
- Nº 1866 (2009/09/3)
Um certo populismo
Opinião
Talvez animado pelo facto do número «dos que gastam muito poucochinho na campanha eleitoral» ter rendido uns títulos de jornal a Paulo Portas (ainda que, para mim, fique sem explicação como é que com tão pouco dinheiro se sustenta tamanha rede de cartazes outdoor por todo o país), Francisco Louçã resolveu fazer uma incursão pelas questões do financiamento das campanhas eleitorais, comparando os seus orçamentos com, designadamente, os orçamentos da CDU.
Diz Louçã, no seu jeito de «professor do clube dos poetas mortos» que vai gastar um quinto dos valores que a CDU pretende gastar.
Tentámos perceber a que é que se referia o professor e verificámos que falava das eleições autárquicas.
Tal situação merece três comentários.
O primeiro a propósito das comparações que Louçã faz. Louçã usa o malabarismo de comparar os que é imcomparável. Desde logo porque a força de que é o rosto omnipresente, tem um registo de candidatura às eleições autárquicas que em nada se compara à CDU. Para que fique o registo, a CDU concorre à generalidade dos órgãos municipais e a mais de metade das freguesias do País. Já o BE não concorre a metade das Câmaras e Assembleias Municipais e vai a cerca de 15% das freguesias.
O segundo sobre a manobra pouco séria de tentar meter a CDU no mesmo saco do PS e PSD em matéria de financiamento dos partidos (curiosamente poupando o CDS/PP). É que Louçã sabe bem que só um partido se bateu, de forma firme e incansável, contra a actual lei do financiamento dos partidos, designadamente no que diz respeito ao escandaloso aumento das subvenções estatais, e esse partido foi o PCP. E sabe mais que se há partido que assenta as suas receitas em primeiro lugar nas quotizações e contribuições dos seus militantes, receitas próprias que representam mais de 90% do total, esse partido é o PCP.
A terceira para assinalar a opção de Louçã por um certo populismo que, repete-se, lá por ter rendido títulos de jornais a Portas, não é grande cartão de visita. É que, no que às Leis dos Partidos e do Financiamento dos Partidos diz respeito, e é dessas que estamos a falar, não se pode deixar de dizer que elas são instrumentos pensados para atingir o PCP, para penalizar o Partido que procura assentar as suas receitas na sua própria capacidade de recolha e para procurar impor, de forma antidemocrática, um determinado modelo de funcionamento ao PCP, que é o único diferente dos outros. E portanto, zurzir somente na importante questão dos limites da subvenção estatal, pode dar um título bonito, mas é pouco. Muito pouco.
Quanto ao mais, no fim se farão as contas sobre quem gastou o quê.
João Frazão