- Nº 1837 (2009/02/12)

O principal responsável

Assembleia da República

Desmontada no decurso do debate pela bancada do PCP foi a tese insistentemente propalada pelo Governo segundo a qual a culpa pelo que está a acontecer é exclusivamente devida a factores externos. «A culpa é da crise internacional, é do estado do tempo, é porventura dos partidos da oposição, é de tudo e de todos; só o Governo não tem culpa de nada», ironizou, a propósito, António Filipe, para quem «isto não é sério» e desacredita qualquer governo.
Ora a verdade é que o Governo PS tem responsabilidades em larguíssima escala por muito do que está a suceder, como atestam os principais indicadores económicos e sociais que, nos últimos anos, sofreram fortes reveses ou agravaram as injustiças e desigualdades, e isto mesmo «antes do rebentar da crise», como observou Bernardino Soares, munido de informação inquestionável:
 O crescimento do PIB entre 2005 e 2008 foi de apenas metade do verificado nos países da zona euro.
 O investimento público recuou fortemente nos últimos quatro anos, cifrando-se em termos nominais em cerca de 15%.
 A dívida pública aumentou 25 mil milhões de euros desde 2004, ultrapassando já 65% do PIB (e isto antes do impacto das medidas recentes), enquanto o endividamento externo líquido do país aumentou mais de 30 por cento desde 2004, devendo estar a atingir 100% do PIB, o que faz de Portugal um dos países mais endividados do mundo.
 Até ao final do terceiro trimestre de 2008, pouco mais de 32 mil postos de trabalho tinham sido criados, apesar de o Governo incluir descaradamente nas suas estatísticas mais 70 mil que correspondem a portugueses que trabalham no estrangeiro, designadamente em Espanha.
 Aumentou drasticamente a precariedade, com um quarto dos trabalhadores contratados a prazo, para além do tempo parcial, do trabalho temporário dos falsos recibos verdes entre outras formas.