Recomeçar do princípio
Pela tribuna do XVIII Congresso do Partido passaram muitas dezenas de oradores falando, uns, da situação nacional e internacional, outros reafirmando as propostas do Partido para a ruptura com a política de direita e outros ainda relatando experiências concretas de reforço das organizações partidárias.
Um deles, em nome da Comissão Concelhia de Vila Real de Santo António do PCP, falou da reviravolta verificada naquela organização, que se encontrava «muito marcada por uma visão e prática oportunistas daqueles que queriam liquidar o Partido», e dos «avanços significativos» alcançados desde então. O Avante! ouviu atentamente, e foi àquele concelho algarvio para saber mais...
Em poucos locais como no Algarve se terá feito sentir tão profundamente a acção de alguns ex-dirigentes do Partido que há muito tinham entrado em rota de colisão com as orientações e a natureza do PCP. Vila Real de Santo António não era excepção.
Segundo Luís Piçarra, do Comité Central e actual membro da Direcção da Organização Regional do Algarve (DORAL), o «fraccionismo foi muito fundo» na região, atingindo «tudo o que é estrutural no Partido». Durante anos, prosseguiu, estiveram instalados na direcção regional do Partido «indivíduos que organizaram e estimularam uma linha de liquidação do Partido enquanto partido comunista e revolucionário». As posições difundidas no Algarve, acusou, nem sempre eram aquelas que tinham sido definidas em Congresso ou pela direcção central.
Para Luís Piçarra, as motivações destes elementos pouco tinham de ideológicas – eram sobretudo os negócios e interesses em que estavam envolvidos que os moviam: «Basta ver onde estão hoje aqueles que eram na altura os principais dirigentes do Partido no Algarve.»
As consequências de tal acção ao longo de tanto tempo foram imensas. «O Partido praticamente não existia em Vila Real de Santo António. Não havia comissões de freguesia nem células de empresa. Nada!» A presença pública do Partido era também inexistente, acrescentou o responsável, exemplificando: «Passaram-se 12 anos sem que tivesse sido distribuído um único documento local do Partido.»
O que funcionou durante todo este tempo em Vila Real de Santo António, tal como noutros concelhos do Algarve, foi «uma coisa, orgânica, que era a CDU». Ao contrário do Partido, que se ficava por uma reunião da Comissão Concelhia «de vez em quando», recordou Luís Piçarra, a CDU reunia semanalmente. Todas as posições públicas tomadas eram em seu nome – e não do Partido – e grande parte das vezes com uma linha política errada, acrescentou o membro do Comité Central.
Este «preconceito anti-PCP» garante, era estimulado por aqueles que dirigiam o Partido na região. Gervásio Barão, da Comissão Concelhia, recorda que o Partido «foi sempre omitido». «Estimulava-se o desaparecimento do Partido e o que era bom era ser independente. Agora, dezenas desses “independentes” são membros do Partido, naturalmente, e estão organizados e a trabalhar», concluiu Luís Piçarra.
Um combate firme
Este grupo de ex-dirigentes do Partido, que chegaram a constituir a maioria da Direcção da Organização Regional do Algarve, hostil à direcção central e às suas orientações, sempre contaram com a resistência de muitos militantes da região, descontentes com o rumo que vinha a ser seguido. Em 2002, por reclamação de algumas organizações concelhias, realizou-se a 5.ª Assembleia da Organização Regional do Algarve, que resolveu «parte grossa do problema», sustentou Luís Piçarra.
Em sua opinião, houve uma «vaga de fundo do Partido, a partir da base, para antecipar a Assembleia e arrumar com esse problema. Era uma base que não se revia na sua direcção.» Foi precisamente nesse ano de 2002 que Carlos Luís Figueira, durante anos membro da Comissão Política e responsável pela Direcção Regional, foi expulso do Partido. Outros acabaram por acompanhá-lo...
Ao nível concelhio, sublinhou Luís Piçarra, «foi também necessária muita firmeza por parte de um pequeno núcleo de camaradas que soube dar combate a estas orientações e perceber que Partido somos e que medidas era preciso tomar». A 6.ª Assembleia da Organização Concelhia também contribuiu para a resolução do problema, valorizou o dirigente comunista.
Quando se deu a 7.ª Assembleia da organização concelhia, em 2007, sublinhou, o Partido já estava mais «organizado e estruturado, com quadros jovens a participar e que acabaram por ser responsabilizados». Na opinião de Luís Piçarra, «passou-se aqui um período de seis anos que foi muito importante. Anos de construção, que levaram a que onde não havia nada passasse a haver alguma coisa»...
Mais organizado e estruturado
O valioso teste da prática
É no teste da prática que as orientações políticas comprovam a sua validade. Em Vila Real de Santo António, as linhas traçadas pelo XVII Congresso do Partido, pelo Comité Central e pela Assembleia da Organização Regional do Algarve, em torno da campanha «Sim, é possível um PCP mais forte», provaram ser superiores às que durante anos foram seguidas na região.
Actualmente existe uma Comissão Concelhia e duas comissões de freguesia em funcionamento, eleitas nas respectivas assembleias, em Vila Real de Santo António e Monte Gordo. Além da organização local, o Partido está estruturado em sectores profissionais: Hotelaria; Restauração; Construção Civil; Transportes; Micro, Pequenos e Médios Empresários. E tem duas células, na Câmara Municipal e na Santa Casa da Misericórdia.
Segundo Vanda Fernandes, da Comissão Concelhia, «tínhamos dispersas cerca de 400 inscrições. Começámos por fazer o levantamento, camarada a camarada, e conseguimos consolidar cerca de 200 militantes. Depois disto, entraram quase duas dezenas de novos membros para o Partido». Hoje, garantiu, «temos um ficheiro novo e actualizado». Contrastando com a situação anterior, em que apenas três dezenas de militantes pagavam a sua quota, hoje há mais de 160 camaradas «em dia».
Também na distribuição da imprensa partidária, o salto é imenso: de 30 exemplares do Avante! passou-se para 81 distribuídos semanalmente. Uma vez por mês realiza-se uma venda militante, na zona industrial ou no mercado municipal, onde se vende 30 ou 40 jornais, garantem os comunistas. Vanda Fernandes contou que aos novos militantes é-lhes colocado, agora, que passem a comprar o Avante!.
Francisco Camarada, da Comissão Concelhia, realçou que também O Militante chega agora a mais membros do Partido. «Os militantes não tinham esses hábitos de leitura nem eram contactados para tal».
Hoje realizam-se iniciativas regulares. Há debates públicos sobre diversos temas e convívios que reúnem centenas de pessoas. A iniciativa do Parque de Merendas, por exemplo, que conta com a presença do Secretário-geral do Partido, Jerónimo de Sousa, reuniu 400 pessoas.
A edição de documentos próprios do Partido, mesmo que irregular, faz-se, realçaram.
Na opinião de Luís Piçarra, o Partido é hoje diferente, para melhor. Muito mais poderia ser feito, reconhece, «mas tivemos que construir o que hoje temos».
Ângelo Barão, eleito em 2007 para a Comissão Concelhia, afirmou que «como novo militante, sou daqueles que notei bastante a diferença. Antes, havia a CDU e os poucos contactos que eram feitos eram assegurados por um pequeno núcleo. Hoje os organismos funcionam e o Partido foi-se reestruturando, dando tarefas a camaradas novos».
Para o futuro, adiantou José Piçarra, estão definidos objectivos claros: «insistir em que os organismos funcionem regularmente, vencendo rotinas e burocracias»; e fazer com que «cada camarada recrutado seja organizado e responsabilizado»; continuar a reforçar o Partido e a sua presença «enquanto Partido». «Não podemos substituir o Partido e o seu reforço por qualquer eleição, por mais importante que seja, e é», sustentou Luís Piçarra. Até porque, concluiu, «sem Partido não há nada». Nem votos!
Uma intervenção com resultados
Na opinião dos militantes comunistas de Vila Real de Santo António, o reforço da organização e da intervenção do Partido está já a dar os seus resultados práticos. Se os pescadores de Monte Gordo podem, hoje, exercer a «Arte da Língua» devem-no ao PCP, garantiu Luís Piçarra. A Comissão de Freguesia reuniu com os pescadores, ouviu as suas reclamações e exigências e desenvolveu uma intensa acção em torno disto, envolvendo inclusivamente o Grupo Parlamentar.
Também a rotunda de Vila Nova de Cacela que, tudo indica, será construída em breve se deve à insistência dos comunistas. Trata-se de uma zona com muitos acidentes de viação, alguns dos quais mortais, e há muito que o PCP propõe a construção de uma rotunda, nomeadamente inserindo a sua construção na proposta de PIDDAC. Para além da acção institucional, o Partido promoveu abaixo-assinados e mobilizou para uma iniciativa pública, que teve muito impacto, a «rotunda humana».
Depois de anos em que a Câmara Municipal, do PSD, «empurrava» a construção da rotunda para o Governo do PS (depois de a anterior maioria, do PS, ter empurrado para o governo do PSD), esta será uma realidade. Para Luís Piçarra, por mais que a Câmara queira «ficar com os louros», é ao PCP que se deve a construção da rotunda.
José Vicente, da Comissão Concelhia, salientou que na freguesia de Monte Gordo, o Partido já reuniu com os trabalhadores da hotelaria: «conhecemos alguns dos seus problemas, como a precariedade, a sazonalidade, os baixos salários e a exploração.» Ângelo Barão realçou a aproximação do Partido aos micro e pequenos empresários do concelho. Através da venda do Avante! e da distribuição dos documentos do Partido, afirmou, muitos empresários, «que não compreendiam o Partido, conseguem avaliar hoje o acerto das suas propostas e reflexões e como seriam positivas para a sua estabilidade».
Na opinião do responsável pela organização concelhia, Luís Piçarra, o «segredo» está na insistência. E exemplificou: «quando se começou a vender o Avante! na zona industrial, se levávamos 40 jornais, saíamos de lá com os 40. Agora, vende-se mais ali do que no mercado municipal.»
Da indústria e da pesca à dependência do turismo
Apesar dos muitos anos em que o Partido praticamente não existiu no concelho, Vila Real de Santo António foi um grande «bastião» comunista no Algarve. A sua forte composição operária, fundamentalmente do sector das conservas, e piscatória davam a necessária componente de classe e tal opção política.
Talvez por isto, «o Partido teve sempre uma grande presença no concelho», como realçou Gervásio Barão. A Câmara Municipal foi dirigida pelos comunistas e seus aliados durante décadas, tendo estes sido apenas derrotados por uma coligação entre o PS e o PSD.
Actualmente, a CDU não tem nenhum vereador na Câmara. Nas eleições, elegeu um, a quem foi entretanto retirada a confiança política. Na opinião de Alfredo Graça, antigo presidente da Câmara e membro da Comissão Concelhia, a população provou que tinha razão ao não lhe ter manifestado a sua confiança. Neste momento, salientou, «estamos a auscultar pessoas para as listas». Esta é, aliás, uma prática que andou ausente destas terras por muitos anos: «não se fazia nada disso. Havia um plenário em que eram anunciados os candidatos.»
Entre a Vila Real operária e os dias de hoje há uma diferença abismal. A indústria foi fechando e a pesca definhando. A «monocultura» do turismo impôs-se. Hoje, Vila Real de Santo António é o segundo concelho do Algarve com mais desemprego, logo a seguir a Portimão. Além disso, o emprego criado pelo turismo é precário, mal pago e sazonal.
Para Ângelo Barão, é graças à intervenção dos comunistas que é hoje claro para muita gente que o Partido tinha razão quando alertava para os perigos da dependência do turismo. «Na zona industrial, isto sente-se muito: os mecânicos deixaram de ter barcos para reparar; o sector da carpintaria voltou-se exclusivamente para a construção civil. Ficaram dependentes.»
«Aqui ao lado, em Ayamonte (Espanha), foram construídas sete fábricas de conserva. E a zona industrial também sofre com isso», acrescentou Francisco Camarada. «O mar está aqui, as fábricas estão mesmo aqui ao lado e se não se faz mais é porque não há vontade política para isso.»
Segundo Luís Piçarra, do Comité Central e actual membro da Direcção da Organização Regional do Algarve (DORAL), o «fraccionismo foi muito fundo» na região, atingindo «tudo o que é estrutural no Partido». Durante anos, prosseguiu, estiveram instalados na direcção regional do Partido «indivíduos que organizaram e estimularam uma linha de liquidação do Partido enquanto partido comunista e revolucionário». As posições difundidas no Algarve, acusou, nem sempre eram aquelas que tinham sido definidas em Congresso ou pela direcção central.
Para Luís Piçarra, as motivações destes elementos pouco tinham de ideológicas – eram sobretudo os negócios e interesses em que estavam envolvidos que os moviam: «Basta ver onde estão hoje aqueles que eram na altura os principais dirigentes do Partido no Algarve.»
As consequências de tal acção ao longo de tanto tempo foram imensas. «O Partido praticamente não existia em Vila Real de Santo António. Não havia comissões de freguesia nem células de empresa. Nada!» A presença pública do Partido era também inexistente, acrescentou o responsável, exemplificando: «Passaram-se 12 anos sem que tivesse sido distribuído um único documento local do Partido.»
O que funcionou durante todo este tempo em Vila Real de Santo António, tal como noutros concelhos do Algarve, foi «uma coisa, orgânica, que era a CDU». Ao contrário do Partido, que se ficava por uma reunião da Comissão Concelhia «de vez em quando», recordou Luís Piçarra, a CDU reunia semanalmente. Todas as posições públicas tomadas eram em seu nome – e não do Partido – e grande parte das vezes com uma linha política errada, acrescentou o membro do Comité Central.
Este «preconceito anti-PCP» garante, era estimulado por aqueles que dirigiam o Partido na região. Gervásio Barão, da Comissão Concelhia, recorda que o Partido «foi sempre omitido». «Estimulava-se o desaparecimento do Partido e o que era bom era ser independente. Agora, dezenas desses “independentes” são membros do Partido, naturalmente, e estão organizados e a trabalhar», concluiu Luís Piçarra.
Um combate firme
Este grupo de ex-dirigentes do Partido, que chegaram a constituir a maioria da Direcção da Organização Regional do Algarve, hostil à direcção central e às suas orientações, sempre contaram com a resistência de muitos militantes da região, descontentes com o rumo que vinha a ser seguido. Em 2002, por reclamação de algumas organizações concelhias, realizou-se a 5.ª Assembleia da Organização Regional do Algarve, que resolveu «parte grossa do problema», sustentou Luís Piçarra.
Em sua opinião, houve uma «vaga de fundo do Partido, a partir da base, para antecipar a Assembleia e arrumar com esse problema. Era uma base que não se revia na sua direcção.» Foi precisamente nesse ano de 2002 que Carlos Luís Figueira, durante anos membro da Comissão Política e responsável pela Direcção Regional, foi expulso do Partido. Outros acabaram por acompanhá-lo...
Ao nível concelhio, sublinhou Luís Piçarra, «foi também necessária muita firmeza por parte de um pequeno núcleo de camaradas que soube dar combate a estas orientações e perceber que Partido somos e que medidas era preciso tomar». A 6.ª Assembleia da Organização Concelhia também contribuiu para a resolução do problema, valorizou o dirigente comunista.
Quando se deu a 7.ª Assembleia da organização concelhia, em 2007, sublinhou, o Partido já estava mais «organizado e estruturado, com quadros jovens a participar e que acabaram por ser responsabilizados». Na opinião de Luís Piçarra, «passou-se aqui um período de seis anos que foi muito importante. Anos de construção, que levaram a que onde não havia nada passasse a haver alguma coisa»...
Mais organizado e estruturado
O valioso teste da prática
É no teste da prática que as orientações políticas comprovam a sua validade. Em Vila Real de Santo António, as linhas traçadas pelo XVII Congresso do Partido, pelo Comité Central e pela Assembleia da Organização Regional do Algarve, em torno da campanha «Sim, é possível um PCP mais forte», provaram ser superiores às que durante anos foram seguidas na região.
Actualmente existe uma Comissão Concelhia e duas comissões de freguesia em funcionamento, eleitas nas respectivas assembleias, em Vila Real de Santo António e Monte Gordo. Além da organização local, o Partido está estruturado em sectores profissionais: Hotelaria; Restauração; Construção Civil; Transportes; Micro, Pequenos e Médios Empresários. E tem duas células, na Câmara Municipal e na Santa Casa da Misericórdia.
Segundo Vanda Fernandes, da Comissão Concelhia, «tínhamos dispersas cerca de 400 inscrições. Começámos por fazer o levantamento, camarada a camarada, e conseguimos consolidar cerca de 200 militantes. Depois disto, entraram quase duas dezenas de novos membros para o Partido». Hoje, garantiu, «temos um ficheiro novo e actualizado». Contrastando com a situação anterior, em que apenas três dezenas de militantes pagavam a sua quota, hoje há mais de 160 camaradas «em dia».
Também na distribuição da imprensa partidária, o salto é imenso: de 30 exemplares do Avante! passou-se para 81 distribuídos semanalmente. Uma vez por mês realiza-se uma venda militante, na zona industrial ou no mercado municipal, onde se vende 30 ou 40 jornais, garantem os comunistas. Vanda Fernandes contou que aos novos militantes é-lhes colocado, agora, que passem a comprar o Avante!.
Francisco Camarada, da Comissão Concelhia, realçou que também O Militante chega agora a mais membros do Partido. «Os militantes não tinham esses hábitos de leitura nem eram contactados para tal».
Hoje realizam-se iniciativas regulares. Há debates públicos sobre diversos temas e convívios que reúnem centenas de pessoas. A iniciativa do Parque de Merendas, por exemplo, que conta com a presença do Secretário-geral do Partido, Jerónimo de Sousa, reuniu 400 pessoas.
A edição de documentos próprios do Partido, mesmo que irregular, faz-se, realçaram.
Na opinião de Luís Piçarra, o Partido é hoje diferente, para melhor. Muito mais poderia ser feito, reconhece, «mas tivemos que construir o que hoje temos».
Ângelo Barão, eleito em 2007 para a Comissão Concelhia, afirmou que «como novo militante, sou daqueles que notei bastante a diferença. Antes, havia a CDU e os poucos contactos que eram feitos eram assegurados por um pequeno núcleo. Hoje os organismos funcionam e o Partido foi-se reestruturando, dando tarefas a camaradas novos».
Para o futuro, adiantou José Piçarra, estão definidos objectivos claros: «insistir em que os organismos funcionem regularmente, vencendo rotinas e burocracias»; e fazer com que «cada camarada recrutado seja organizado e responsabilizado»; continuar a reforçar o Partido e a sua presença «enquanto Partido». «Não podemos substituir o Partido e o seu reforço por qualquer eleição, por mais importante que seja, e é», sustentou Luís Piçarra. Até porque, concluiu, «sem Partido não há nada». Nem votos!
Uma intervenção com resultados
Na opinião dos militantes comunistas de Vila Real de Santo António, o reforço da organização e da intervenção do Partido está já a dar os seus resultados práticos. Se os pescadores de Monte Gordo podem, hoje, exercer a «Arte da Língua» devem-no ao PCP, garantiu Luís Piçarra. A Comissão de Freguesia reuniu com os pescadores, ouviu as suas reclamações e exigências e desenvolveu uma intensa acção em torno disto, envolvendo inclusivamente o Grupo Parlamentar.
Também a rotunda de Vila Nova de Cacela que, tudo indica, será construída em breve se deve à insistência dos comunistas. Trata-se de uma zona com muitos acidentes de viação, alguns dos quais mortais, e há muito que o PCP propõe a construção de uma rotunda, nomeadamente inserindo a sua construção na proposta de PIDDAC. Para além da acção institucional, o Partido promoveu abaixo-assinados e mobilizou para uma iniciativa pública, que teve muito impacto, a «rotunda humana».
Depois de anos em que a Câmara Municipal, do PSD, «empurrava» a construção da rotunda para o Governo do PS (depois de a anterior maioria, do PS, ter empurrado para o governo do PSD), esta será uma realidade. Para Luís Piçarra, por mais que a Câmara queira «ficar com os louros», é ao PCP que se deve a construção da rotunda.
José Vicente, da Comissão Concelhia, salientou que na freguesia de Monte Gordo, o Partido já reuniu com os trabalhadores da hotelaria: «conhecemos alguns dos seus problemas, como a precariedade, a sazonalidade, os baixos salários e a exploração.» Ângelo Barão realçou a aproximação do Partido aos micro e pequenos empresários do concelho. Através da venda do Avante! e da distribuição dos documentos do Partido, afirmou, muitos empresários, «que não compreendiam o Partido, conseguem avaliar hoje o acerto das suas propostas e reflexões e como seriam positivas para a sua estabilidade».
Na opinião do responsável pela organização concelhia, Luís Piçarra, o «segredo» está na insistência. E exemplificou: «quando se começou a vender o Avante! na zona industrial, se levávamos 40 jornais, saíamos de lá com os 40. Agora, vende-se mais ali do que no mercado municipal.»
Da indústria e da pesca à dependência do turismo
Apesar dos muitos anos em que o Partido praticamente não existiu no concelho, Vila Real de Santo António foi um grande «bastião» comunista no Algarve. A sua forte composição operária, fundamentalmente do sector das conservas, e piscatória davam a necessária componente de classe e tal opção política.
Talvez por isto, «o Partido teve sempre uma grande presença no concelho», como realçou Gervásio Barão. A Câmara Municipal foi dirigida pelos comunistas e seus aliados durante décadas, tendo estes sido apenas derrotados por uma coligação entre o PS e o PSD.
Actualmente, a CDU não tem nenhum vereador na Câmara. Nas eleições, elegeu um, a quem foi entretanto retirada a confiança política. Na opinião de Alfredo Graça, antigo presidente da Câmara e membro da Comissão Concelhia, a população provou que tinha razão ao não lhe ter manifestado a sua confiança. Neste momento, salientou, «estamos a auscultar pessoas para as listas». Esta é, aliás, uma prática que andou ausente destas terras por muitos anos: «não se fazia nada disso. Havia um plenário em que eram anunciados os candidatos.»
Entre a Vila Real operária e os dias de hoje há uma diferença abismal. A indústria foi fechando e a pesca definhando. A «monocultura» do turismo impôs-se. Hoje, Vila Real de Santo António é o segundo concelho do Algarve com mais desemprego, logo a seguir a Portimão. Além disso, o emprego criado pelo turismo é precário, mal pago e sazonal.
Para Ângelo Barão, é graças à intervenção dos comunistas que é hoje claro para muita gente que o Partido tinha razão quando alertava para os perigos da dependência do turismo. «Na zona industrial, isto sente-se muito: os mecânicos deixaram de ter barcos para reparar; o sector da carpintaria voltou-se exclusivamente para a construção civil. Ficaram dependentes.»
«Aqui ao lado, em Ayamonte (Espanha), foram construídas sete fábricas de conserva. E a zona industrial também sofre com isso», acrescentou Francisco Camarada. «O mar está aqui, as fábricas estão mesmo aqui ao lado e se não se faz mais é porque não há vontade política para isso.»