O Avante! faz 78 anos no domingo

Chegar cada vez mais longe

Desde que viu a luz do dia pela primeira vez, no já longínquo ano de 1931, o Avante! percorreu um longo e exaltante caminho, carregado de perigos e dificuldades mas também de momentos ímpares de heroísmo e de uma dedicação sem limites à luta da classe operária e de todos os trabalhadores e ao seu Partido, o PCP. Resistindo à repressão e à perseguição nos tempos da ditadura fascista; mobilizando para a conquista da liberdade e para a construção de um País efectivamente democrático, a caminho do socialismo, nos anos de 1974 e 1975; e apelando, desde então, à luta contra a política de direita prosseguida e intensificada por sucessivos governos do PS e do PSD, com ou sem o CDS-PP, o Avante! continua hoje a ser um instrumento fundamental para a acção diária do Partido e para a sua ligação às massas.
O jornal que todas as quintas-feiras chega às mãos de milhares de militantes comunistas e trabalhadores sem partido tem uma história única, em Portugal e no mundo. Não só pelo seu percurso clandestino, iniciado a 15 de Fevereiro de 1931, ou pela sua acção ímpar nos anos quentes da Revolução de Abril (ver caixa), mas também pelo seu presente.
Ao contrário de muitos outros jornais com origens semelhantes por essa Europa fora, o Avante! continua a ser o órgão central do seu partido, o PCP. E é, também por isso, cada vez mais lido, acompanhando a crescente influência do Partido e contribuindo para ela. As suas características únicas, as melhorias que tem vindo a incluir, ao nível gráfico ou no tratamento dos temas, e a dedicação dos seus divulgadores, os militantes do Partido, contribuem para este crescimento.
Há os que o levam para o seu local de trabalho, passando-o aos colegas, mais ou menos abertamente; outros trazem-no para as ruas das cidades, vilas e aldeias do País; e há os que o distribuem porta a porta aos compradores previamente angariados. Tudo isto faz com que todas as semanas o Avante! chegue a milhares de mãos, cumprindo o seu papel: informando e esclarecendo, mobilizando e mostrando o «outro lado» da notícia, revelando o que todos os outros órgãos de comunicação (propriedade dos grandes grupos económicos) escondem.
Jornal comprometido, pelas suas páginas não passa apenas a actividade e posições do PCP, embora tenham aí um papel destacado, contribuindo para romper o manto de silêncio e deturpação a que os restantes media o votam: por elas é também possível conhecer os problemas e aspirações dos trabalhadores e de outras camadas da população severamente atingidas pela política de direita, bem como as lutas que diariamente travam; e acompanhar a tenaz resistência dos povos contra o imperialismo e os seus avanços libertadores.

Instrumento de reforço

Mais do que apenas um jornal, o Avante! é também um instrumento para o reforço da organização e intervenção do Partido. Na Resolução Política aprovada no XVIII Congresso do Partido, realizado no final do ano passado no Campo Pequeno, em Lisboa, salienta-se que a imprensa partidária permite o «contacto regular entre o Partido e os seus militantes (potenciador de outros contactos partidários)» e garante uma «melhor preparação dos militantes para a sua intervenção quotidiana em defesa das posições e análises do Partido».
O Congresso destacou ainda o «papel fundamental» desempenhado pela imprensa partidária para alargar a influência do Partido «junto dos trabalhadores e das populações». O alargamento da sua divulgação, «a sua leitura e estudo pelos militantes comunistas e a sua difusão e venda junto das massas trabalhadoras são factores decisivos para o aumento da capacidade interventiva do Partido e da sua influência social, política e eleitoral».
Para isto, foram traçadas como orientações a «adopção de medidas orgânicas de responsabilização e venda por parte das organizações» e a continuação e aprofundamento das vendas especiais do Avante! sobre «assuntos de particular importância e relevo».

Prosseguir um percurso heróico

O primeiro Avante! viu a luz do dia a 15 de Fevereiro de 1931, dirigindo-se «Ao proletariado de Portugal», chamando «os que sofrem a incorporarem-se nas fileiras revolucionárias». Nessa altura, já o Partido de que passou a ser o órgão central, o PCP, vivia na clandestinidade imposta pela ditadura fascista instituída no seguimento do golpe militar de 28 de Maio de 1926.
O nascimento do Avante! resultou da reorganização do Partido iniciada dois anos antes sob a direcção de Bento Gonçalves, e que introduziu significativas alterações no funcionamento do PCP. Mas os primeiros anos do jornal foram irregulares, em virtude da repressão fascista. Embora nos anos de 1937 e 1938 tenha chegado a sair semanalmente, o jornal acabaria por ver a sua publicação interrompida, à medida que as tipografias e a própria direcção do Partido caíam nas garras da polícia.
A partir de Agosto de 1941, em virtude de uma nova reorganização, levada a cabo por quadros jovens, entre os quais se destacava Álvaro Cunhal, o Avante! volta a sair, para não mais parar, até aos dias de hoje, sendo, em todo o mundo, o jornal que mais anos resistiu na clandestinidade.
Ao longo dessa década, o Partido reforça-se e o Avante! contribui para esse reforço ao fazer chegar às massas as ideias dos comunistas. A luta de massas, que não parava de crescer nesses anos, ocupa um lugar central no jornal que consciencializava e mobilizava para ela muitos milhares de operários e trabalhadores.
E foi assim ao longo da longa luta clandestina do povo português. Pequenas e grandes lutas tinham lugar de destaque nas páginas daquele pequeno jornal, concebido, impresso e distribuído no interior do País, fintando a apertada vigilância policial e estabelecendo os indispensáveis laços do Partido com a classe operária e com o povo português.
Só através do Avante! foi possível a milhares de portugueses conhecer os crimes no nazi-fascismo na II Guerra e o papel decisivo da União Soviética para a sua derrota; a ameaça para a paz que constituía o imperialismo norte-americano; e a verdadeira natureza da guerra colonial em Angola, Moçambique e Guiné.
Na edição de Abril de 1974, como que anunciando a acção militar do dia 25 desse mês, o Avante! destacava em primeira página a necessidade de «aliar à luta antifascista os patriotas das forças armadas».
Pouco mais de um mês depois, a 17 de Maio de 1974, o Avante! sai pela primeira vez na legalidade. Milhares de pessoas disputam-no nas ruas, nas fábricas e no campo – são vendidos 500 mil exemplares.
Daí para cá, o Avante! passou por muitas duras provas, lado a lado com o seu Partido. E por cá continua, firme, a ser a voz do PCP, fiel às suas heróicas tradições, que continua nas condições actuais. Com a memória nos seus abnegados construtores clandestinos, de que José Moreira, Maria Machado, Joaquim Rafael e José Dias Coelho são apenas os mais destacados exemplos.


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Marcha da radioactividade

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