
- Nº 1899 (2010/04/22)
O Partido com Paredes de Vidro
Compreender quem somos e como lutamos
PCP
O PCP está a assinalar o 25.º aniversário da edição de O Partido com Paredes de Vidro, obra fundamental de Álvaro Cunhal que mantém, hoje, toda a actualidade.
Esta obra, escrita por Álvaro Cunhal e aprovada pela Comissão Política, e que conheceu a sua primeira edição em Agosto de 1985, constitui «uma das mais notáveis abordagens do partido comunista, na base da experiência portuguesa, dos comunistas e do seu projecto», como salientou, numa sessão em Almada no dia 15, Francisco Lopes, da Comissão Política e do Secretariado. Estão previstas outras sessões semelhantes em diversos pontos do País.
Apesar de ter sido escrito há 25 anos, e de Álvaro Cunhal ter reconhecido, no prefácio à 6.ª edição, de 2002, que se verificaram, entretanto, em Portugal e no mundo, «profundas transformações», o ensaio disponibiliza-nos, como afirmou Francisco Lopes, uma «experiência histórica, aponta-nos caminhos e transporta uma força de intervenção essencial para o presente e para o futuro». As reflexões e contributos relativos à organização, funcionamento e natureza do Partido, bem como à militância e moral dos seus militantes, são fundamentais para compreender como os comunistas portugueses concebem, explicam e desejam o seu Partido.
Entre as mais notáveis teorizações de Álvaro Cunhal, reflectindo a experiência histórica do PCP, estão o «colectivo partidário» e o «trabalho colectivo» - noções que, lembrou Francisco Lopes, nem o próprio Lénine adiantara nos seus escritos sobre o Partido Comunista. O trabalho colectivo, adiantou no texto Álvaro Cunhal, é uma «ideia-chave, um princípio básico e um valor intrínseco de toda a vida e actividade do Partido». Não só ao nível da direcção colectiva mas entendido como uma «prática corrente e universal em todos os escalões».
No livro fala-se também da democracia interna e do centralismo democrático, seus princípios e prática. Sobre a democracia interna, Álvaro Cunhal lembrava que esta «implica um elevado conceito acerca do ser humano, do seu valor presente e do seu valor potencial».
Concepções essenciais
Em O Partido com Paredes de Vidro, como salientou Francisco Lopes, fala-se também da «moral nova e superior» dos comunistas. Entendida não no sentido de que «cada pessoa por aderir ao Partido adquire ou tem uma moral nova e superior», mas na ideia e constatação de que os comunistas têm uma moral que lhes é própria.
Citando o prefácio de 2002, o dirigente do PCP realçou que «as condições de trabalho, de vida e de luta da classe operária e de todos os trabalhadores e a prática revolucionária do Partido geram e exigem o amor pelo povo, coesão, solidariedade, ajuda recíproca, abnegação, generosidade e outros importantes “elementos éticos”». Ao contrário, continuou a citação, «a exploração e a opressão do capitalismo traduzem-se, na moral da burguesia dominante, pelo egoísmo, o individualismo feroz, a rapacidade, o desprezo pelos outros, o predomínio das ambições pessoais, o abuso do poder, o arbítrio de decisão, a hipocrisia, a fraude e a corrupção». A actividade militante, que para o comunista é «entre todos os motivos, o mais exaltante motivo de vida», insere-se nesta moral.
Na obra, há ainda capítulos dedicados à disciplina e à unidade do Partido. A primeira, que «não tem nada a ver com a disciplina militar», é, antes, um «imperativo de acção e uma maneira natural de agir». Já a unidade resulta da «efectivação de todas as características fundamentais da sua identidade», nomeadamente a natureza de classe, a democracia interna, o trabalho colectivo, a firmeza ideológica, entre outros.
Francisco Lopes chamou ainda a atenção para o facto de o livro ter sido escrito em 1985, ou seja, antes das derrotas do socialismo e igualmente antes da perestroika, anunciada como processo de aperfeiçoamento do socialismo e que conduziu à sua derrota. Com este trabalho, Álvaro Cunhal definiu e fixou concepções e aspectos essenciais da teoria do Partido Comunista – que os próprios Estatutos aprovados no XII Congresso do PCP, em 1988, consagraram.