- Nº 1860 (2009/07/23)
Hondurenhos não desmobilizam

Frente Contra o Golpe rejeita acordo

Internacional
Enquanto o Conselho Permanente da Organização de Estados Americanos protela o prazo para que os golpistas abandonem o poder nas Honduras, a Frente Nacional Contra o Golpe rejeita o acordo promovido pelo presidente da Costa Rica e exige a recondução de Manuel Zelaya.

De Washington, sede da OEA, chegaram, segunda-feira, novos apelos para que Zelaya e as forças políticas que o apoiam aguardem outras 72 horas. Para o secretário-geral da Organização, José Miguel Insulza, e para alguns membros daquele fórum, ainda se deve esperar uma resposta dos golpistas ao acordo mediado pelo presidente costarricense, Oscar Arias, o qual não vai além de garantias mínimas a Zelaya, mas, ainda assim, é considerado por Insulza como «um processo extraordinariamente equilibrado».
Em desacordo com esta posição, a Frente Nacional Contra o Golpe nas Honduras (FNCG) insiste em confiar na resistência popular que há quase um mês mantém protestos ininterruptos, mesmo face à repressão, às detenções, à perseguição de dirigentes, ao terrorismo e à ditadura mediática instaurada pelos golpistas, acontecimentos, sublinhe-se, ocultados pelos grandes centros de comunicação e difusão de informação mundiais que, neste caso, preferem dar destaque às negociações e à diplomacia em vez de mostrarem a força das massas trabalhadoras nas ruas do país centro-americano.

O povo é quem mais ordena

A estrutura integrada por vários partidos políticos e sociais hondurenhos considerou, em comunicado datado de 19 de Julho, que a «posição intransigente da comissão nomeada pelos golpistas torna impossível uma solução com êxito da mediação realizada em San José da Costa Rica».
A FNCG está de acordo com o primeiro ponto da proposta apresentada por Arias, isto é, a restituição imediata de Manuel Zelaya na presidência da República das Honduras, mas recusa o resto dos pontos da referida proposta porque, explica, «possibilita a inclusão [no governo] de pessoas relacionadas com o golpe de Estado e, portanto, que cometeram delitos de lesa humanidade», o que, continuam, «significa a negação do direito cidadão a uma democracia participativa».
No texto, disponível em resistir.info, a Frente Nacional Contra o Golpe lembra ainda que o acordo «promove a impunidade para aqueles que planearam, executaram e apoiam o Golpe de Estado», adverte para a transigência com a «possibilidade de perpetrar uma fraude eleitoral da qual já se têm claros indícios», e «desconhece a nossa posição de rever o papel constitucional das forças armadas e o seu envolvimento no golpe de Estado».
No documento, as forças progressistas e de esquerda hondurenhas estranham igualmente «a atitude de desconhecimento tácito de violação de direitos humanos de que vem sendo objecto a população por parte do governo de facto e dos seus aparelhos repressores, do qual é exemplo: 4 assassinatos, 1158 detenções ilegais, busca e perseguição de representantes do movimento social; 14 meios de comunicação, 14 jornalistas e 4 organizações sociais sofreram atentados à liberdade de expressão; foram violentados os direitos individuais e fundamentais da vida do cidadão e cidadã contemplados na Constituição da República».
A FNCG denuncia ainda a regressão que o país sofreu em matéria de direitos humanos, a «militarização de instituições públicas e a colocação em acção de membros de esquadrões da morte», ao que se soma «a acção em conluio do Ministério Publico, dos julgados e dos tribunais da República com o governo de facto», por isso mantém-se determinada em «alcançar processos políticos que permitam a participação democrática através da instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte» e continuam «firmes na luta, até conseguir a recuperação da ordem institucional».

Greve Geral

Entretanto, numa entrevista concedida ao diário chileno La Nación, citada pela Telesurtv, Manuel Zelaya garantia que ia entrar clandestinamente em território nacional, onde contava estar já ontem.
O mandatário pretende estabelecer nas Honduras uma base operacional para coordenar uma greve geral com o objectivo de derrubar definitivamente os golpistas.