- Nº 1892 (2010/03/4)

PCP evocou João de Freitas Branco

PCP

Por iniciativa do Sector Intelectual da ORL realizou-se no passado dia 28 de Fevereiro uma sessão de homenagem a João de Freitas Branco. Com a Sala dos Espelhos do Palácio Foz cheia a transbordar, a figura do grande musicólogo e homem de cultura, a sua invulgar estatura intelectual e o seu empenhado compromisso democrático foram evocados em intervenções de José Casanova e de João Maria de Freitas Branco.
Na sua intervenção, o director do Avante! historiou alguns aspectos menos conhecidos da ligação de João de Freitas Branco ao PCP, ao qual aderiu em 1947, quando o Partido – na sequência do processo iniciado com a reorganização de 40/41 e que viria a culminar com a realização dos III e IV congressos, em 1943 e 1946 – se afirmara como o grande partido da resistência e da unidade antifascista, um partido no qual homens e mulheres de todas as áreas da cultura viram a força decisiva da luta contra o fascismo e a sua política obscurantista.
Sublinhou, depois, a relevante intervenção pedagógica de João de Freitas Branco - «um dos mais destacados intelectuais e homens de cultura do nosso século XX» - designadamente os seus programas na rádio e, mais tarde, na televisão, que constituíram notáveis acções de promoção cultural, de divulgação da música, dirigidas ao «homem-comum»,ao «homem-da-rua», levadas a cabo numa postura de transparente honestidade intelectual, de recusa do recurso a expedientes facilitistas para cativar o público para a cultura musical, numa atitude simultaneamente de grande exigência cultural e de profundo antielitismo.
Recordou, ainda, as habituais visitas de João de Freitas Branco, com o seu amigo Vasco Gonçalves, à Festa do Avante!.
João Maria de Freitas Branco começou por assinalar que, se a obra e o legado de João de Freitas Branco representam um enorme contributo para o desenvolvimento e a expansão da cultura musical no Portugal do século XX, essa obra e esse legado foram ao mesmo tempo cerceados e diminuídos não apenas pelas condições culturais, sociais e políticas do Portugal fascista, mas também por, depois de Abril e passado o período mais criador da Revolução, ter sido interrompido o amplo projecto de crescimento e democratização cultural com que João de Freitas Branco sonhara. Recordando a reforma do Teatro de Ópera iniciada em 1970, traçou um retrato vivo e detalhado do papel fundamental de João de Freitas Branco na ruptura - realizada quase sem meios - com a tradição conservadora e elitista longamente instalada e no combate pela modernidade, pela fruição crítica, pela valorização de uma cultura musical consciente do seu próprio tempo, pela exigente inserção da cultura no processo de crescimento da consciência e da intervenção social das massas populares, às quais João de Freitas Branco sempre esteve intelectual e afectivamente ligado.
Na sessão participaram também a soprano Ana Paula Russo e o pianista Francisco Sassetti, que interpretaram duas árias de Mozart.