sem o qual o Partido não consegue sobreviver como partido revolucionário.
Mesmo não tendo como objectivo abordar de forma específica a ligação do Partido às massas, ela está presente (tinha que estar)na obra O Partido com Paredes de Vidro.
Nomeadamente:
Quando refere que o PCP surgiu directamente das fábricas e que, durante a sua existência e particularmente nos momentos mais duros e difíceis, recebeu sempre da classe operária o apoio, a força e a energia para dar continuidade à luta pela transformação revolucionária da sociedade.
Ou quando afirma que a perspectiva histórica de um partido também é aferida pela ligação que tem às classes a quem historicamente o futuro pertence.
Quando é afirmado que sendo importante para um partido afirmar-se como vanguarda revolucionária, o mais importante é sê-lo de facto na prática política diária. E que daí resulta a necessidade de conhecer profundamente os problemas dos trabalhadores e a defesa dos seus interesses e aspirações, o que exige uma estreita ligação e contacto permanente com as massas.
Ou quando refere que a luta do Partido é inseparável da luta da classe operária e das massas e a luta destas é inseparável da luta do PCP.
No capítulo, a tarefa difícil de dirigir, os dirigentes e militantes do Partido são aconselhados a não viverem e pensarem num círculo fechado e aparte, diminuindo o ângulo de avaliação e a sua capacidade de aprender com as massas e conhecer o seu verdadeiro sentir, aspirações e problemas.
E ainda nesta área, mas já noutro capítulo, quando sugere que os militantes e dirigentes comunistas procurem relacionar-se e sentir verdadeiro gosto de falar com gente simples, mesmo não politizada, encontrando aí motivo bastante para sentir a alegria do convívio humano.
Pela sua importância e actualidade, permitam camaradas e amigos que, cite um pequeno parágrafo do capítulo Organização e trabalho de massas.
Passo a citar «Uma organização que se fecha em si própria, que se volta para dentro, que não estabelece ou que perde a ligação com as massas, está condenada a estiolar e a morrer sem nada deixar atrás de si. As organizações do Partido para cumprirem a sua missão e para se desenvolverem elas próprias, têm de estar voltadas para fora, porque o viveiro da organização, dos novos militantes, dos novos quadros, das energias, da inspiração, dos recursos, é o trabalho de massas.» Fim de citação.
A organização e a preparação das lutas
Lembrando logo a seguir, camaradas e amigos, que, mesmo na clandestinidade e sujeito a uma violenta repressão e tendo de adoptar rigorosas regras de defesa, o PCP, salvo curtos períodos, sempre esteve voltado para fora, para as massas, tendo como principal preocupação a organização e preparação das suas lutas.
Como é sabido, o nosso Partido, entre 1939 e 1948, não teve com excepção de contactos com dirigentes do PC de Espanha, qualquer ligação com o Movimento Comunista Internacional.
Em O Partido com Paredes de Vidro, esta questão é tratada e dada informação muito útil e são referidas duas importantes lições retiradas da vida do Partido nesse período e que vieram a exercer uma profunda influência em toda a evolução e actividade do PCP.
Deixem, camaradas e amigos, que refira uma delas.
Nesse período, o Partido aprendeu na vida que a fonte inesgotável da sua força e energia revolucionária, dos seus recursos humanos e materiais, é a classe operária e o povo português.
Experiência muito importante a ter em conta na luta que travamos hoje, pela ruptura com a política de direita, por uma alternativa política, pela democracia avançada consignada no nosso programa tendo no horizonte o socialismo.
Camaradas e amigos, no nosso XVIII Congresso, a ligação do Partido às massas continuou a estar presente e, como sempre, de forma destacada. Aí concluímos que, não obstante importantes avanços verificados, existem ainda organizações do Partido fechadas sobre si próprias, voltadas para dentro e desligadas das massas. E por isso mesmo, interligada com outras componentes do reforço orgânico do Partido, temos em curso em todo o Partido, uma profunda discussão sobre a importância e a necessidade de reforçar a ligação do Partido às massas, aprofundar o conhecimento dos seus problemas, sentimentos e aspirações, dar-lhes forma reivindicativa e, de acordo com cada situação concreta, organizar a luta pela sua resolução, sem nos substituirmos às próprias massas.
Não é ao capitalismo que o futuro pertence, mas sim ao socialismo. Mas esta nova sociedade verdadeiramente democrática, justa e fraterna, terá de ser conquistada pelas massas no combate que diariamente travam contra a exploração capitalista.
E nessa sua luta para que a riqueza do País seja colocada ao serviço dos que a produzem, podem sempre contar com o Partido Comunista Português, tal e qual é apresentado pelo camarada Álvaro neste livro sempre de grande actualidade, O Partido com Paredes de Vidro.