- Nº 1854 (2009/06/12)
Conservadores capitalizam descontentamento

Povos penalizam políticas anti-sociais

Europa
A vitória dos partidos de direita na Alemanha, França, Inglaterra, Itália e Espanha, países que elegem o grosso dos deputados, garantiu o reforço de posições ao Partido Popular Europeu. Todavia, o voto de protesto contra as políticas de direita marcou o escrutínio na generalidade dos países.

Na Alemanha, a União Democrata-Cristã (CDU) venceu com 30,7 por cento dos votos, elegendo 34 deputados. Apesar da vitória, o partido da chanceler Angela Merkel foi penalizado, perdendo seis deputados e quase seis pontos percentuais Os seus parceiros cristãos-sociais (CSU) também baixaram de votação e perderam um deputado (de 8% para 7,2% e oito deputados). Os sociais-democratas, que participam no governo com a direita, não só não recuperam em relação ao desastre eleitoral de 2004, como desceram ligeiramente (de 21,5 para 20,8%), mantendo os 23 deputados de há cinco anos.
Os Verdes sobem ligeiramente (de 11,9 para 12,1%) e elegem mais um deputado num total de 14. A maior subida beneficiou os liberais do FPD que quase duplicaram a votação (de 6,1 para 11%) elegendo mais cinco deputados, num total de 12. Igualmente a subir esteve o Die Linke (esquerda) que passou de 6,1 para 7,5 por cento, elegendo oito deputados, mais um que em 2004.

Na França, o partido de Sarkozy (UMP) destacou-se nesta eleição (27,8% e 29 deputados) devido sobretudo à derrocada dos socialistas (16.48% e 14 deputados). Nas eleições anteriores, o cenário político era dominado pelos socialistas que elegeram 31 deputados (28,8%), enquanto a UMP (16,64%) apenas conquistara 17 lugares. No entanto, o resultado obtido está muito aquém da votação obtida por Sarkozy nas presidenciais. Praticamente empatados com os socialistas, os verdes da «Europa Ecologia» quase duplicam a votação (de 7,69% e seis deputados para 16,28% e 14 deputados). Segue-se o novo partido MoDem, de François Bayrou, com 8,4 por cento e seis deputados, a extrema-direita da Frente Nacional (FN) que baixa de 9,81 por cento e sete deputados em 2004 para 6,3 por cento e apenas três deputados.
Resultado assinalável foi obtido pela Frente de Esquerda (FG), constituída por um conjunto de formações em torno do PCF. Em comparação com os resultados obtidos pelos comunistas em 2004 (5,25% e dois deputados), a FG logrou seis por cento e quatro deputados. Por último, os nacionalistas Libertas/MPF-CPNT elegeram um deputado com 4,6 por centos dos votos, contra 8,84 por cento e três lugares conquistados em 2004.

Na Grã-Bretanha, os trabalhistas no governo registaram o mais baixo resultado em toda a sua história. Embora já tivessem perdido as europeias de 2004 para os conservadores, altura em que estes elegeram 27 deputados (26,7%) contra 19 dos trabalhistas (22,6%), agora a derrocada foi maior, relegando o partido de Gordon Brown para terceira força política, com apenas 15,7 por cento e 13 deputados. Os conservadores recolheram 27,7 por cento dos votos e 25 deputados. Em segundo lugar afirmaram-se os soberanistas do UKIP com 16,09 por cento e 13 deputados (18,1% e 12 deputados em 2004). Os liberais democratas (LD) surgem em quarto lugar (13,46% e 11 deputados (14,9% e 12 deputados em 2004), seguindo-se os Verdes (8,38% e dois deputados) e a extrema-direita, sem expressão nas anteriores eleições, com 6,04 por cento e dois deputados. Os nacionalistas escoceses (SNP) obtiveram 2,05 por cento, mantendo os dois deputados que já tinham, o Plaid (Partido do País de Gales) elege um deputado (0,78%). No círculo da Irlanda, o Sinn Féin vence a contagem com 26,04 por cento e um deputado, resultado idêntico ao de há quatro anos em que foi segunda força, seguindo-se o DUP com 18,23 e um deputado e o UUP, 17,11% e um deputado. O Sinn Féin estará assim representado no próximo parlamento com dois deputados um pelo Reino Unido e outro pela Irlanda (ver abaixo).

Na Itália, o partido de Berlusconi (PdL) voltou a vencer com 35,25 por cento dos votos e 29 deputados, muito aquém dos 40 por cento pretendidos pelo Il Cavaliere. Seguem-se o Partido Democrata (PD) com 26,14 por cento e 22 deputados ( a coligação Oliveira obteve 31,1% e 25 deputados em 2004), a Liga do Norte com 10,22 por cento e nove deputados (5% e quatro deputados em 2004), a Lista do juiz Di Pietro (7,99% e sete deputados) e os democratas-cristãos (UDC) com 6,5 por cento, mantendo os cinco deputados. Concorrendo coligados, o Partido da Refundação Comunista e o Partido dos Comunistas Italianos recolheram 3,37 por cento dos votos, não conseguindo eleger nenhum dos sete deputados eleitos em 2004: cinco do PRC, com 6,1%, e dois do PcCI, com 2,4% dos votos.

Em Espanha, os dois maiores partidos invertem posições, com a direita (PP) a vencer o escrutínio com 42,23 por cento e 23 lugares, contra os 38,51 por cento e 21 lugares dos socialistas de Zapatero (PSOE). Em 2004, o PSOE tinha ganho com 43,5 por cento e 25 deputados, ficando-se o PP pelos 41,2 por cento e 24 deputados. Seguiu-se a Coligação pela Europa, que junta os partidos nacionalistas da Catalunha, País Basco, Canárias e outros, com 5,12 por cento e dois deputados. A Esquerda Unida/Verdes surge em quarto lugar com 3,73 por cento e dois deputados, descendo ligeiramente em votação (4,1% em 2004). Segue-se a recém criada União Progresso e Democracia (UpyD) que obtém 2,87 por cento e um deputado e a coligação Europa dos Povos (EdP-V) com 2,5 por cento e um deputado. A Iniciativa Internacionalista (II-SP) recolheu quase 176 mil votos (1,12% do total nacional), dos quais mais de 138 mil no País Basco (14,86% do total regional), mas não foi suficiente para eleger o dramaturgo comunista Alfonso Sastre.

Na Áustria, os conservadores do OVP lideraram o escrutínio devido à descida do Partido Social-Democrata (SPO), que perdeu quase dez pontos percentuais e dois deputados em relação a 2004, registando 23,8 por cento e cinco eleitos. Apesar de ter vencido, o OPV também baixou de votação (29,7% e seis eleitos contra 32,7% em 2004). Segue-se a lista de «Dr. Martin», que progride de 14 por cento e dois eleitos para 17,9 por cento e três deputados. A extrema-direita do FPO regista a maior subida passando de 6,3% e um deputado em 2004 para 13,1 por cento e dois eleitos. Os verdes perdem um deputado e descem de 12,9 para 9,5 por cento.

Na Bélgica, os democratas-cristãos (CD&V) foram os mais votados na Flandres (23,54% e três deputados, menos um que em 2004), seguidos dos liberais (20,02% e três lugares) e da extrema-direita, Vlams Belang (15,62% e dois lugares, menos um que em 2004). Já na Valónia, os socialistas lideraram com 30,5 por cento e três deputados (menos um que em 2004), à frente dos reformadores (MR) com 24,78 por cento e dois lugares (menos um que em 2004). Os dois partidos ecologistas elegem três deputados, dois na Valónia e um na Flandres.

Na Bulgária, a direita (GERB) venceu com 24,48 por cento e cinco deputados, repetindo o resultado de 2004 e ultrapassando os socialistas (BSP) do primeiro-ministro Serguei Stanichev, que perderam um dos cinco deputados, baixando de 21,41 para 18,59 por cento. O DPS, da minoria turca, surge na terceira posição com 14,21 por cento e três deputados (20,26% e quatro eleitos em 2004), seguem-se os nacionalistas Ataka, que descem de 14,2 e três deputados para 12,01 e dois deputados, e o NDSV do ex-monarca Simeão que sobe de 6,25 por cento e um eleito para oito por cento e mais um representante.

Na República Checa, os democratas cívicos (ODS) do antigo primeiro-ministro Mirek Topolanek venceram o sufrágio com 31,45 por cento e nove deputados (30% e nove deputados em 2004), seguidos dos sociais-democratas (CSSD) com 22,38 por cento e sete deputados (clara recuperação face aos resultados de 2004: 8,8% e dois deputados). O Partido Comunista (KSCM) é a terceira força com 14,18 por cento e quatro deputados (em 2004 foi a segunda força com 20,3% e seis deputados). Os democratas-cristãos recolheram 7,64 por cento e dois deputados.

No Chipre, a oposição conservadora (DISY) venceu o escrutínio com 35,65 por cento dos votos e dois deputados (28,2% em 2004), praticamente igualados pelo AKEL, partido maioritário na Ilha que recolheu 34,9 por cento dos votos e dois deputados, subindo sensivelmente em relação à votação de 2004 (27,9%). O DIKO (Partido Democrático) e os socialistas do EDEK, parceiros do AKEL na coligação governativa, obtiveram um deputado cada com 12,28 por cento (17,1% em 2004) e 9,85 por cento, respectivamente.

Na Dinamarca, os sociais-democratas surgem à frente com 20,9 por cento e quatro lugares (32,6% e cinco lugares em 2004), seguidos de perto pelos liberais, no poder, com 19,6 por cento e três lugares (resultado semelhante ao de 2004). O Partido Socialista do Povo (SF) sobe de 7,9 por cento e um deputado para 15,4 por cento e dois deputados, subida que também regista a extrema-direita do DF (Partido do Povo Dinamarquês) de 6,8 para 14,8 por cento e dois deputados. O KF, outro partido conservador, mantém o seu deputado com 12,3 por cento e, por fim, o movimento popular anti-UE (Fol) sobe de 5,2 por cento para sete por cento, mantendo o seu deputado.

Na Eslováquia, os socialistas do SMER do primeiro-ministro Robert Fico ganharam com 32,02 por cento e cinco deputados, quase duplicando a votação de 2004 (16,89 e cinco eleitos). O principal partido da oposição, democrata-cristão (SDKU-DS), ficou-se pelos 16,99 por cento e dois eleitos. A extrema-direita (SNS) obtém pela primeira vez 5,56 por cento e um deputado.

Na Eslovénia, o centro direita (SDS), na oposição, ganhou as eleições com 26,92 por cento e dois lugares, derrotando os sociais-democratas (SD) do primeiro-ministro Borut Pahor, que recolheram 18,45 por cento e também dois deputados. O centro-direita da Nova Eslovénia (Nsi) atingiu 16,33 por cento e um deputado, os liberais do LDS (11,52%) elegerem um representante, o mesmo acontecendo com o Zares (liberal) que recolheu 9,82 por cento dos votos.

Na Estónia, os sociais-democratas (SDE), até há pouco no poder, sofreram uma pesada derrota passando de 36,8 por cento e três deputados para 8,7 por cento e um deputado. Os liberais do Partido do Centro (KE), na oposição, afirmam-se como o partido mais votado (26,07%) e elegem dois deputados, seguidos de perto pela candidatura independente de Indrek Tarand (25,81%) que é eleito. Os restantes dois deputados foram conquistados pelo Partido da Reforma e pela IRL (direita).

Na Finlândia, os partidos maioritários de centro-direita, KOK e KESK, no governo, recuaram claramente. O primeiro perdeu um dos quatro deputados que elegeu em 2004, mantendo-se como primeira força (23,2%), tal como o segundo (a formação do primeiro-ministro), que sofre uma queda mais acentuada de 23,4 para 19 por cento. Os sociais-democratas também descem de 21,2 para 17,5 por cento, perdendo igualmente um dos três deputados. Os populistas do «Verdadeiros Finlandeses» liderados por Timo Soini em aliança com os cristãos-democratas (PS/KD), sobem de 0,5 para 14 por cento elegendo dois deputados. Também os verdes progridem de 10,4 por cento e um deputados para 12,4 por cento e dois lugares.

Na Grécia, os conservadores da Nova Democracia (ND), no poder, foram derrotados pelos socialistas do PASOK que recolheram 36,66 por cento e oito deputados (34% e oito deputados em 2004) contra 32,29 por cento e igualmente oito deputados obtidos pela ND (43% e 11 deputados em 2004). Os comunistas gregos (KKE) registaram 8,35 por cento e dois deputados (9,5 % e três deputados em 2004) e a coligação de esquerda (Syriza) 4,7 por cento e um deputado (4,2 por cento e um deputado em 2004). A extrema-direita sobe sensivelmente de 4,1 por cento para 7,15 por cento, elegendo dois deputados, mais um que nas eleições anteriores, enquanto os ecologistas (OP) conseguem eleger pela primeira vez um deputado com 3,49 por cento.

Na Holanda, os cristãos-democratas foram os mais votados com 19,9 por cento e cinco deputados (24,4% e sete deputados em 2004), seguidos pelo Partido da Liberdade (PVV), liderado pelo deputado de extrema-direita Geert Wilders, que recolheu 17 por cento e quatro deputados. Os sociais-democratas, que participam no governo, são os mais penalizados, registando 17 por cento e quatro deputados, contra 23,6 por cento e sete deputados eleitos em 2004. Os liberais perdem um deputado (11,4% e três eleitos), enquanto os democratas (D66) e os Verdes elegem mais um num total de três cada. O Partido Socialista (SP) mantém a votação (7,1%) e os seus dois deputados.

Na Hungria, a direita do (FIDESZ-KDNP) vence com 56,37 por cento e elege 14 deputados (47,4% e 12 deputados em 2004). Os socialistas (MSZP) no governo são penalizados, baixando de 34,3 por cento e nove deputados para 17,38 por cento e quatro deputados. A extrema-direita (JOBBIK) consegue pela primeira vez eleger três deputados (14,77%), enquanto o Fórum Democrático (conservadores) repete a votação de 2004 (5,3% e um deputado). O Partido Comunista dos Trabalhadores (Munkáspárt) recolheu 0,96 por cento dos votos.

Na Irlanda, a oposição democrata-cristã, Fine Gael, derrotou os liberais-conservadores, Fianna Fail, no poder, obtendo 29,13 por cento e quatro deputados, contra 24,08 por cento e três deputados conquistados pelo partido do primeiro-ministro Brian Cowen. Os trabalhistas também subiram de 10,6 por cento para 13,92 elegendo dois deputados (mais um que em 2004). Por seu turno o Sinn Féin manteve praticamente inalterada a sua votação com 11,24 por cento e um deputado. Com uma percentagem semelhante uma candidatura independente logrou eleger dois deputados.

Na Letónia, os conservadores da União Cívica, um dos cinco partidos que integram a coligação governativa, obtiveram 24,32 por cento e dois deputados. O Centro Harmonia (SC) que representa a minoria russa, foi a segunda força, com 19,54 por cento e dois deputados, seguindo-se a formação Pelos Direitos Humanos (PCTVL), com 9,64 por cento e um deputado. O grande derrotado foi o partido do primeiro-ministro Valdis Dombrovskis, Tempo Novo, que recolheu apenas 7,46 por cento e elegeu um deputado.

Na Lituânia, venceram os democratas-cristãos (TS-LKD) com 26,8 por cento e quatro deputados, duplicando o resultado de 2004. Em contrapartida os centristas (DP) descem de 30,2 por cento e cinco deputados para 8,81 e apenas um eleito. Os sociais-democratas (LSDP) sobem para 18,62 por cento e três deputados (14,4% e dois deputados em 2004).

No Luxemburgo, os partidos mais votados mantiveram as suas posições. Os sociais-cristãos (CSV) vencem com 31,33 por cento e três deputados (37,1% em 2004), seguindo-se os socialistas com 19,42 por cento e um deputado (descendo 2,5%) e os democratas liberais que também elegem um deputado e sobem de 14,9 para 18,71 por cento. Os verdes progridem em percentagem de 15 por cento para 16,84 mantendo o seu deputado.

Em Malta, os trabalhistas reforçam a votação para 54,77 por cento (49% em 2004), mantendo os três deputados. A segunda força é o partido nacionalista que também sobe ligeiramente para 40,49 por cento (40% em 2004) e reelege dois deputados.

Na Polónia, a Plataforma Cívica, PO, no governo, reforçou a votação para 44,39 por cento e 25 deputados (24,1% e 15 lugares em 2004), deixando a grande distância o partido conservador, Lei e Justiça, dos irmãos Kaczynski, com 27,41 por cento e 15 deputados (12,67% e sete lugares em 2004). A Aliança da Esquerda Democrática e a União do Trabalho (SLD-UP) sobem para 12 por cento e sete deputados (9,35% e 5 eleitos em 2004) e o Partido dos Camponeses (PSL), que governa com o PO, alcança 7,03 por centro e três deputados (6,34% e quatro lugares em 2004).

Na Roménia, os sociais-democratas (PSD) e os democratas-liberais (PDL), em coligação no governo, obtiveram uma votação quase idêntica (30,82% e 11 eleitos e 29,75% e 10 eleitos, respectivamente). Foram seguidos pelos liberais (PNL) na oposição, com 14,53 por cento e cinco deputados. A extrema-direita do Partido da Grande Roménia (PRM) atingiu 8,68 por cento e três eleitos.

Na Suécia, a oposição social-democrata venceu com 24,6 por cento e cinco deputados, à frente do Partido dos Moderados, no poder, que não foi além de 18,8 por cento e quatro eleitos, praticamente os mesmos resultados obtidos por ambos os partidos em 2004. Os Verdes subiram de seis por cento para 10,8 e elegeram dois deputados (mais um que em 2004). Por seu turno, o Partido da Esquerda sofre uma acentuada descida de 12,8 e dois deputados em 2004 para 5,6 por cento e um deputado. A surpresa foi o resultado obtido pelo partido dos «piratas» que alcançou 7,1 por cento elegendo um representante.