
- Nº 1866 (2009/09/3)
O deslize
Opinião
Este comentário não pretende voltar à vaca fria do oportunismo «de esquerda» do PS, mas para, desta feita, mostrar como as franjas do partido de Sócrates também se esfarelam à direita. É o caso de Pina Moura, cuja viagem para esse lado começara já no interior do PCP, para depois seguir avidamente o convite de Guterres. Saltando daí, depois de uma curta mas para si proveitosa passagem pelo Governo, Pina Moura tornou-se, a exemplo de muitos seus colegas, um grande empresário, bom servidor de accionistas gordos, que já não jura sequer pela «esquerda». Sabe-se lá o que é a esquerda para alguma gente...
Hoje vem defender o «clarificador» programa eleitoral do PSD de Manuela Ferreira Leite, que parte «da assunção de que os recursos são escassos».
A «escassez dos recursos», que sempre diz muito bem com uma política antipopular de cortes nas «políticas sociais», aliada à «incomportável continuação do crescimento da despesa pública», que também quer dizer a mesma coisa, é apenas uma eufemística maneira de anunciar as preferências de Pina Moura por uma política de direita, «mais dura e mais focada». Quer dizer que não chega mentir ao eleitorado, como o faz Sócrates, prometendo mais esquerda. É preciso, no pensar do capital, passar a dar os nomes aos bois.
Para além de mostrar ingratidão – postura tão comum naqueles que passam a vida a servir-se e ignoram o que é servir os interesses públicos – Pina Moura parte em busca de novas simpatias, como a cheirar o vento e a perguntar-lhe para onde vai. Já lhe cheirou a derrota do «socrático» projecto que se baseou em promessas mentirosas para que a política de direita pudesse medrar. Nas contas dos portugueses, o balanço de quatro anos de governação «socialista» é de mais desemprego e precariedade, de menos justiça social, de menos saúde e de educação tão elitizada e cara que lhe não vale uma tonelada de «Magalhães» para dourar a pílula. Nas contas de Pina Moura, o balanço é positivo. Mas não chega. Desbravado o caminho por Sócrates, é tempo de aprofundá-lo à maneira de Ferreira Leite.
Não foi mais um deslize para a direita, o passo de Pina Moura, tão elogiado por marcelos e companhia. Foi um passo na direcção do chamado bloco central. Por enquanto. Paulo Portas, atento, espera a sua vez de ser elogiado.
Leandro Martins