Imperialismo instala a desordem no mundo
No momento em que escrevemos, já se realizou a visita de Saeed Jalili, secretário do Supremo Conselho Nacional Iraniano para a Segurança e delegado do governo de Teerão, às conversações que tiveram lugar em solo europeu mas a que assistiram, também, representantes dos Estados Unidos. Entre estes, destacava-se William Burns, sub-secretário de Estado para os negócios políticos, o terceiro diplomata americano na hierarquia do departamento de Estado.
Estranhamente, ou talvez não, as delegações europeias e americana foram chefiadas pelo desusado Javier Solana, homem de grande confiança da Casa Branca que, entretanto nunca ninguém elegeu para qualquer cargo e que não passa, portanto, de um agente dos imperialistas. Nas conversações, em Genebra, estiveram presentes representantes da Grã-Bretanha, da França, e da Alemanha. Participaram, também, a Rússia e a China porque, como se compreende, alguém teria de defender a paz e o equilíbrio militar, político e económico na perigosa situação.
Já sabemos que Israel se proclama à altura de destruir, unilateralmente, as bases de lançamento de foguetões e os complexos produtores de energia atómica no Irão, tal como o fez, há tempos, no Iraque. Os fascistas israelitas, sempre apoiados por Washington, não aceitam ver diminuída ou eliminada a capacidade nuclear de que têm tirado partido ao longo dos últimos quinze anos. Essa capacidade limita os estados árabes e poupa aos americanos a necessidade de uma intervenção directa, o que lhes permite pretenderem ser ‘amigos’ de ambos os lados no interminável conflito israelo-árabe. Mas os progressos iranianos são visíveis. Os principais dirigentes de Teerão, o presidente, Mahmoud Ahmadinejad e o ministro dos Estrangeiros, Manouchehr Mottaki, têm asseverado que o seu país está em condições de evitar um ataque nuclear israelita e que, pelo contrário, dispõe de meios suficientes para, por seu lado, ripostar em condições de igualdade, no caso de Telavive se deixar tentar pelo imprevisível. A conferência que acima mencionamos tinha como finalidade, precisamente, a criação de compromissos que impedissem o Irão de entrar, também, no clube das nações possuidoras de meios militares atómicos, remetendo Israel para o campo das novas realidades. Tudo indica que os iranianos desejavam chegar a um acordo com os imperialistas, mas garantido pela Rússia e pela China. Pelo menos, é isso que têm dito, Ali Akbar Velayati, conselheiro do 'Chefe Supremo' e o próprio, 'Ayatolla', Kamenei. Mas o grande cenário que distingue e afecta a vida dos povos do Médio Oriente, e não só, é o do petróleo. Entretanto, o que se sabe é que os estados imperialistas apresentaram a Saheed Jalili um ultimato que aponta a dois caminhos – o da colaboração e o da confrontação.
Petróleo do Médio Oriente manipulado pelo capitalismo
Falência
A chamada crise dos preços do petróleo, criada e desenvolvida pelos grandes bancos americanos através de ‘Fundos’ dirigidos por globalistas assassinos e por investidores sem visão do futuro, começou a pressentir-se, pelo menos há cinco anos. Nessa altura, fizeram-se encomendas gigantescas a muitos países produtores (membros, ou não, da OPEP), com datas de entrega tão alongadas quanto possível e a preços da época em que foram negociadas. Assim, as enormes quantidades de crude adquiridas através dessas encomendas, as respectivas datas de entrega e os correspondentes preços de custo, passaram a influenciar, decisivamente, toda a conjuntura económica e financeira de muitos países em todos os continentes. Com a guerra do Iraque a desequilibrar os cálculos adicionais feitos, chegou a altura de começar a fornecer e de exigir ao mundo o retorno dos investimentos realizados, acrescido dos lucros monstruosos a que as companhias petrolíferas se acharam com direito. Qualquer cidadão proprietário de um automóvel conhece o que se tem vindo a passar. Qualquer indústria que use produtos petrolíferos como matéria-prima conhece a nova situação criada. É um caos.
Mas os globalistas não previram a catástrofe que se lhes abriria diante dos olhos no preciso momento em que faziam as contas aos lucros dos milhões e milhões de barris de crude que manipularam no mercado. Na verdade, o maior negócio do século XX, aquele que punha no rosto do capitalismo um suave traço quase humanitário, o dos empréstimos para a compra de casa própria contra a hipoteca dessa mesma casa, estava às portas da falência e acabaria por arrastar todo o império do sistema do mercado para o descalabro. A equação dos valores em presença deixava de ser positiva e se os hipotecados já não podiam pagar as mensalidades e abandonavam as casas deixando-as nas mãos dos capitalistas e dos bancos, como continuamos a ver por todo os Estados Unidos e já na Grã-Bretanha, a falência do sistema surgia com total clareza. A isto chama-se, de facto, falência, insolvência, quebra, desastre, catástrofe. Nestas condições, a entrada no mercado dos produtos petrolíferos das quantidades de crude encomendadas, há anos, especulativamente, criou uma situação de emergência internacional. É o fatal destino do capitalismo que vemos afirmar-se.
O desastre
Aliás, um bem colocado comentador da vida financeira americana, como é o reconhecido Jim Rogers, sócio do guru George Soros, declarava, há dias, o seguinte: «Salvar as companhias Fannie e Freddie, as maiores empresas financeiras para empréstimos hipotecários que possuem ou garantem propriedades no valor de cinco triliões de dólares, foi um desastre para o governo de Washington. As duas companhias, fundadas pelo próprio governo de Roosevelt em 1938, estão, basicamente, falidas. Mas os bancos não serão as derradeiras vítimas da maior crise financeira de todo o nosso tempo», afirmou. Naturalmente, as últimas vítimas da catástrofe a que estamos a assistir, aquelas que fecharão a porta ao edifício do capitalismo em ruínas, com todo o mundo a assistir não sabemos em que condições, serão os próprios governos ditos democráticos, aqueles que deram rédea livre à ruína e à especulação generalizada que temos estado a observar, incluindo, claramente, o governo português. Quereis descobrir a face do drama? Olhai os rostos amortecidos de Ben Barnanke (Presidente do Federal Reserve Board), de Henry Paulson (Secretário da Tesouraria), do próprio George W. Bush. Olhem-nos nos olhos. São rostos enigmáticos, cheios de uma história trágica que nunca esperaram viver. Andam a procurar controlar o incontrolável. De todos os quadrantes lhes surgem novos problemas. Como evitar a corrida internacional contra as dívidas em dólares por investimentos realizados por terceiros nos próprios Estados Unidos? Sempre são 750 biliões. A economia dos Estados Unidos está de rastos. Grita-se, em Washington: «Este país necessita, agora, de todos os seus amigos!». Mas o único que lhes responde é, como não podia deixar de ser, Javier Solana, que possui ambição, mas não tem capital.
Um olhar sobre a OPEP e sobre o passado
Aumentar a produção para baixar os preços
A OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), já fez crer que os preços baixarão, consideravelmente, em 2009. Os produtores de petróleo propõem aumentar a produção e os fornecimentos aos mercados consumidores na medida em que o abrandamento da economia global dê lugar a menos actividade e exigência naqueles mercados, criando uma falsa abundância. Espera-se que os preços do crude que, recentemente, estavam a $147, tombem, lentamente, para algo como $93 por barril. Como não se ignora, os preços do crude, a elevarem-se, constantemente, devido à manipulação acima referida, põem uma impossível pressão sobre os mercados consumidores. Neste momento, esses mercados, na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos especialmente, já estão a importar 19% menos crude, como se deduz das estatísticas publicadas, em relação ao que se verificava até há poucos meses. Mas os devastadores efeitos daquilo a que chamam a recessão estão, ainda, para produzir o esperado impacto. A espectacular crise da indústria automóvel americana está aí, mas ainda é pouco referida. O fantasma do mais doloroso tempo de desemprego paira sobre a vida industrial nos Estados Unidos. Temos muito para ver.
A OPEP, como se compreende, está profundamente atenta ao desenvolvimento da crise económica e financeira em todo o mundo, temendo uma repetição da suspensão de compras que se verificou em 1980. Mas não se está aí, ainda. A China, por exemplo, continua a importar intensivamente. Mesmo assim, os dirigentes dos países da OPEP desconfiam das finanças dos países seus clientes. Nos Estados Unidos, há múltiplos exemplos de uma instabilidade financeira cujas consequências seriam dramáticas se trazidas à luz do dia pelos países credores.
Mundo em mudança
Fundada a 14 de Setembro de 1960, a OPEP tinha como principal objectivo a defesa dos interesses dos respectivos países membros que as grandes companhias ocidentais dividiam para melhor os explorarem. Esses países eram, em 2004, os seguintes: Argélia, Indonésia, Irão, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, Qatar, Arábia Saudita, Emiratos Árabes Unidos, Venezuela. Mas, outros, como o Brasil, a Rússia e alguns estados da antiga URSS tornaram-se, igualmente, legítimos e poderosos parceiros internacionais no jogo da produção e da exportação do petróleo. A sede da organização está em Viena e, como se sabe, estes estados e as suas organizações, quando agindo em conjunto, têm conseguido, em situações às vezes precárias, pôr alguma ordem no mercado. Pelo contrário, a indisciplina e a desordem reinam no campo dos mercados importadores onde as operações comerciais são conduzidas por empresas privadas, por bancos de investimentos e por alguns dos mais salientes impérios do capitalismo. Uma das soluções mais apropriadas para os graves problemas causados pela anarquia que reina nos mercados de importação seria a nacionalização obrigatória de todas as empresas do ramo, incluindo as que se dedicam à refinação, e o desmantelamento das actividades dos colossos que dominam o sector dos produtos energéticos no enlouquecido mundo onde o capitalismo está a lançar sementes de miséria, de opressão e de ruína, como estamos a ver. Mas, disso não temos dúvidas, o mundo já caminha para algo que não será igual à conjuntura que existe, actualmente.
Tenhamos em conta que as relações entre as grandes companhias que dominam a produção, os transportes, a refinação e a distribuição do petróleo e dos seus múltiplos sub-produtos, foram sempre muito estreitas. Essas companhias são fortes, ricas e influentes, mas, contra o seu poderio, hão-de erguer-se todos os povos do mundo. Nos últimos anos verificou-se, entre elas, amalgamações, fusões, alianças, aquisições que transformaram a nomenclatura e o panorama de todo o negócio. Mas ficaram na História os nomes das chamadas 'sete irmãs' que, gigantescas, também transformaram a vida no nosso planeta, mas levando a miséria a todos os cantos do mundo, escravizando os homens, submetendo as nações à sua injusta e criminosa sede de mais lucros e de maior domínio. Pode dizer-se, assim, que tudo, ou quase tudo começou com as Standard Oil, Texas Oil Company, Gulf Oil, Socony Mobiloil, todas americanas, Shell e British Petroleum, inglesas, e a Compagnie Française des Pétroles. Como tudo acabará é que não sabemos, mas temos cá a nossa ideia …
Velha Pérsia e novo Irão
Em 1909, a Burma Oil Company, que adquirira os direitos de prospecção detidos desde 1901 pelo empreendedor e financeiro inglês, Willam Knox d’Arcy, descobriu importantes jazigos de petróleo e pôs em funcionamento a refinaria de Abadan. Contudo, sem capital suficiente para os empreendimentos em que pretendia lançar-se, caiu sob o controlo de uma nova e muito mais poderosa companhia, a Anglo-Persian Oil Company. Esta, tinha ao seu dispor a força do Almirantado britânico cujas esquadras dominavam os oceanos e a influência do seu primeiro lorde do mar, Winston Churchill. Em 1921, o general Riza Khan assume poderes absolutos e torna-se naquilo que se passou a designar como o Xá da Pérsia encaminhando-se, politicamente, para iniciativas e reformas de que o país, desejoso de consolidar a sua unidade e a sua independência, tão absolutamente carecia. Concluiu-se, assim, em 1933, um novo acordo com aquela que havia alterado o seu nome para Anglo-Iranian Oil Company e disse-se ao mundo que esse acordo contemplava melhor os interesses do Irão.
Sob a pressão das grandes potências e o árduo clima da 2.ª Guerra Mundial, o velho Riza Xá Palevi abdicava do seu trono imperial, em Setembro de 1941, a favor do seu filho, Muhammad Riza Xá Palevi. No fim da guerra, os interesses estrangeiros intensificaram as suas actividades no país dando lugar, inevitavelmente, a um recrudescer do sentimento nacional. Ouviu-se, então, a poderosa voz das massas populares em todo o país com a exigência suprema de que os interesses nacionais na indústria do petróleo fossem reconhecidos e de que essa indústria passasse para o controlo do país. Todo o Irão, todos os homens e mulheres, cidadãos, cidadãs, gente de todas as classes, apoiavam esta ambição. Mas os imperialistas britânicos e americanos tinham o novo Xá sob a sua influência, e, nessa situação, a eles pertenceria a última palavra.
Glória sem esperança nos dias de Mossadegh
Como quase sempre acontece, as potências ocidentais pretenderam rodear a vida política do Irão atrasado com amostras das suas próprias instituições. Essas potências, como não se ignora, andam há muitas décadas a agitar as bandeiras da democracia mas, democráticas, não são, verdadeiramente. Entendiam, porém, que as suas colónias ou os estados por elas subjugados, como era o caso do Irão, deviam ser tidos como países em vias de desenvolvimento económico e em luta pela consolidação das suas próprias instituições na democracia, o que, no capitalismo, jamais aconteceria. Nestes termos, o Irão possuía uma Constituição, um Parlamento, um Chefe do Estado (o Xá), mas não gozava das condições sociais autênticas sem a existência das quais não pode haver democracia. Foi assim que, em 1951, se verificou o assassinato do primeiro-ministro, Razmara. Gerara-se em todo o Irão um clima de desobediência às autoridades que exerciam o poder de acordo com os interesses dos imperialistas e não em concordância com as aspirações do país. O clima político tornou-se extremamente instável.
Multidões em fúria levam ao poder um dos mais populares deputados ao Majilis (Parlamento iraniano). Esse deputado chamava-se Mohammad Mossadegh, um homem que já ocupara os lugares de ministro das Finanças, da Justiça e da Defesa. Entretanto, em princípios de 1952, demitia-se do lugar de primeiro-ministro devido a que o Xá, Muhammad Riza Palevi, lhe recusava o controlo das Forças Armadas. Mas, confrontado com a determinada acção das massas populares nas ruas das cidades (20.07.1952), o soberano viu-se obrigado a mudar de ideias para, em Agosto, voltar a chamar Mossadegh para governar o Irão concedendo-lhe, finalmente, o controlo do aparelho militar nacional. Por essa altura, Mossadegh tinha-se tornado quase num herói internacional, respeitado por todos os cidadãos mundiais que não admitiam a interferência abusiva dos anglo-americanos nos assuntos internos do povo iraniano. Interessante é ler a imprensa portuguesa da época que acusava Mossadegh de não passar de um tirano que havia tirado o petróleo iraniano aos ingleses.
Fazer frente ao imperialismo
Mossadegh, fez votar no Parlamento a lei de nacionalização da indústria de extracção do petróleo e expulsou do país a Anglo-Iranian Oil Company. Com isso, levou o delírio à alma de toda a nação iraniana que se julgou chegada às portas da verdadeira independência. Quem se lhe opunha? Além dos anglo-americanos, Mossadegh tinha contra si todas as forças da reacção e do antigamente – o Xá, quase todos os generais do exército, a classe dos proprietários rurais e os religiosos mais destacados. O Partido Tudeh (comunista), tentava fazer-lhe ver as necessidades de desenvolver capacidades técnicas para a refinação, armazenagem e transportes, salientando que a URSS seria o parceiro ideal para que estes alvos pudessem ser atingidos. Como se sabe, o Partido Tudeh era um dos mais sólidos partidos internacionalistas e dos mais fiéis aliados do PC da URSS, mas Mossadegh, já envolvido numa terrível luta contra o tempo, preferia agir no quadro existente, além de que não considerava o Tudeh como um partido próximo da democracia que ele abraçara.
O imperialismo, usando os serviços secretos britânicos e a CIA, agiu com rapidez. Além de tornar impossível ao governo de Mossadegh conseguir os meios que lhe permitissem aceder à refinação do crude, suspendeu as compras ao Irão, decretou um embargo internacional ao seu crude e desenvolveu, com urgência, a produção alternativa de petróleo no Iraque e no Kuwait. Os depósitos iranianos nos bancos europeus e americanos foram congelados e a esquadra britânica viu-se mobilizada para o Golfo. Mossadegh, assim, caiu num enorme espaço vazio e, em breve, perderia os seus apoios políticos. O Xá, a 19 de Agosto de 1953, ordenava ao general Zahedi o encerramento do governo e a prisão dos seus membros. Mossadegh conseguiu fugir mas, dias depois, via-se forçado a render-se. Julgado pelas novas autoridades foi acusado, julgado e sentenciado pelo crime de traição e passou três anos de prisão em regime de completo isolamento. Até ao último dia da sua vida (05.03.1967) viveu em casa mas num regime de prisão domiciliária na aldeia de Ahmad Abad. O seu único crime, na verdade, foi ter feito frente aos imperialistas.
Já sabemos que Israel se proclama à altura de destruir, unilateralmente, as bases de lançamento de foguetões e os complexos produtores de energia atómica no Irão, tal como o fez, há tempos, no Iraque. Os fascistas israelitas, sempre apoiados por Washington, não aceitam ver diminuída ou eliminada a capacidade nuclear de que têm tirado partido ao longo dos últimos quinze anos. Essa capacidade limita os estados árabes e poupa aos americanos a necessidade de uma intervenção directa, o que lhes permite pretenderem ser ‘amigos’ de ambos os lados no interminável conflito israelo-árabe. Mas os progressos iranianos são visíveis. Os principais dirigentes de Teerão, o presidente, Mahmoud Ahmadinejad e o ministro dos Estrangeiros, Manouchehr Mottaki, têm asseverado que o seu país está em condições de evitar um ataque nuclear israelita e que, pelo contrário, dispõe de meios suficientes para, por seu lado, ripostar em condições de igualdade, no caso de Telavive se deixar tentar pelo imprevisível. A conferência que acima mencionamos tinha como finalidade, precisamente, a criação de compromissos que impedissem o Irão de entrar, também, no clube das nações possuidoras de meios militares atómicos, remetendo Israel para o campo das novas realidades. Tudo indica que os iranianos desejavam chegar a um acordo com os imperialistas, mas garantido pela Rússia e pela China. Pelo menos, é isso que têm dito, Ali Akbar Velayati, conselheiro do 'Chefe Supremo' e o próprio, 'Ayatolla', Kamenei. Mas o grande cenário que distingue e afecta a vida dos povos do Médio Oriente, e não só, é o do petróleo. Entretanto, o que se sabe é que os estados imperialistas apresentaram a Saheed Jalili um ultimato que aponta a dois caminhos – o da colaboração e o da confrontação.
Petróleo do Médio Oriente manipulado pelo capitalismo
Falência
A chamada crise dos preços do petróleo, criada e desenvolvida pelos grandes bancos americanos através de ‘Fundos’ dirigidos por globalistas assassinos e por investidores sem visão do futuro, começou a pressentir-se, pelo menos há cinco anos. Nessa altura, fizeram-se encomendas gigantescas a muitos países produtores (membros, ou não, da OPEP), com datas de entrega tão alongadas quanto possível e a preços da época em que foram negociadas. Assim, as enormes quantidades de crude adquiridas através dessas encomendas, as respectivas datas de entrega e os correspondentes preços de custo, passaram a influenciar, decisivamente, toda a conjuntura económica e financeira de muitos países em todos os continentes. Com a guerra do Iraque a desequilibrar os cálculos adicionais feitos, chegou a altura de começar a fornecer e de exigir ao mundo o retorno dos investimentos realizados, acrescido dos lucros monstruosos a que as companhias petrolíferas se acharam com direito. Qualquer cidadão proprietário de um automóvel conhece o que se tem vindo a passar. Qualquer indústria que use produtos petrolíferos como matéria-prima conhece a nova situação criada. É um caos.
Mas os globalistas não previram a catástrofe que se lhes abriria diante dos olhos no preciso momento em que faziam as contas aos lucros dos milhões e milhões de barris de crude que manipularam no mercado. Na verdade, o maior negócio do século XX, aquele que punha no rosto do capitalismo um suave traço quase humanitário, o dos empréstimos para a compra de casa própria contra a hipoteca dessa mesma casa, estava às portas da falência e acabaria por arrastar todo o império do sistema do mercado para o descalabro. A equação dos valores em presença deixava de ser positiva e se os hipotecados já não podiam pagar as mensalidades e abandonavam as casas deixando-as nas mãos dos capitalistas e dos bancos, como continuamos a ver por todo os Estados Unidos e já na Grã-Bretanha, a falência do sistema surgia com total clareza. A isto chama-se, de facto, falência, insolvência, quebra, desastre, catástrofe. Nestas condições, a entrada no mercado dos produtos petrolíferos das quantidades de crude encomendadas, há anos, especulativamente, criou uma situação de emergência internacional. É o fatal destino do capitalismo que vemos afirmar-se.
O desastre
Aliás, um bem colocado comentador da vida financeira americana, como é o reconhecido Jim Rogers, sócio do guru George Soros, declarava, há dias, o seguinte: «Salvar as companhias Fannie e Freddie, as maiores empresas financeiras para empréstimos hipotecários que possuem ou garantem propriedades no valor de cinco triliões de dólares, foi um desastre para o governo de Washington. As duas companhias, fundadas pelo próprio governo de Roosevelt em 1938, estão, basicamente, falidas. Mas os bancos não serão as derradeiras vítimas da maior crise financeira de todo o nosso tempo», afirmou. Naturalmente, as últimas vítimas da catástrofe a que estamos a assistir, aquelas que fecharão a porta ao edifício do capitalismo em ruínas, com todo o mundo a assistir não sabemos em que condições, serão os próprios governos ditos democráticos, aqueles que deram rédea livre à ruína e à especulação generalizada que temos estado a observar, incluindo, claramente, o governo português. Quereis descobrir a face do drama? Olhai os rostos amortecidos de Ben Barnanke (Presidente do Federal Reserve Board), de Henry Paulson (Secretário da Tesouraria), do próprio George W. Bush. Olhem-nos nos olhos. São rostos enigmáticos, cheios de uma história trágica que nunca esperaram viver. Andam a procurar controlar o incontrolável. De todos os quadrantes lhes surgem novos problemas. Como evitar a corrida internacional contra as dívidas em dólares por investimentos realizados por terceiros nos próprios Estados Unidos? Sempre são 750 biliões. A economia dos Estados Unidos está de rastos. Grita-se, em Washington: «Este país necessita, agora, de todos os seus amigos!». Mas o único que lhes responde é, como não podia deixar de ser, Javier Solana, que possui ambição, mas não tem capital.
Um olhar sobre a OPEP e sobre o passado
Aumentar a produção para baixar os preços
A OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), já fez crer que os preços baixarão, consideravelmente, em 2009. Os produtores de petróleo propõem aumentar a produção e os fornecimentos aos mercados consumidores na medida em que o abrandamento da economia global dê lugar a menos actividade e exigência naqueles mercados, criando uma falsa abundância. Espera-se que os preços do crude que, recentemente, estavam a $147, tombem, lentamente, para algo como $93 por barril. Como não se ignora, os preços do crude, a elevarem-se, constantemente, devido à manipulação acima referida, põem uma impossível pressão sobre os mercados consumidores. Neste momento, esses mercados, na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos especialmente, já estão a importar 19% menos crude, como se deduz das estatísticas publicadas, em relação ao que se verificava até há poucos meses. Mas os devastadores efeitos daquilo a que chamam a recessão estão, ainda, para produzir o esperado impacto. A espectacular crise da indústria automóvel americana está aí, mas ainda é pouco referida. O fantasma do mais doloroso tempo de desemprego paira sobre a vida industrial nos Estados Unidos. Temos muito para ver.
A OPEP, como se compreende, está profundamente atenta ao desenvolvimento da crise económica e financeira em todo o mundo, temendo uma repetição da suspensão de compras que se verificou em 1980. Mas não se está aí, ainda. A China, por exemplo, continua a importar intensivamente. Mesmo assim, os dirigentes dos países da OPEP desconfiam das finanças dos países seus clientes. Nos Estados Unidos, há múltiplos exemplos de uma instabilidade financeira cujas consequências seriam dramáticas se trazidas à luz do dia pelos países credores.
Mundo em mudança
Fundada a 14 de Setembro de 1960, a OPEP tinha como principal objectivo a defesa dos interesses dos respectivos países membros que as grandes companhias ocidentais dividiam para melhor os explorarem. Esses países eram, em 2004, os seguintes: Argélia, Indonésia, Irão, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, Qatar, Arábia Saudita, Emiratos Árabes Unidos, Venezuela. Mas, outros, como o Brasil, a Rússia e alguns estados da antiga URSS tornaram-se, igualmente, legítimos e poderosos parceiros internacionais no jogo da produção e da exportação do petróleo. A sede da organização está em Viena e, como se sabe, estes estados e as suas organizações, quando agindo em conjunto, têm conseguido, em situações às vezes precárias, pôr alguma ordem no mercado. Pelo contrário, a indisciplina e a desordem reinam no campo dos mercados importadores onde as operações comerciais são conduzidas por empresas privadas, por bancos de investimentos e por alguns dos mais salientes impérios do capitalismo. Uma das soluções mais apropriadas para os graves problemas causados pela anarquia que reina nos mercados de importação seria a nacionalização obrigatória de todas as empresas do ramo, incluindo as que se dedicam à refinação, e o desmantelamento das actividades dos colossos que dominam o sector dos produtos energéticos no enlouquecido mundo onde o capitalismo está a lançar sementes de miséria, de opressão e de ruína, como estamos a ver. Mas, disso não temos dúvidas, o mundo já caminha para algo que não será igual à conjuntura que existe, actualmente.
Tenhamos em conta que as relações entre as grandes companhias que dominam a produção, os transportes, a refinação e a distribuição do petróleo e dos seus múltiplos sub-produtos, foram sempre muito estreitas. Essas companhias são fortes, ricas e influentes, mas, contra o seu poderio, hão-de erguer-se todos os povos do mundo. Nos últimos anos verificou-se, entre elas, amalgamações, fusões, alianças, aquisições que transformaram a nomenclatura e o panorama de todo o negócio. Mas ficaram na História os nomes das chamadas 'sete irmãs' que, gigantescas, também transformaram a vida no nosso planeta, mas levando a miséria a todos os cantos do mundo, escravizando os homens, submetendo as nações à sua injusta e criminosa sede de mais lucros e de maior domínio. Pode dizer-se, assim, que tudo, ou quase tudo começou com as Standard Oil, Texas Oil Company, Gulf Oil, Socony Mobiloil, todas americanas, Shell e British Petroleum, inglesas, e a Compagnie Française des Pétroles. Como tudo acabará é que não sabemos, mas temos cá a nossa ideia …
Velha Pérsia e novo Irão
Em 1909, a Burma Oil Company, que adquirira os direitos de prospecção detidos desde 1901 pelo empreendedor e financeiro inglês, Willam Knox d’Arcy, descobriu importantes jazigos de petróleo e pôs em funcionamento a refinaria de Abadan. Contudo, sem capital suficiente para os empreendimentos em que pretendia lançar-se, caiu sob o controlo de uma nova e muito mais poderosa companhia, a Anglo-Persian Oil Company. Esta, tinha ao seu dispor a força do Almirantado britânico cujas esquadras dominavam os oceanos e a influência do seu primeiro lorde do mar, Winston Churchill. Em 1921, o general Riza Khan assume poderes absolutos e torna-se naquilo que se passou a designar como o Xá da Pérsia encaminhando-se, politicamente, para iniciativas e reformas de que o país, desejoso de consolidar a sua unidade e a sua independência, tão absolutamente carecia. Concluiu-se, assim, em 1933, um novo acordo com aquela que havia alterado o seu nome para Anglo-Iranian Oil Company e disse-se ao mundo que esse acordo contemplava melhor os interesses do Irão.
Sob a pressão das grandes potências e o árduo clima da 2.ª Guerra Mundial, o velho Riza Xá Palevi abdicava do seu trono imperial, em Setembro de 1941, a favor do seu filho, Muhammad Riza Xá Palevi. No fim da guerra, os interesses estrangeiros intensificaram as suas actividades no país dando lugar, inevitavelmente, a um recrudescer do sentimento nacional. Ouviu-se, então, a poderosa voz das massas populares em todo o país com a exigência suprema de que os interesses nacionais na indústria do petróleo fossem reconhecidos e de que essa indústria passasse para o controlo do país. Todo o Irão, todos os homens e mulheres, cidadãos, cidadãs, gente de todas as classes, apoiavam esta ambição. Mas os imperialistas britânicos e americanos tinham o novo Xá sob a sua influência, e, nessa situação, a eles pertenceria a última palavra.
Glória sem esperança nos dias de Mossadegh
Como quase sempre acontece, as potências ocidentais pretenderam rodear a vida política do Irão atrasado com amostras das suas próprias instituições. Essas potências, como não se ignora, andam há muitas décadas a agitar as bandeiras da democracia mas, democráticas, não são, verdadeiramente. Entendiam, porém, que as suas colónias ou os estados por elas subjugados, como era o caso do Irão, deviam ser tidos como países em vias de desenvolvimento económico e em luta pela consolidação das suas próprias instituições na democracia, o que, no capitalismo, jamais aconteceria. Nestes termos, o Irão possuía uma Constituição, um Parlamento, um Chefe do Estado (o Xá), mas não gozava das condições sociais autênticas sem a existência das quais não pode haver democracia. Foi assim que, em 1951, se verificou o assassinato do primeiro-ministro, Razmara. Gerara-se em todo o Irão um clima de desobediência às autoridades que exerciam o poder de acordo com os interesses dos imperialistas e não em concordância com as aspirações do país. O clima político tornou-se extremamente instável.
Multidões em fúria levam ao poder um dos mais populares deputados ao Majilis (Parlamento iraniano). Esse deputado chamava-se Mohammad Mossadegh, um homem que já ocupara os lugares de ministro das Finanças, da Justiça e da Defesa. Entretanto, em princípios de 1952, demitia-se do lugar de primeiro-ministro devido a que o Xá, Muhammad Riza Palevi, lhe recusava o controlo das Forças Armadas. Mas, confrontado com a determinada acção das massas populares nas ruas das cidades (20.07.1952), o soberano viu-se obrigado a mudar de ideias para, em Agosto, voltar a chamar Mossadegh para governar o Irão concedendo-lhe, finalmente, o controlo do aparelho militar nacional. Por essa altura, Mossadegh tinha-se tornado quase num herói internacional, respeitado por todos os cidadãos mundiais que não admitiam a interferência abusiva dos anglo-americanos nos assuntos internos do povo iraniano. Interessante é ler a imprensa portuguesa da época que acusava Mossadegh de não passar de um tirano que havia tirado o petróleo iraniano aos ingleses.
Fazer frente ao imperialismo
Mossadegh, fez votar no Parlamento a lei de nacionalização da indústria de extracção do petróleo e expulsou do país a Anglo-Iranian Oil Company. Com isso, levou o delírio à alma de toda a nação iraniana que se julgou chegada às portas da verdadeira independência. Quem se lhe opunha? Além dos anglo-americanos, Mossadegh tinha contra si todas as forças da reacção e do antigamente – o Xá, quase todos os generais do exército, a classe dos proprietários rurais e os religiosos mais destacados. O Partido Tudeh (comunista), tentava fazer-lhe ver as necessidades de desenvolver capacidades técnicas para a refinação, armazenagem e transportes, salientando que a URSS seria o parceiro ideal para que estes alvos pudessem ser atingidos. Como se sabe, o Partido Tudeh era um dos mais sólidos partidos internacionalistas e dos mais fiéis aliados do PC da URSS, mas Mossadegh, já envolvido numa terrível luta contra o tempo, preferia agir no quadro existente, além de que não considerava o Tudeh como um partido próximo da democracia que ele abraçara.
O imperialismo, usando os serviços secretos britânicos e a CIA, agiu com rapidez. Além de tornar impossível ao governo de Mossadegh conseguir os meios que lhe permitissem aceder à refinação do crude, suspendeu as compras ao Irão, decretou um embargo internacional ao seu crude e desenvolveu, com urgência, a produção alternativa de petróleo no Iraque e no Kuwait. Os depósitos iranianos nos bancos europeus e americanos foram congelados e a esquadra britânica viu-se mobilizada para o Golfo. Mossadegh, assim, caiu num enorme espaço vazio e, em breve, perderia os seus apoios políticos. O Xá, a 19 de Agosto de 1953, ordenava ao general Zahedi o encerramento do governo e a prisão dos seus membros. Mossadegh conseguiu fugir mas, dias depois, via-se forçado a render-se. Julgado pelas novas autoridades foi acusado, julgado e sentenciado pelo crime de traição e passou três anos de prisão em regime de completo isolamento. Até ao último dia da sua vida (05.03.1967) viveu em casa mas num regime de prisão domiciliária na aldeia de Ahmad Abad. O seu único crime, na verdade, foi ter feito frente aos imperialistas.