O programa eleitoral do Partido

Eixos centrais de uma nova política

Na apresentação do programa eleitoral do PCP, Jerónimo de Sousa avançou os aspectos gerais do documento. Nestas páginas, realçamos os eixos e propostas fundamentais do programa, adiantadas pelo Secretário-geral do Partido, e publicamos as 26 medidas urgentes apresentadas, destinadas a «superar e ultrapassar problemas criados com uma inaceitável ofensiva do actual Governo do PS contra direitos essenciais dos trabalhadores e do povo».
O desenvolvimento económico, a criação de emprego, a redistribuição do rendimento e a justiça social, o aprofundamento da democracia e a afirmação da independência e soberania nacionais. São estes os principais objectivos do PCP para o País, patentes no «Programa de Ruptura, Patriótico e de Esquerda» apresentado anteontem em Lisboa.
São eixos centrais do Programa a valorização do trabalho e dos trabalhadores; a defesa dos sectores produtivos e da produção nacional, nomeadamente a agricultura, pescas e indústria nacionais; um papel determinante do Estado nos sectores estratégicos, designadamente na banca e nos seguros, na energia, nas telecomunicações e nos transportes; uma administração e serviços públicos ao serviço do País e das populações, nomeadamente na saúde, na educação, na segurança social; a democratização e promoção do acesso à cultura e à defesa do património cultural; a defesa do meio ambiente, do ordenamento do território e a promoção de um efectivo desenvolvimento regional, assente no aproveitamento racional dos recursos, numa criteriosa política de investimento público; a defesa do regime democrático de Abril e o cumprimento da Constituição da República, com o aprofundamento dos direitos, liberdades e garantias fundamentais e o reforço da intervenção dos cidadãos na vida política; a efectiva subordinação do poder económico ao poder político, o combate e punição da corrupção, crime económico e tráfico de influências, o fim dos privilégios no exercício de altos cargos na Administração; a afirmação de um Portugal livre e soberano e uma Europa de paz e cooperação, com uma nova política que assegure a defesa intransigente dos interesses nacionais e uma política externa baseada na diversificação das relações com outros países.

Desenvolvimento económico

A política de desenvolvimento económico que o PCP propõe tem subjacentes a realização de três objectivos centrais: o pleno emprego, como objectivo primeiro das políticas económicas; o crescimento económico sustentado e acima da média da União Europeia e a defesa e afirmação do aparelho produtivo nacional como motor do crescimento económico.
Para que tal seja possível, é necessária uma decisiva intervenção do Estado na efectiva regulação da actividade económica e na concretização de políticas que prossigam opções estratégicas nacionais e a valorização do trabalho e dos trabalhadores, questão nuclear de uma política alternativa.
A nova política que o PCP propõe pressupõe garantir a concretização e o desenvolvimento de um conjunto de vectores estratégicos que têm na recuperação pelo Estado do comando político e democrático do processo de desenvolvimento a primeira grande linha de orientação visando a afirmação da soberania, a subordinação do poder económico ao poder político e o planeamento democrático.
Neste quadro, a afirmação da propriedade social e do papel do Estado em sectores estratégicos e a concretização de um sector empresarial do Estado forte e dinâmico e com um papel produtivo e não meramente regulador, é condição chave para a manutenção em mãos nacionais de alavancas económicas decisivas para a promoção do desenvolvimento.
A efectiva afirmação de uma economia mista, não dominada pelos monopólios, onde a par com a presença maioritária do sector público nos sectores estratégicos, assegure o apoio ao sector cooperativo e social e a promoção de um apoio prioritário e preferencial a micro, pequenas e médias empresas.
O desenvolvimento dos sectores produtivos e o combate à financeirização da economia como outro vector essencial, através da valorização e desenvolvimento da produção nacional, o crescimento da produtividade e competitividade do tecido produtivo.
O sucesso da nova política que se propõe exige medidas de dinamização e defesa do mercado interno, nomeadamente através do crescimento do rendimento disponível das famílias, o desenvolvimento da despesa pública.
Mas também como outro dos vectores essenciais o combate decidido à dependência externa e superação dos principais défices estruturais o que impõe, para além do apoio às micro, pequenas e médias empresas, adequadas políticas de investimento, ensino, formação profissional, Investigação e Desenvolvimento (I&D) e a reorientação do investimento estrangeiro.

Um País independente e auto-sustentado

O desenvolvimento independente e auto-sustentado do País é realizado, segundo o programa, através de seis políticas-chave. Entre estas, inclui-se uma política de consolidação das finanças públicas centrada num crescimento económico a ritmos elevados que promova o desenvolvimento, o emprego e potencie as receitas fiscais, mas também no combate ao desperdício e à despesa supérflua e complementada com uma justa política fiscal.
Quanto à política fiscal, os objectivos são aliviar a carga sobre as classes laboriosas e pequenas empresas, promover o aumento das receitas e a eficiência do sistema fiscal, através do alargamento da base e do aumento da fiscalização tributárias, da significativa redução dos benefícios fiscais, designadamente no sector financeiro, da diminuição do IVA, do combate à evasão e fraude fiscais e da imposição fiscal sobre o património mobiliário e ganhos bolsistas.
A dinamização do investimento, nomeadamente do investimento público, e a melhoria da eficácia e eficiência na utilização dos fundos comunitários, reorientados e suportados por políticas de crédito e orçamentais que favoreçam, particularmente, o investimento produtivo e a produção de bens transaccionáveis, é outra da linhas propostas.
Assegurar um sector financeiro ao serviço do crescimento económico e do desenvolvimento social, assente no sector da banca comercial e seguros nacionalizados e um sector energético orientado para o pleno aproveitamento dos recursos nacionais e para a eficiência são outras duas políticas defendidas pelo PCP.
Quanto ao sector de transportes e comunicações, a ideia é assegurar a boa mobilidade dos portugueses e a competitividade do transporte de mercadorias, na base de um sistema de transportes constituído por empresas públicas, única forma de garantir a efectiva prioridade ao serviço público e o apoio à actividade produtiva. Defende-se ainda uma adequada política de ambiente, ordenamento do território e de desenvolvimento regional que combata a mercantilização do sector, nomeadamente dos recursos hídricos, e assuma a integração de políticas sectoriais indispensáveis a um desenvolvimento sustentado e a uma coesão territorial.

Valorizar o trabalho e os trabalhadores

Uma política de valorização do trabalho e dos trabalhadores é um dos eixos essenciais de uma política alternativa proposta no programa eleitoral do Partido. Na sua concretização, exige-se a adopção de linhas de orientação em que se assegure uma justa distribuição do rendimento, assente na valorização dos salários, no pleno emprego, na defesa do trabalho com direitos.
Assim, a criação de postos de trabalho e o combate aos despedimentos devem ser uma prioridade imediata da acção governativa, tal como o combate à elevada precariedade do emprego.
No âmbito da valorização do trabalho é preciso dar outro revelo à grande batalha pela alteração da injusta distribuição do rendimento nacional. A valorização dos salários e do seu poder de compra e o aumento do salário mínimo nacional (para pelo menos 500 euros até 2011 e 600 euros até 2013) constitui também um objectivo programático essencial e elemento central também no combate à pobreza.

Igualdade, dignidade e bem-estar

Defender e reforçar o Serviço Nacional de Saúde é uma exigência essencial do PCP. Para tal, há que pôr fim ao objectivo de o debilitar para privatizar uma parte significativa da prestação dos cuidados de saúde, colocando como prioridade o integral aproveitamento dos recursos e meios existentes e a resposta efectiva à falta de médicos de família, enfermeiros e outros profissionais.
Promover uma verdadeira reforma dos Cuidados Primários de Saúde que aproxime os serviços dos utentes e uma política do medicamento ao serviço dos portugueses visando a redução dos seus custos. Fortalecer o sistema público e universal de Segurança Social, na base de um novo sistema de financiamento que garanta a elevação das pensões e reformas mais degradadas e das prestações de protecção social, é outras das linhas fundamentais. Entre outros aspectos, o PCP considera partes constituintes de uma nova política para a Segurança Social a defesa do direito à reforma e a uma pensão digna garantindo um aumento real das pensões e reformas para o sector público e privado; o reforço da protecção social das crianças e jovens e uma adequada política de combate à pobreza por via do aumento de transferências do Orçamento do Estado.
A defesa da Escola Pública, gratuita e de qualidade para todos é outro dos compromissos dos comunistas. A gratuitidade de todo o ensino exige, para além de um forte investimento numa Escola Pública de qualidade, o incremento do apoio social escolar, a expansão do sistema público de educação pré-escolar, garantindo a frequência universal, gratuita e obrigatória no ano que anteceda o ingresso das crianças no Ensino Básico, bem como as condições para a universalidade da frequência a partir dos três anos.
No plano do Ensino Superior, impõe-se uma verdadeira reforma que pressupõe, nomeadamente: a saída do sistema de Ensino Superior português do «processo de Bolonha»; uma nova Lei de Financiamento com novas regras, mais justas, excluindo o auto-financiamento pela via de propinas; a revogação do Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior Público, bem como a eliminação de restrições quantitativas de carácter global no acesso ao Ensino Superior (numerus clausus).
A revitalização, fortalecimento e expansão do Sistema Científico e Técnico Nacional é outra das áreas de intervenção em que se impõe agir, definindo uma política de Ciência & Tecnologia que tenha em conta as necessidades e especificidades da economia nacional, nomeadamente a revisão da rede actual de laboratórios públicos e das respectivas missões.

Liberdade e democracia

A defesa da democracia e da liberdade é outro eixo essencial da política alternativa que o PCP propõe. Desde logo inseparável da democraticidade e da proporcionalidade dos sistemas eleitorais e de uma melhor participação dos cidadãos, em condições de igualdade.
Assim, importa prosseguir a luta contra os projectos de revisão das leis eleitorais que visam o favorecimento da bipolarização e da diminuição da pluralidade e os projectos que pretendem concretizar novas e mais profundas mutilações e desvirtuamentos da Constituição da República.
A criação e instituição das Regiões Administrativas e o respeito pela autonomia do poder local são também peças essenciais de uma estratégia de desenvolvimento solidário e integrado do País.
A luta pela garantia da liberdade de imprensa implica, no quadro actual, a adoptação de legislação anticoncentração; a garantia de medidas de respeito pelo pluralismo e isenção dos meios de comunicação social e a defesa dos serviços públicos de rádio e de televisão.
Na prossecução do objectivo de uma efectiva política de igualdade, importa prosseguir e reforçar medidas e orientações que assegurem os direitos das mulheres e a sua participação e intervenção na vida política social e cultural, bem como dos direitos dos imigrantes, com uma lei da imigração num sentido mais favorável à legalização e a garantia de acesso ao trabalho em condições de igualdade.
Essencial é também a adopção de uma nova política para área da justiça. A preservação e defesa do poder judicial soberano face aos poderes político e económico, a defesa de uma justiça mais igualitária, bem como um apoio judicial efectivo (responsabilidade do Estado) são alguns dos seus eixos centrais.
Para o combate eficaz à corrupção e ao crime económico exige-se, antes de tudo, uma real vontade política, mais prevenção e meios eficazes na investigação, mas também a criminalização do enriquecimento ilícito no exercício de cargos públicos e o combate sem equívocos aos off-shores e ao sigilo bancário.
No domínio da Segurança interna, é necessário inverter a progressiva alienação de responsabilidades na área da segurança das populações, dando firme combate à privatização da segurança. A segurança e tranquilidade dos cidadãos exige uma forte aposta na prevenção e no policiamento de proximidade.
Uma política de Defesa Nacional ao serviço da soberania exige a definição e consagração de um novo conceito estratégico de defesa nacional que rejeite a visão subserviente e instrumental relativamente à NATO e à União Europeia.

Um mundo de paz

O último grande eixo estratégico do programa prende-se com a concretização de uma política de paz, cooperação e amizade. Assim, o PCP afirma que se continuará a bater por um novo rumo para a União Europeia, com base em Estados soberanos e iguais em direitos, assumindo a independência e soberania nacionais como valores inalienáveis.
Prioritária é a luta pelo abandono definitivo do Tratado de Lisboa, passo imediato da luta por uma outra Europa dos trabalhadores e dos povos. Outra política económica exige a reconsideração do enquadramento comunitário da economia portuguesa e uma Europa de cooperação entre Estados soberanos e iguais em direitos. E exige também a renúncia à neoliberal Estratégia de Lisboa e outros instrumentos de política económica e uma política orçamental comunitária virada para o investimento, o crescimento e o emprego e políticas orçamentais de cada Estado nacional sem os constrangimentos da União Económica e Monetária/Pacto de Estabilidade.
Exige o estabelecimento de uma Estratégia para a Solidariedade e o Desenvolvimento visando a convergência real das economias e a coesão económica e social.

26 medidas urgentes

1. Alargamento dos critérios de acesso e prolongamento do período de atribuição do subsídio de desemprego;
2. . Aumento do Salário Mínimo Nacional (SMN) para pelo menos 600 euros até 2013;
3. . Alteração dos aspectos negativos do Código do Trabalho (designadamente o restabelecimento do efectivo direito à contratação colectiva) e da legislação laboral da Administração Pública;
4. . A fiscalização rigorosa do recurso ao lay-off combatendo a violação dos direitos dos trabalhadores e a redução dos salários;
5. . Adopção de um Programa Nacional de combate à precariedade e ao trabalho clandestino;
6. . Reposição do vínculo de nomeação público e alteração do Sistema de Avaliação e Desempenho dos trabalhadores da Administração Pública;
7. Revogação do Estatuto da Carreira Docente e alteração do modelo de avaliação;
8. Aumento real das pensões e reformas, revogação das normas penalizadoras do seu valor (factor de sustentabilidade e fórmula de actualização anual) e diversificação do financiamento da segurança social com base na riqueza criada;
9. Salvaguarda do direito à reforma aos 65 anos e possibilidade da sua antecipação sem penalizações para carreiras contributivas de 40 anos;
10. Distribuição gratuita dos manuais escolares para todo o ensino obrigatório, já a partir do próximo ano lectivo;
11. Revogação da Lei do Financiamento do Ensino Superior;
12. Programa para garantir o acesso à consulta no próprio dia nos Cuidados Primários de Saúde, incluindo medidas especiais para a formação e contratação de médicos de medicina geral e familiar;
13. Alargamento dos critérios de atribuição do apoio judiciário e gratuitidade do acesso dos trabalhadores à justiça laboral;
14. Reforço dos efectivos e meios para um policiamento de proximidade e uma política de segurança com mais prevenção;
15. Redução da factura de energia – electricidade, gás e combustíveis – para famílias e empresas;
16. Garantia de um rendimento mínimo nas explorações agrícolas familiares e unidades de pesca artesanal, pela criação de adequado seguro às suas actividades;
17. Eliminação do pagamento especial por conta (PEC) para as micro e pequenas empresas e redução dos prazos de reembolso do IVA;
18. Taxação de todas as mais-valias bolsistas e criação do imposto sobre o património mobiliário (acções, obrigações, etc.);
19. Imposição de uma taxa mínima efectiva de IRC de 20 por cento ao sector financeiro, banca e seguros;
20. Criar o Laboratório Nacional do Medicamento e incrementar a produção nacional;
21. Garantir a produção nacional de material ferroviário (em particular material circulante), nomeadamente com a mobilização de incentivos em torno de investimento em curso na ferrovia;
22. Estabelecimento de valores referência das taxas de juro, margens (spreads) e comissões da Caixa Geral de Depósitos para um funcionamento adequado do mercado de crédito;
23. Pagamento a 100 por cento da remuneração nas licenças de maternidade, paternidade e adopção para os trabalhadores da Administração Pública e sector privado e atribuição de um subsidio de nascimento ou adopção nos primeiros doze meses;
24. Profunda revisão das políticas económica e monetária da UE com substituição do Pacto de Estabilidade e Crescimento por um Pacto para o Progresso Social e para o Emprego;
25. Aumento da dedução específica aos rendimentos do trabalho dependente de 72 para 80 por cento do salário mínimo nacional;
26. Revogação do actual Regulamento Disciplinar Militar.


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