Milhares exigem que se cumpra a revolução

Abril de novo com a força do povo

As comemorações populares do 25 de Abril encheram as ruas do País, fazendo ouvir a exigência dos trabalhadores para que se cumpram os caminhos abertos pela revolução, e os protestos contra a política de direita que tem vindo a desmantelar as suas conquistas. Abril de novo nascerá da luta, afirmou-se.

As comemorações populares foram uma vigorosa afirmação da revolução

Em Lisboa, dezenas de milhares de pessoas desfilaram durante várias horas entre o Marquês de Pombal e o Rossio, a maioria de cravo vermelho ao peito ou levantando sob um sol tórrido o símbolo da revolução que derrubou o regime fascista. Tempo novo que inaugurou a construção de uma democracia avançada expressa na Constituição, a qual, mesmo truncada de elementos fundamentais pelas sucessivas revisões, mantém-se como um instrumento para um Portugal mais justo e desenvolvido, de progresso e soberania nacional que é necessário defender e fazer cumprir, como lembraram os comunistas de Cascais ou a União de Sindicatos de Lisboa.
Muitos dos que na tarde de domingo voltaram a inundar a Avenida da Liberdade para comemorar os 36 anos de Abril tomaram partido nesse exaltante processo que foi construir um País novo, mas que cedo as forças contra-revolucionárias travaram iniciando um longo percurso de revanche com o período mais luminoso da nossa história colectiva. Outros tantos - ou talvez mais - entre os que integravam a multidão de participantes na iniciativa realizada na capital, nasceram depois de Abril de 1974, mas beneficiaram das amplas transformações ocorridas.
Alguns, ainda, pouco mais recordam que os governos capitulacionistas do PS/Guterres que sucederam ao cavaquismo; os homólogos ora do PSD, ora do PS que, até ao tempo em que vivemos e sempre ao serviço dos grandes grupos económicos e financeiros reconstituídos, se revezaram na alternância sem alternativa, caracterizados por frívolas diferenças, mas, no fundamental, executando contra Abril.
Mais que uma comemoração do que foi ou do mais que poderia ter sido Abril, as comemorações populares em Lisboa foram uma vigorosa afirmação do projecto da nossa revolução, deixando claro que, geração após geração, aprendendo com a vida e a luta, muitos e muitos mil continuam firmes na defesa de Abril, dos seus valores e objectivos, permanecendo determinados no combate, nas grandes e nas pequenas lutas dos trabalhadores e das populações, desbravando passos para o futuro, mostrando que resistir é já vencer e que o triunfo de Abril, de novo, virá com a força do povo.
Por isso não é de estranhar que logo à cabeça do desfile, atrás do quadrado onde se arrumam militares de Abril e dirigentes das organizações que integram a comissão promotora, e depois das crianças maravilhadas com a chaimite e dos Pioneiros de Portugal, a JCP, com enorme presença organizada e grande combatividade, particularmente de estudantes e jovens trabalhadores, gritasse «agora e sempre juventude está presente» e «com este governo andamos para trás», palavra de ordem acompanhada do respectivo retrocesso na marcha para, logo depois, desatar tudo numa correria por «uma política diferente».

Reivindicações justas

Mudança para uma política de valorização do trabalho que a USL/CGTP-IN exigia como contraponto às actuais orientações de direita que impõe a precariedade e a redução dos salários, notava o sindicato de classe do comércio e serviços, a retirada de direitos, sublinhava o Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local, ou o demantelamento dos serviços públicos e a sua privatização transformando-os em áreas de reprodução de capital, frisavam os trabalhadores do sector ferroviário e aéreo, da Função Pública, dos CTT, ou do município de Lisboa, uma das várias estruturas representativas e células de trabalhadores de autarquias dos distritos a Norte e a Sul da bacia do Tejo que deram ao 36.º aniversário um carácter reivindicativo.
Reivindicações justas trouxeram, igualmente, entre outros, os trabalhadores dos transportes urbanos e da Lisnave, os trabalhadores intelectuais e os reformados, que, para além do combate à precariedade e ao trabalho sem direitos, reiteraram a necessidade de actualização dos salários, das pensões e reformas.
Os trabalhadores das actividades financeiras trouxeram para a rua mais um bocadinho de Abril exigindo a nacionalização da banca, conquista que, a par da habitação, do poder local democrático, do associativismo popular, da promoção dos cuidados de saúde com profissionais e unidades adequadas e suficientes, da segurança ao serviço dos cidadãos e das forças armadas democráticas, faz parte do património revolucionário, mas que a política de direita tem vindo a negar e a desfigurar, como destacavam as populações do Seixal, Almada, Lisboa, Sintra, Odivelas, Amadora ou Cascais, e a Associação dos Inquilinos Lisbonenses, a Confederação das Colectividades de Cultura e Recreio, a ASPP/PSP, a Associação Nacional de Sargentos, a Associação de Praças e a Associação dos Oficiais das Forças Armadas.
No contexto do aumento da exploração sobre os trabalhadores, a rejeição do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) - que em milhares de cartazes se denunciava ser um Plano de Exploração Capitalista – foi transversal a toda a manifestação, demonstrando que a luta de quem produz e cria riqueza contra mais uma violenta campanha dos partidos da política de direita, do governo e do patronato só agora começou, prosseguindo, já depois de amanhã, nas comemorações do 1.º de Maio que continuam a luta por Abril, de novo.

Preparar a luta

As comemorações populares dos 36 anos da revolução dos cravos no Porto decorreram com um desfile entre o Largo Soares do Reis, com início junto ao edifício que serviu de sede à PIDE naquela cidade, e a Avenida dos Aliados. Depois de serpentear as ruas da cidade agitando consciências para a actualidade de defender e continuar Abril, a acção de massas que envolveu muitos milhares de pessoas terminou em comício. Antes, na noite de 24 para 25, muitos milhares juntaram-se para assistir ao espectáculo musical que culminou com a «Grândola», cantada em coro, e com fogo de artifício.
Em Coimbra, também na noite de 24 de Abril, o Ateneu e o Sindicato dos Professores da Região Centro promoveram a tradicional «queima do fascismo», iniciativa que reuniu cerca de 400 pessoas nas instalações da Universidade de Coimbra em torno da música e poesia.
Já em Braga, as comemorações levadas a cabo pela União de Sindicatos (USB) mobilizaram centenas de pessoas em desfile pelo centro urbano. Anabela Laranjeira, da USB, interveio no arranque da iniciativa apelando aos jovens para que se organizem e lutem na defesa e conquista de direitos que permitam o acesso a uma vida digna e a um futuro melhor, palavras reiteradas pelo coordenador da estrutura sindical, Adão Mendes, que aproveitou ainda para expressar a gratidão dos presentes por todos os que tornaram possível o 25 de Abril.
Na diáspora portuguesa também se assinalou Abril, com destaque para o jantar dinamizado pela Associação dos Originários de Portugal, em Bezons, nos arredores de Paris, França. Cerca de 300 pessoas participaram numa iniciativa onde Dominique Lesparre e Nuno Cabeleira, presidente da Câmara de Bezons e vice-cônsul de Portugal em Paris, respectivamente, proferiram algumas palavras, e que Rosa Rabiais, do Comité Central do PCP, encerrou com fortes críticas à actual situação do País (que obriga milhares de portugueses a abandonarem o território nacional em busca de melhores condições de vida), ao PEC e exigindo uma política alternativa de esquerda.
A iniciativa foi ainda aproveitada para lançar uma petição à Assembleia da República na qual se exige a generalização da idade da reforma aos 60 anos em toda a UE, e o reconhecimento sem qualquer penalização por parte do Estado português das reformas oficialmente garantidas pelo regime francês aos nossos compatriotas com 60 anos.

Um Partido determinante

No conjunto das comemorações do 25 de Abril, assume particular relevo o papel dos comunistas e das suas organizações, não apenas pela presença e mobilização que assumem no contexto das comemorações unitárias, mas também porque se não fosse o PCP e os seus aliados e amigos, os festejos da revolução dos cravos não só não ocorreriam em muitas regiões e localidades do País, como não se revestiriam da necessária combatividade e actualidade. Em dezenas de autarquias, milhares de pessoas comemoraram Abril.
Na Madeira, por exemplo, a organização local do PCP voltou a promover um dia dedicado a Abril no qual participaram largas centenas de pessoas. Entre um debate e uma exposição, a festa fez-se na Rua da Carreira, no Funchal, encerrando com um discurso do dirigente comunista Edgar Silva que sublinhou as injustiças sociais agravadas pela catástrofe que atingiu a ilha a 20 de Fevereiro.
No Faial, Açores, um almoço comemorativo realizado domingo juntou dezenas de activistas, apoiantes e militantes da cidade da Horta. As intervenções ali proferidas evocaram o 25 de Abril, o seu significado, as suas conquistas e analisaram as graves situações que hoje se vivem nos planos económico, social e político, quer no País, quer na Região Autónoma.
Em Tortosendo, Covilhã, cerca de 300 pessoas participaram, dia 25, numa festa-convívio, número idêntico ao dos participantes no Jantar das Mulheres de Abril, organizado na noite de dia 21 pela Comissão de Freguesia de Santa Iria de Azóia, Loures, que contou com a presença do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa.
No Algarve, mais de 1200 militantes e amigos participaram no conjunto de acções organizadas pelas estruturas locais do PCP a propósito de Abril, retrato de muitos milhares de outras iniciativas realizadas em todo o País que ilustram o papel determinante do Partido na mobilização e luta por Abril.


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Memória, projecto e luta

Comemorar o 25 de Abril, 36 anos passados sobre o dia libertador em que o fascismo foi derrubado pelo Movimento das Forças Armadas, e o 1.º de Maio, cujo 120.º aniversário se vai celebrar no próximo sábado, tem, desta vez, um significado mais profundo e mais actual. Trata-se, de facto, não apenas do festejo de uma data que junta muitos milhares de portugueses unidos pela memória vivida ou pela memória transmitida por gerações, mas que os une num projecto e na luta pela concretização de aspirações populares, das mais justas e solidárias.

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