É PELA LUTA QUE LÁ VAMOS

É preciso pôr termo a esta política e dar um novo rumo a Portugal»

Assinalamos o centenário do nascimento do camarada Soeiro Pereira Gomes num ano em que o colectivo partidário é chamado a intervir em muitas e muito importantes lutas.
Pode dizer-se que todos os anos é assim, que todos os anos nos é exigida uma intervenção intensa, diversificada, complexa, difícil.
E é verdade: a responsabilidade histórica do PCP e o projecto pelo qual se bate, colocam-nos todos os dias exigências incontornáveis a que é necessário dar resposta.
Também é verdade no entanto, que há anos – e muitos têm sido ao longo da longa vida do Partido - em que, pela força das circunstâncias, essas exigências se multiplicam e convocam o colectivo partidário a fazer o impossível, superando-se na militância e na entrega à luta. E, porque é essa a nossa natureza de comunistas, o impossível acontece…
Foi assim no tempo em que o militante e dirigente comunista Soeiro Pereira Gomes desenvolveu a sua actividade, é assim nos nossos dias – sendo certo que entre um e outro desses tempos, ocorreu a Revolução de Abri, e a contra-revolução ainda em curso.
Soeiro é um exemplo do militante comunista que dedicou a sua vida ao Partido e à luta contra o fascismo, pela liberdade, pela democracia, pela justiça social, pela paz, pelo socialismo.
Fê-lo num tempo bem diferente do nosso, quando o fascismo dominava, explorava e oprimia brutalmente, e quando enfrentá-lo tinha como consequência inevitável, a perseguição, a prisão, a tortura, muitas vezes a morte – e assumiu com dignidade as consequências da sua opção revolucionária.
Por isso o seu exemplo constitui uma referência permanente para os militantes comunistas que, hoje, dão continuidade à luta por ele desenvolvida. Porque é disso que se trata: a luta que hoje travamos, contra a política de direita e por uma política ao serviço dos interesses dos trabalhadores, do povo e do País, incorpora o mesmo objectivo supremo que motivou a intervenção de Soeiro Pereira Gomes: a criação de uma sociedade liberta de todas as formas de opressão e de exploração, a sociedade socialista e comunista.

A situação social é dramática: o desemprego aumenta; sucedem-se os despedimentos, feitos na base dos mais diversos expedientes e em que a invocação da «crise» está sempre presente; a precariedade, caminho para a negação do direito ao emprego, é o flagelo que se sabe; os salários em atraso – expressão da mais brutal forma de exploração – atingem um número crescente de famílias; a pobreza e a miséria crescem e a fome instala-se em cada vez mais lares; aumenta o número de crianças que, famintas, dão entrada nos hospitais.
E tudo isto, de certo modo, nos remete para Soeiro Pereira Gomes, neste caso para a sua notável obra literária: a «Engrenagem», romance dedicado «aos trabalhadores sem trabalho – rodas paradas de uma engrenagem caduca»; os «Esteiros», romance feito para «os filhos dos homens que nunca foram meninos»…
Porque quando o capitalismo é o sistema dominante, a exploração está sempre presente - independentemente de o capitalismo ser servido por um assumido regime fascista ou por uma bem maquilhada democracia burguesa.

Face à gravíssima situação social existente, o Governo e os seus propagandistas dizem que a culpa é da «crise que veio de fora»: não há como sacudir a água do capote, alijando responsabilidades, para procurar continuar a iludir os incautos e prosseguir a política que conduziu o País à actual situação - sabendo que as causas essenciais dos dramas hoje vividos no País radicam, essencialmente, na política que há quase trinta e três anos tem vindo a ser aplicada por sucessivos governos PS/PSD (de vez em quando com o CDS/PP atrelado).
Os ministros estão transformados em propagandistas eleitorais, recorrendo nessa profissão às mais desavergonhadas práticas. O primeiro-ministro é presença diária certa nos média dominantes, onde se exibe na profissão de inaugurador e de distribuidor de promessas de bem-aventuranças futuras – escondendo aquela que é, nesta matéria, a sua verdadeira profissão: a de devedor de promessas.
E, ao mesmo tempo, anuncia a nova versão do Porreiro, pá, oferecendo o apoio a Durão Barroso para a Comissão Europeia, invocando o «patriotismo» - o mesmo «patriotismo» que o levou à decisão de duplicar o contingente militar português no Afeganistão, a pretexto de que a segurança de Portugal se defende no Afeganistão – assim procedendo a uma, de facto, antipatriótica tradução para português-de-política-de-direita, da palavra de ordem do Presidente dos EUA.

É preciso pôr termo a esta política e dar um novo rumo a Portugal.
E para isso, é necessário darmos mais força à luta de massas.
E travar, com confiança, todas as batalhas que se nos deparam. Porque é pela luta, e só por ela, que lá vamos: seja intensificando e alargando a luta dos trabalhadores; seja com uma intervenção decidida e confiante nas três eleições deste ano, a começar pelas do Parlamento Europeu, cuja lista da CDU foi apresentada há dias no Tribunal Constitucional - uma lista composta por gente com provas dadas, por homens e mulheres que, como nenhuns outros candidatos, garantem trabalho em quantidade exemplar e, o que é essencial, garantem a defesa dos interesses de Portugal e dos portugueses.
E nas lutas que temos pela frente, connosco permanece vivo e actual,
o exemplo de Soeiro Pereira Gomes – o militante comunista; o revolucionário de corpo inteiro; o homem corajoso, fraterno, solidário; o grande escritor que nos deixou «uma obra de liberdade e libertadora».