
- Nº 1874 (2009/10/29)
Eleições no Uruguai dão maioria à Frente Ampla
José Mujica vence primeira volta das presidenciais
Internacional
O candidato presidencial da Frente Ampla, José Mujica, venceu este domingo, 25, a primeira volta das presidenciais no Uruguai, com 47,5 por cento dos votos.
De acordo com os resultados oficiais anunciados pelo Tribunal Nacional Eleitoral, Mujica obteve uma vantagem de quase 19 pontos sobre o seu principal adversário, Luis Lacalle, do Partido Nacional, de direita, que recolheu 28,5 por cento dos sufrágios.
Já o candidato do Partido Colorado, Pedro Bordaberry – filho do ditador Juan Bordaberry (1973-1976) – alcançou 16,66% dos votos, enquanto Pablo Mieres, do Partido Independente, se ficou pelos 2,43%.
A segunda volta das presidenciais terá lugar a 29 de Novembro, opondo Mujica a Lacalle, que já anunciou uma aliança com Bordaberry.
«Continuaremos lutando (...) Nunca ninguém nos ofereceu nada», disse Mujica no domingo à noite, confirmando que irá à segunda volta e aceitando que «a sociedade nos exige mais um esforço».
A afluência às urnas situou-se nos 89,86 por cento, o que faz prever uma segunda volta bastante renhida.
Com os resultados de domingo a Frente Ampla, no poder, conseguiu igualmente a maioria no Parlamento (de duas câmaras) uruguaio.
Ainda no domingo, em referendo, os uruguaios pronunciaram-se sobre a anulação da Lei da Caducidade da Pretensão Punitiva do Estado, a chamada «lei da amnistia»: o «sim» recolheu 47,36 por cento dos votos, insuficientes para a anulação da polémica lei. A proposta de reforma constitucional só poderia ser adoptada se reunisse 50 por cento dos votos.
A lei da «caducidade», adoptada em 1986 e ratificada em referendo em 1989, obriga os juízes a consultar o executivo para processar os membros das forças de segurança. Até à eleição do actual presidente, Tabaré Vazquez, a lei funcionou como uma amnistia de facto. A situação só se alterou com o governo da Frente Ampla, que autorizou a abertura de vários processos que levaram à condenação de dez antigos polícias e militares.
O último ditador uruguaio Gregorio Alvarez (1981-1985) foi condenado a 25 anos de prisão na passada quinta-feira.
Segundo Luis Puig, porta-voz da Coordenadora pela Nulidade da Lei da Caducidade, o resultado da consulta trava as tentativas de levar perante a justiça os polícias e militares que participaram em torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados de dissidentes políticos durante a ditadura (1973-1985). Puig garante no entanto que «a luta pela verdade e pela justiça não terminou».
Brasil e Uruguai estreitam cooperação
Entretanto, aprofunda-se a cooperação entre o Uruguai e o Brasil. No final da semana passada, os bancos centrais dos dois países subscreveram uma carta de intenções visando implantar um sistema de pagamentos em moeda local para o comércio bilateral – a exemplo do que já sucede entre brasileiros e argentinos desde Setembro de 2008 – para abandonar o dólar nas suas trocas comerciais.
O objectivo do convénio, informou o Banco Central do Brasil em comunicado, é oferecer aos exportadores e importadores de ambos os países uma alternativa que proporcionará uma redução de custos ao evitar uma terceira moeda; a medida coincide com uma significativa valorização do peso e do real face ao dólar.
O documento estabelece que as instituições signatárias «cooperarão para implementar o sistema no menor tempo possível, comprometendo-se a adoptar as modificações necessárias nos respectivos ordenamentos jurídicos» e que a sua utilização por parte dos agentes económicos será voluntária.
Entre Janeiro e Setembro últimos o intercâmbio comercial entre os dois países ascendeu a 1 878 milhões de dólares, com um saldo de 67 493 mil dólares a favor do Brasil, informou o Ministério do Comércio e Indústria brasileiro.
O Brasil advoga o alargamento do Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML) aos países do Mercosul (Mercado Comum do Sul), e a sua evolução para a adopção de uma moeda única.
Também outros países da região, como os que integram a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA), estão a fazer acordos para que as suas trocas comerciais se realizem com uma moeda não dependente do dólar: trata-se do Sistema Unificado de Compensação de Pagamentos Recíprocos (Sucre). Para o Sucre entrar em vigor os países membros devem fazer depósitos nas suas respectivas moedas locais no Banco da ALBA, que tem a sua sede em Caracas, Venzuela.
Recorde-se que, durante a VII Cimeira da ALBA, realizada a 16 de Outubro na cidade boliviana de Cochabamba, o presidente do Equador, Rafael Correa, se referiu ao problema de usar o dólar nas transacções comerciais, lembrando que os EUA ficam com parte da produção dos países que usam a sua moeda com base no que em termos económicos se chama «rendimento senhorial».
«Quem emite a moeda fica com parte da produção e ainda por cima ficamos dependentes de uma moeda extra-regional», enfatizou Correa.