Concentração junto à Embaixada de Israel, em Lisboa

Contra a agressão ao povo palestiniano

O Ano Novo trouxe ao mundo as imagens de mais uma criminosa incursão militar israelita contra a população palestiniana da Faixa de Gaza. Estima-se que, só neste período, já tenham sido brutalmente assassinados cerca de mil pessoas, muitas delas crianças e mulheres. No entanto, os números de mortos e feridos não param de aumentar à medida que a invasão prossegue, sendo o grau de destruição incomensurável. Quinta-feira, dia em que o Conselho de Segurança da ONU adoptou, com a abstenção dos EUA, uma resolução que apela a um cessar-fogo imediato em Gaza, centenas de pessoas concentraram-se junto à embaixada de Israel, em Lisboa, para exigir o fim de mais este do genocídio do povo palestiniano. A iniciativa, promovida por várias organizações, contou com o apoio do PCP, que se fez representar por Jerónimo de Sousa, Margarida Botelho e Ângelo Alves.

a história de Israel é marcada pelo massacre do povo palestiniano

«Palestina Vencerá» foi a palavra de ordem, solidária e fraterna, que ecoou, de viva voz, de Lisboa até à Faixa de Gaza, território, cercado e bloqueado por Israel, já considerado como a maior prisão do mundo. «Viva a Paz! Fim do Imperialismo», «Israel Fora de Gaza», «Fim ao massacre do povo palestiniano», «Não à ocupação», «Sócrates cúmplice de Israel», lia-se em diversas faixas e cartazes que coloriam o espaço.
«É esta a lógica de Israel: o castigo, a punição, a humilhação, o assassinato indiscriminado, o genocídio do povo palestiniano», acusou Sandra Benfica, apresentando, de seguida, as organizações promotoras da acção: Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses - Intersindical Nacional, Conselho Português para a Paz e Cooperação, Movimento Democrático de Mulheres, Movimento Pelos Direitos do Povo Palestiniano e pela Paz no Médio Oriente, Comité de Solidariedade com a Palestina e Tribunal Iraque.
Nesta iniciativa, assinalada com um checkpoint por parte das forças de segurança portuguesas, não faltaram as críticas aos actos de guerra perpetrados, há várias décadas, por Israel contra o povo da Palestina. «A agressão israelita contra a população de Gaza constrói-se em torno de uma teia de mentiras», disse, na ocasião, Alan Stoleroff, lembrando que, na verdade, «não foi o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica, eleito, democraticamente, pelo povo palestiniano) que rompeu as tréguas, mas sim Israel que, no dia 4 de Novembro, matou seis elementos» deste movimento.
«Israel estava à espera de uma alegada provocação por parte do Hamas. Sabemos, pela imprensa israelita e por outras fontes, que o governo israelita estava a planear, há cerca de seis meses, esta agressão», disse o dirigente do Comité de Solidariedade com a Palestina, negando o que muitos órgãos de comunicação social tentam incutir na opinião pública. «Insinuar que as centenas de mortos, palestinianos não combatentes, seja uma fabricação do Hamas é uma das mais imorais componentes desta teia de propaganda israelita. A difusão desta ideia no público português é um acto de cumplicidade com os crimes que estão a ser cometidos neste momento em Gaza», criticou.
Alan Stoleroff acusou ainda os «judeus fascistas de Nova Iorque, que se “mascaram” de religiosos», de «cobiçar Hebron e a água da Cisjordânia» e de quer transformar «a cidade santa de Jerusalém num condomínio privado para judeus».
Também Lúcia Gomes, do Movimento Democrático de Mulheres, denunciou o plano premeditado de Israel, «manchando uma vez mais as suas mãos com o sangue de um povo obrigado a viver refugiado na sua própria terra».
«Há 18 meses, o bloqueio imposto à Faixa de Gaza colocou todo o território e o povo numa prisão permanente a céu aberto: não há electricidade, água, alimentos e combustível, não podem trabalhar, estudar, nem podem receber tratamentos médicos. Cerca de quatro quintos da população vive abaixo do limiar da pobreza e onde o desemprego já atinge os 80 por cento», alertou.
A estratégia de sucessivos governos de Israel, desde há 60 anos, é a ocupação do território palestiniano, em clara violação das resoluções das Nações Unidas e do direito internacional, violando os direitos humanos de um povo que heroicamente resiste.
Neste cenário, as mulheres e as crianças são duplamente vítimas. Mas, em nenhum momento, as mulheres palestinianas viraram a cara à luta pela defesa da autodeterminação do seu povo.
«O MDM, desde sempre, e mais uma vez, solidariza-se com a luta do povo palestiniano, especialmente com a voz e resistência das mulheres e crianças que há décadas sofrem a ocupação, a barbárie, a tortura do terrorismo de Estado de Israel», acentuou Lúcia Gomes.

Massacre do povo palestiniano

Exigindo um Estado palestiniano livre, autónomo e independente, Amador Clemente, do Movimento Pelos Direitos do Povo Palestiniano e pela Paz no Médio Oriente, falou da «catástrofe» que assola a Faixa de Gaza. «Toda a história de Israel é marcada pelo massacre do povo palestiniano. Estamos perante uma estratégia criminosa de Israel e dos EUA que visa liquidar a questão da Palestina», disse, alertando «para novos e mais perigosos desenvolvimentos».
Opinião semelhante tem Manuel Raposo, do Tribunal Iraque. «Um crime tão monstruoso só pode ter lugar se contar com fortes apoios e cumplicidades», nomeadamente dos EUA e da União Europeia. «Nunca será de mais recordar o “lapso” da presidência checa da UE, que classificou o ataque israelita como uma acção defensiva», afirmou, condenando, ainda, o silêncio «inconcebível do eleito presidente Barack Obama» que nesta situação «funciona com um salvo conduto para a operação militar israelita». «É este silêncio que permitiu a um responsável da Embaixada de Israel, em Lisboa, dizer, aos microfones da TSF, que estava seguro de que nada mudaria na política norte-americana».
Outro dos intervenientes foi Carlos Carvalho, da CGTP-IN, que comparou os crimes cometidos por Israel, «contra os palestinianos e outros povos árabes», com o holocausto nazi. «Consideramos inadmissível o silêncio cúmplice do Governo português face a estes massacres», acusou, apelando, por outro lado, à solidariedade de todos aqueles que «defendem a vida humana». «Pode-se ser conivente por acção ou por omissão. Neste caso a omissão é também uma forma de cometer um crime», frisou o dirigente sindical.
A última intervenção esteve a cargo de Luís Vicente, do CPPC. «Desde sempre que somos solidários com o povo palestiniano há muito martirizado pelas permanentes agressões sionistas. Por isso apelamos a que todos mantenham e reforcem a sua solidariedade com a Palestina, porque a ocupação de Gaza vai-se prolongar e outras frentes de violência se agravarão», advertiu, manifestando solidariedade, por um lado, «às vitimas» e, por outro, «a todos os israelitas que em Israel, em condições duríssimas, combatem a política terrorista do seu governo».
Neste sentido, exigiu o «levantamento do bloqueio a Gaza», o «fim da ocupação», a «libertação dos milhares de presos palestinianos», o «desmantelamento dos colonatos», a «remoção do muro de separação», o «estabelecimento do Estado da Palestina, com Jerusalém como capital» e o «direito ao regresso ou compensação dos refugiados palestinianos».

Moção contra o massacre na Palestina
Política terrorista e racista de Israel

No final da concentração, que contou com a solidariedade e a viva participação de centenas de pessoas, foi aprovada uma moção, mais tarde entregue na embaixada de Israel, em Lisboa, onde se denuncia «o ataque a Gaza como um crime contra a humanidade», o «apoio dos EUA como um incentivo ao massacre», a «cínica diplomacia da União Europeia como cúmplice da política terrorista de Estado levada a cano por Israel e pelos EUA» e a «inoperância do Conselho de Segurança da ONU».
«Estamos contra a política terrorista e racista de Israel, que coloniza territórios usurpados pela força das armas, que despreza por sistema as resoluções da ONU que lhe são desfavoráveis, que constitui uma ameaça para a segurança mundial por ser uma potência nuclear ilegal», lê-se no documento, que exige, entre outras reivindicações, «que a Base das Lajes não seja usada para efeitos de apoio militar e logístico a Israel» e que «o Governo português reveja por completo a sua posição política, condenando claramente a operação militar de Israel e defendendo nas instâncias internacionais medidas que obriguem Israel a retirar as tropas e a desmantelar os colonatos dos territórios palestinianos ocupados».
«Estamos com os cidadãos do mundo árabe e muçulmano e com os cidadãos israelitas que se manifestam contra os massacres, com as pessoas de todos os países e de todos os continentes que se indignam, saem à rua e dizem: basta de crimes!», acentua ainda a moção.

JCP e FMJD condenam assassinato defensivo
Fim às incursões em Gaza

As acções de solidariedade com o povo palestiniano prosseguiram, segunda-feira, em Évora. Esta concentração, da responsabilidade da JCP, realizou-se na Praça do Giraldo. No dia 8 de Janeiro, foi a vez dos jovens comunistas da Marinha Grande, Aveiro e Porto se manifestarem contra os ataques israelitas na Faixa de Gaza.

«O ataque israelita está a matar centenas de palestinianos, a ferir milhares de homens, mulheres e jovens, e destruindo centenas de casas e de infra-estruturas fundamentais como escolas e hospitais», denuncia, em nota de imprensa, a JCP, sublinhando que «este acto criminoso» esquadra-se «na linha de liquidação e assassinato de todos os palestinianos».
Entretanto, as imagens que todos os dias nos chegam não conseguem esconder os «bombardeamentos indiscriminados», a «destruição massiva de casas e bairros», as «crianças e civis mortos por toda a parte».
«Foi com a desculpa da “guerra ao terrorismo” que, há vários meses, Israel tornou Gaza, província palestiniana que está entre Israel, o Egipto e o Mar Mediterrâneo, uma autêntica prisão colectiva e de grandes dimensões», lamentam os jovens comunistas, lembrando que ao longo de 40 anos «Israel ocupou progressivamente a Palestina, deixando os palestinianos com apenas 22 por cento daquilo que os acordos iniciais estabeleceram».
«Ao longo dessas quatro décadas os palestinianos viram-se perseguidos e humilhados por um Estado que nunca hesitou em construir colonatos fora das suas fronteiras e que tem nas suas prisões milhares de pessoas sem acusação formal, sem direito a defesa ou a qualquer visita, por vezes, até ao seu último dia de vida», acrescenta a JCP.

Ataque criminoso

Também a Federação Mundial da Juventude Democrática (FMJD) condenou o ataque «brutal, ilegal e criminoso» do exército israelita aos territórios palestinianos.
«O exército de Israel, as suas bombas e armas, mataram centenas de palestinianos, cujo o único crime é a luta por uma terra e um país que são seus. O ataque de Israel não é baseado numa motivação defensiva, antes de mais porque o assassinato defensivo e a destruição nunca são o caminho para a paz ou para a resolução de um conflito», defende a federação da juventude, relembrando que Israel, com a colaboração activa do Egipto, «é o mesmo pais que cercou Gaza por largos meses, não permitindo ao seu povo ter comunicação com o mundo exterior e deteriorando o nível de vida a um patamar de catástrofe humanitária».
«É este mesmo Israel que construiu um ilegal e vergonhoso muro dentro da Palestina, que faz o povo palestiniano não poder mover-se livremente dentro do seu próprio país. É este mesmo Israel que invade diariamente a Palestina para prender arbitrária e ilegalmente palestinianos. O mesmo Israel que corta as oliveiras na Palestina, destruindo a economia palestiniana e deixando os palestinianos desempregados. É o mesmo Israel que está a envenenar a água bebida pelo povo palestiniano, fazendo as taxas de cancro aumentar na Palestina», diz ainda a FMJD, condenando os EUA por apoiar e encobrir a guerra, enquanto a União Europeia «vai dando mais tempo a Israel enquanto não emite uma posição, fechando assim os olhos perante uma situação que já há muito era conhecida como muito má e que é claramente catastrófica».


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No dia 18 de Janeiro de 1934, a classe operária e o povo da Marinha Grande tomaram o poder na vila. Nas primeiras horas da madrugada, a estação dos Correios e o posto da GNR foram ocupados e os acessos cortados. A bandeira vermelha ondulou na vila vidreira e foi decretado o soviete. Mas, ao contrário do que esperavam os organizadores do levantamento, o gesto não se repetiu no resto do País e o movimento foi facilmente esmagado pela repressão fascista. Apesar de vencida, a revolta dos operários marinhenses permanece como um exaltante exemplo de heroísmo da classe operária portuguesa, que permanece até aos nossos dias.