Centenas de veteranos da chamada guerra ao terrorismo promovida pela administração Bush participaram na audição do
Winter Soldier 2008 realizada em Washington, D.C., de 13 a 16 de Março, no
National Labor College, um associado da AFL-CIO nos arredores de Washington.
A iniciativa de quatro dias, organizada pelos Veteranos do Iraque Contra a Guerra (IVAW, na sigla inglesa), foi a mais importante das centenas realizadas por todo o país durante a semana que assinalou o 5.º aniversário da invasão e ocupação norte-americana do Iraque.
A maioria dos veteranos participou nas ocupações do Iraque e/ou do Afeganistão – muitos em múltiplas missões de mais de 15 meses cada. Alguns ainda se encontram no activo. Nos seus relatos falam de espancamentos, prisões, torturas, humilhações e morte de civis pelas forças norte-americanas. E explicam que isso não é apenas uma prática de um pequeno grupo de indivíduos perturbados, antes faz parte do padrão de operações militares, em particular contra as pessoas que de forma mais evidente manifestam a sua oposição à ocupação do seu país.
Muitos estão afectados com memórias traumáticas e remorsos por terem participado em tais actos. A audição foi conduzida no formato de painéis com testemunhas oculares. Para além dos oradores, mais de 100 outros veteranos prestaram depoimentos detalhados das suas experiências de tratamentos cruéis durante a ocupação do Iraque.
Falando no primeiro dia de audições no painel sobre Regras de Combate (RoE, em inglês), o veterano Adam Kokesh, que esteve durante um ano, a partir de Fevereiro de 2004, em Fallujah, no Iraque, disse que os seus comandantes «mudavam o RoE mais vezes do que mudavam de camisa. A dada altura, impusemos o recolher obrigatório na cidade e disseram-nos para disparar contra tudo o que se movesse no escuro».
Steve Casey, que passou um ano no Iraque a partir de meados de 2003, não muito depois da invasão dos EUA que era suposto «libertar» o povo iraquiano, disse: «Vi soldados dispararem contra radiadores e janelas de carros parados. Os que não voltassem para trás eram desgraçadamente neutralizados de uma forma ou de outra – testemunhei isto pessoalmente mais de 20 vezes».
Jason Hurd esteve em serviço no centro de Bagdad durante um ano, a partir de Novembro de 2004. Contou como reagiu a sua unidade após se ter extraviado num tiroteio: «Disparámos indiscriminadamente contra um edifício. Coisas como estas acontecem frequentemente no Iraque. Nós reagimos com medo pelas nossas vidas, e reagimos com a destruição total.»
Jason Wayne Lemieux, um marine, esteve por três vezes no Iraque. Contou como de cada vez as regras de combate haviam sido mudadas para encorajar a carnificina de civis. Da segunda vez, se uma pessoa «trouxesse uma pá, ou estivesse no telhado a falar ao telemóvel, ou estivesse na rua depois do recolher, devia ser morta... Na terceira vez, disseram-nos apenas que podíamos matar pessoas, e que os oficiais tomariam conta de nós.»
Um marine veterano, o artilheiro John Michael Turner, arrancou as suas medalhas da camisa e deitou-as para o chão ao testemunhar sobre o assassinato de pessoas que ele sabia serem inocentes. «Quero dizer que estou arrependido pelo ódio e destruição que eu e outros infligimos a pessoas inocentes.»
Sindicatos tomam posiçãoA maioria dos membros do IVAW vem das fileiras dos alistados e tem cerca de 30 anos. São tanto de zonas urbanas como rurais. Muitos estavam encaminhados para enveredar pela carreira militar, mas agora são resistentes de guerra.
A audição foi apoiada do ponto de vista logístico e de pessoal pelos Veteranos Pela Paz e pelos Veteranos do Vietname Contra a Guerra, dois movimentos de uma geração anterior de dissidentes. Os seus testemunhos estão disponíveis em inglês no endereço
ivawNum desenvolvimento novo para os Estados Unidos, uma parte do movimento sindical está a planear levar a cabo acções contra a guerra durante os protesto do 1.º de Maio. O
International Longshore Workers (ILWU), um dos sindicatos mais activos relativamente às questões políticas, apelou a uma paralisação do trabalho nos portos da Costa Ocidental, a 1 de Maio, em protesto contra a guerra. «A direcção discutiu esta importante iniciativa e eu informei os trabalhadores sobre os nossos planos de fazer paralisações ('stop work') no 1.º de Maio», disse o presidente internacional da ILWU, Bob McEllrath.
Na Costa Oriental, o
New York Metro Área, secção local do
American Postal Workers Union, vai observar «dois minutos de silêncio às 1:00 AM, 9:00 AM e 5:00 PM» durante os três turnos de 1 de Maio para mostrar a sua oposição à guerra e ocupação do Iraque e às ameaças de Bush de atacar o Irão e a Síria.
(*) Michael Kramer é membro da organização Veteranos Pela Paz – Secção 021 e fez parte do pessoal de apoio da audição Winter Soldier.
Michael Kramer