
- Nº 1849 (2009/05/7)
Palestina
Israel baralha e dá de novo
Internacional
O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu quer uma abordagem «nova» e «realista» da questão palestiniana, para o que espera ter a ajuda de Barack Obama e Mahmud Abbas.
Num discurso dirigido a representantes do Aipac (American Israel Public Affairs Comittee), um influente grupo de pressão pró-israelita nos Estados Unidos, proferido esta segunda-feira, 5, em Jerusalém, Netanyahu disse que a abordagem que agora propõe «segue uma tripla via para a paz entre Israel e os palestinianos: uma via política, uma via de segurança e uma via económica».
Sem nunca se referir à criação de dois estados (israelita e palestiniano), Netanyahu – citado pela Lusa – explicitou perante os 6500 delegados do Apaic, os embaixadores estrangeiros em Washington e políticos norte-americanos, as traves mestras da sua proposta: «a via política [significa] que estamos prontos a retomar as negociações de paz imediatamente e sem pré-condições, e o melhor é que seja o mais cedo possível»; a «via de de segurança implica a continuação das discussões que reúnem o general norte-americano Keith Dayton em cooperação com os jordanos e com a Autoridade Nacional Palestiniana do presidente Mahmud Abbas, tendo como objectivo apoiar as forças de segurança palestinianas»; a «via económica significa que estamos prontos a trabalhar juntos para levantar tantos obstáculos quantos os possíveis para o desenvolvimento (...) da economia palestiniana».
Nada de novo
Netanyahu, que deve ser recebido este mês na Casa Branca, fez ainda questão de acentuar que não transigirá nunca no que diz respeito à segurança de Israel, e que um acordo de paz final só será concluído se os palestinianos reconhecerem Israel como um «Estado judaico».
Garantindo que o seu governo quer «trabalhar com a Autoridade Palestiniana nesta via, não como um sucedâneo às discussões, mas como um motor», o primeiro-ministro israelita sublinhou que com esta abordagem «realista» e a ajuda de Barack Obama e Mahmud Abbas, «podemos enfrentar os cépticos, podemos surpreender o Mundo».
O quotidiano em Israel, na Faixa de Gaza e na Cisjordânia prossegue para já sem qualquer «surpresa».
Uma nota do Partido Comunista de Israel (PCI) divulgada no final do mês passado dava conta de mais uma acção persecutória do governo contra Mohammad Barakeh, presidente da Frente Democrática para a Paz e Igualdade e dirigente do PCI.
Barakeh foi acusado a 28 de Abril pelo Procurador Geral de Israel Menachem Mazuz – o mesmo que decidiu encerrar as investigações ao assassinato de 13 jovens árabes durante manifestações em Outubro de 2000 – de «interferir com a acção da polícia» quando estas agrediram manifestantes pacíficos durante um protesto em Julho de 2007, em Nazaré.
O protesto era justamente contra o assassinato dos 13 palestinianos e contra o então ministro da Segurança Ehud Barak, que na altura estava reunido num hotel com apoiantes do Partido Trabalhista de Israel.
Reagindo à acusação que lhe é feita, Barakeh declarou que se trata de «uma decisão política» que não o visa apenas pessoalmente, sendo antes de mais «uma mensagem clara de intimidação dirigida à população árabe e às forças democráticas na tentativa desesperada de deter a sua luta por justiça e legítimos direitos».
A resposta a tais manobras, segundo Barakeh, só poderá ser a continuação da luta.
Morte e destruição
Também sem alterações continua a política de intimidação, morte e destruição de casas palestinianas levada a cabo por Israel.
No mesmo dia em que Netanyahu falava de «abordagem nova» à questão palestiniana, a ONG Médicos pelos Direitos Humanos apresentava em Genebra, na Comissão da ONU contra a Tortura, um relatório dando conta de que os serviços secretos israelitas interrogam e humilham os palestinianos de Gaza que por motivos de saúde têm de se deslocar a Israel, chegando mesmo a condicionar a sua saída da Faixa de Gaza à obtenção de informações.
O testemunho de cerca de 30 doentes revela «um crescimento no número de pacientes interrogados», incluindo «menores de idade», e que «o Supremo Tribunal e a Procuradoria Geral israelitas cooperam» com estas práticas, diz, em comunicado, Magas Ziv, director local da ONG.
Entretanto, prosseguem as ordens para a demolição de casas árabes em Jerusalém. Segundo um relatório do gabinete da ONU para a Coordenação das Actividades Humanitárias (OCHA) divulgado a 1 de Maio, pelo menos 60 mil palestinianos que vivem em Jerusalém Oriental correm o risco de ter as suas casas destruídas pelas autoridades israelitas. Esta será uma das questões que o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, levará na agenda quando no dia 28 se encontrar com Barack Obama em Washington.
«As nossas condições e as nossas exigências [para a retomada das negociações de paz com Israel] baseiam-se na solução de dois estados assim como no fim dos colonatos de povoamento e das demolições de casas», disse Abbas em Amã, este domingo, após um encontro com o rei Abdullah II da Jordânia.