- Nº 1793 (2008/04/10)
Euromanifestação na Eslovénia

Milhares desfilam pelos salários

Europa
A recuperação do poder de compra e a exigência de aumentos salariais foi o tema central da manifestação europeia, realizada no sábado, 5, na cidade de Ljubljana, capital da Eslovénia.

Mais de 35 mil manifestantes, vindos de 29 países em representação de 54 sindicatos, expressaram a sua condenação às políticas europeias de austeridade que têm degradado sensivelmente o nível de vida das camadas trabalhadoras.
Desfilando a 25 quilómetros do local onde estavam reunidos os ministros das Finanças da União Europeia, os participantes apontaram o aumento das desigualdades e o disparo do número de trabalhadores em situação de pobreza.
Numa Europa cruzada de Leste a Oeste por intensas lutas reivindicativas, os responsáveis políticos insistem na retórica da contenção salarial, fechando os olhos à carestia de vida às dificuldades crescentes que atingem camadas cada vez mais vastas da população.
Na véspera da manifestação internacional, o presidente do Banco Central, Jean-Claude Trichet, criticou a Alemanha, onde na semana passada os sindicatos do sector público conseguiram um aumento de 5,1 por cento para mais de 1,3 milhões de trabalhadores.
Alegando que tais aumentos contribuem para o agravamento da inflação (curiosamente o mesmo argumento foi utilizado durante os anos em que a inflação desceu para níveis recorde) Trichet declarou que «seria um enorme erro imitar a Alemanha».
Inflações à parte, a verdade é que as políticas de redução real dos salários têm contribuído, isso sim, para o aumento exponencial dos lucros das grandes empresas.

Lucros e crise

Segundo constata a Confederação Europeia de Sindicatos (CES), organização que promoveu a marcha na Eslovénia , no conjunto dos 27 países que integram a UE, a parte dos salários no total da riqueza produzida baixou em média seis por cento desde 2001, a favor dos lucros e dos dividendos dos accionistas.
Ao mesmo tempo, nota ainda a CES, «os baixos salários e os elevados lucros» não provocaram um aumento do emprego, mas pelo contrário, «minaram a procura interna global».
Num momento em que a recessão é uma ameaça real, a política de austeridade apenas irá agravar a situação geral da economia já que, é sabido, o consumo das famílias, isto é, a elevação do bem-estar dos trabalhadores constitui o principal motor do crescimento. Porém, esta nunca foi a lógica do capitalismo, onde a obtenção do lucro máximo tenderá sempre para a pauperização dos trabalhadores, condenando a sociedade às «inevitáveis» crises cíclicas de sobreprodução.