Grande obreiro do Partido
O PCP homenageou, na Marinha Grande, o destacado dirigente e militante comunista José Gregório, no dia em que se cumpririam 100 anos do seu nascimento. A sua morte prematura, ainda durante os anos de luta clandestina contra o fascismo, privou o povo português de conhecer a fundo a história e a entrega ímpares deste comunista, a quem Abril muito deve.
José Gregório foi um dos principais obreiros da reorganização do PCP dos anos 40
Os primeiros anos da vida de José Gregório não se diferenciam muito da de outros jovens da sua geração na localidade operária da Marinha Grande. Aos oito anos, já percorria diariamente o caminho entre a sua casa e a fábrica, onde se iniciava como aprendiz de vidreiro.
O trabalho duro, a infância gozada a espaços e a convivência com os seus camaradas operários constituem uma escola de luta, num sector que se afirmava já, à época, dos mais combativos. Com apenas 12 anos, em 1920, José Gregório era já um activo participante e dirigente da greve dos pequenos operários da empresa CIP, e apenas quatro anos depois dava um destacado contributo para a reorganização da Associação de Classe dos Operários Garrafeiros. Estava-se em 1924.
Em 1929, os efeitos da Grande Depressão chegam à Europa e a Portugal e os seus efeitos são avassaladores na indústria vidreira. Muitas fábricas são encerradas e os operários são «desviados» para a construção das estradas que rasgam o Pinhal de Leiria. Entre eles estava o jovem José Gregório, que aí se destacará, com outros, na dinamização da exigência de transporte e melhores salários.
Entre 1929 e 1933, o futuro dirigente comunista assume, com António Guerra, Augusto Costa, entre outros, a condução da luta dos vidreiros, com destaque para as célebres «Marchas da Fome». Também na batalha pela unificação das associações sindicais de classe, que se concretizará em 1931, José Gregório assume um inestimável papel.
No ano seguinte, está novamente em destaque, ao ser um dos impulsionadores e dirigentes da greve de nove meses da Guilherme Pereira Roldão. Esta greve acabaria por sair vitoriosa, tendo contado com o apoio dos operários de todas as fábricas, bem como das suas famílias, que garantiram o salários aos grevistas.
Estava-se já no período da ditadura militar e o fascismo aproximava-se. A repressão sobre dirigentes, activistas sindicais e operários em luta intensificava-se. Muitos são presos e perseguidos. À repressão responde a população da Marinha Grande com grandes manifestações de massas de solidariedade.
José Gregório era dirigente do sindicato quando, em 1933, o governo de Salazar manda encerrar a sede do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Indústria Vidreira, ao passo que iniciava a fascização dos sindicatos. É neste ano intenso que José Gregório adere ao PCP.
O 18 de Janeiro de 1934
José Gregório estava na Marinha Grande no dia 18 de Janeiro de 1934. O governo encerrara os sindicatos livres e os trabalhadores respondem com a realização de um levantamento nacional insurreccional. José Gregório destaca-se tanto na preparação como na sua realização.
Se no resto do País, o levantamento foi pouco mais do que incipiente, na Marinha Grande os operários chegaram a tomar o poder na vila. Dirigidos por José Gregório e António Guerra, que gizam o plano e distribuem tarefas, os operários marinhenses cercam o posto da GNR e forçam-no à rendição. Por horas, a vila esteve ocupada e foi instituído o Soviete da Marinha Grande.
Mas a heroicidade não bastou para vencer a batalha, tal era a disparidade de forças. A repressão atacou com ferocidade e acabou por quebrar a resistência. Mas o 18 de Janeiro de 1934 na Marinha Grande fica para sempre marcado como um feito heróico da classe operária portuguesa, que ousou sonhar e lutar por um mundo sem exploração nem opressão.
Muitos dos revolucionários do 18 de Janeiro foram alvo de uma extrema violência por parte da repressão. Vários foram condenados a largos anos de prisão.
Dirigente clandestino
Procurado na Marinha Grande, sitiada e esmagada pelas forças do fascismo, José Gregório parte para outras paragens, para prosseguir o combate contra a ditadura. Na Guerra Civil de Espanha, realiza tarefas de retaguarda. Em 1938, é preso quando reentrava em Portugal, tendo sido brutalmente espancado.
Libertado na «amnistia» de 1940, reingressa de imediato na luta clandestina.
Juntamente com Álvaro Cunhal, Militão Ribeiro, Sérgio Vilarigues, Pires Jorge, Manuel Guedes, Pedro Soares e Júlio Fogaça, José Gregório (Alberto, de pseudónimo) está no grupo de militantes comunistas que levam a cabo a reorganização de 1940/41.
Uma das suas responsabilidades que assumiu foi a montagem e instalação da tipografia com que se reiniciou a publicação do Avante!, em Agosto de 1941. Sempre acompanhado pela sua companheira, Amélia Fonseca do Carmo, José Gregório desenvolve um importante trabalho organizativo no Algarve e no Norte, dirigindo as regiões do Porto, Vale do Vouga, Coimbra e Trás-os- Montes.
Membro do Comité Central e do seu Secretariado, tem um lugar destacado na elaboração e concretização da linha sindical do Partido. As quais não foram alheias às grandes lutas operárias do dos anos 40. Sobre as greves de 1942 e 42, afirmaria no seu relatório ao III Congresso: «Pela maneira como organizou e conduziu as massas trabalhadoras nas jornadas de Julho/Agosto, o nosso Partido dirigiu o maior movimento operário desde o advento do fascismo.» No IV Congresso é relator do importante Relatório sobre Actividade Sindical.
Perante a vaga repressiva de 1949, que conduziu à prisão de dirigentes como Álvaro Cunhal e Militão Ribeiro, José Gregório faz parte do grupo de direcção que, até 1952, recuperam e reforçam o Partido, ao nível da sua disciplina e unidade.
Em 1956, parte para Checoslováquia, gravemente doente. É neste país que acaba por falecer, em Maio de 1961.
Em 18 de Janeiro de 1975, os seus restos mortais regressam à sua Marinha Grande natal. A cerimónia transformou-se numa das mais impressionantes manifestações populares ocorridas naquela localidade.
Homenagem no Museu do Vidro
O Museu do Vidro, na Marinha Grande, foi o local escolhido pelo PCP para a sessão de homenagem a José Gregório, que se realizou na quarta-feira, 19 de Março, e que reuniu perto de cem pessoas. À tarde, já meia centena de pessoas se tinha concentrado junto à campa que acolheu os restos mortais de José Gregório.
Na sessão evocativa, João Dias Coelho, da Comissão Política, realçou que a vida de José Gregório «fica marcada pelo seu combate e pela luta contra o fascismo e a construção de uma sociedade livre da exploração do homem pelo homem, pelo socialismo e comunismo». E lembrou que iniciativas como aquelas são de enorme importância para «dar a conhecer e divulgar junto das novas gerações o papel do Partido na luta contra o fascismo, pela democracia e a liberdade».
O dirigente do PCP destacou a actualidade da intervenção de José Gregório no IV Congresso do Partido acerca do trabalho sindical, «face à brutal ofensiva politica e ideológica que se hoje desenvolve contra o movimento sindical de classe e os comunistas que por direito próprio nele participam e são o garante da sua natureza de classe e características essenciais».
Nesse informe, cita João Dias Coelho, Gregório afirma que «para acertada e justamente avaliarmos a linha política do Partido em relação a todos os aspectos da vida nacional e referentes à luta pela defesa dos interesses da classe operária e do povo português, para que o nosso Partido possa assentar, de acordo com a hora que passa, nas futuras tarefas a realizar, correspondentes ao derrubamento do fascismo, torna-se necessário e imprescindível considerar, muito atentamente a importância do movimento sindical bem como em relação a ele a posição do nosso Partido».
Para contrariar as teses actualmente em voga dos «sindicatos neutrais», o membro da Comissão Política volta a citar José Gregório: «Há todavia quem no seio da classe operária aconselhe e defenda a neutralidade dos sindicatos em relação a importantes problemas referentes à vida dos trabalhadores e do nosso País. Isto é, há quem afirme e defenda que os sindicatos se devem abster de fazer quaisquer acções de carácter político, limitando-se unicamente a uma actividade de carácter económico.»
Ora, prosseguia José Gregório, «não combater uma tal concepção a respeito da orientação a imprimir ao movimento sindical representaria privar a classe trabalhadora duma potente arma que possui na luta contra o seu inimigo e para atingir o seu objectivo final». Concluindo, «os sindicatos nunca deverão ser neutrais sempre e quando se trata da defesa dos interesses da classe operária. Nunca poderão pôr de lado a luta política sempre e quando se trata da defesa de quaisquer interesses da classe trabalhadora e do povo».
A exposição ficará patente no local até 30 de Março.
O trabalho duro, a infância gozada a espaços e a convivência com os seus camaradas operários constituem uma escola de luta, num sector que se afirmava já, à época, dos mais combativos. Com apenas 12 anos, em 1920, José Gregório era já um activo participante e dirigente da greve dos pequenos operários da empresa CIP, e apenas quatro anos depois dava um destacado contributo para a reorganização da Associação de Classe dos Operários Garrafeiros. Estava-se em 1924.
Em 1929, os efeitos da Grande Depressão chegam à Europa e a Portugal e os seus efeitos são avassaladores na indústria vidreira. Muitas fábricas são encerradas e os operários são «desviados» para a construção das estradas que rasgam o Pinhal de Leiria. Entre eles estava o jovem José Gregório, que aí se destacará, com outros, na dinamização da exigência de transporte e melhores salários.
Entre 1929 e 1933, o futuro dirigente comunista assume, com António Guerra, Augusto Costa, entre outros, a condução da luta dos vidreiros, com destaque para as célebres «Marchas da Fome». Também na batalha pela unificação das associações sindicais de classe, que se concretizará em 1931, José Gregório assume um inestimável papel.
No ano seguinte, está novamente em destaque, ao ser um dos impulsionadores e dirigentes da greve de nove meses da Guilherme Pereira Roldão. Esta greve acabaria por sair vitoriosa, tendo contado com o apoio dos operários de todas as fábricas, bem como das suas famílias, que garantiram o salários aos grevistas.
Estava-se já no período da ditadura militar e o fascismo aproximava-se. A repressão sobre dirigentes, activistas sindicais e operários em luta intensificava-se. Muitos são presos e perseguidos. À repressão responde a população da Marinha Grande com grandes manifestações de massas de solidariedade.
José Gregório era dirigente do sindicato quando, em 1933, o governo de Salazar manda encerrar a sede do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Indústria Vidreira, ao passo que iniciava a fascização dos sindicatos. É neste ano intenso que José Gregório adere ao PCP.
O 18 de Janeiro de 1934
José Gregório estava na Marinha Grande no dia 18 de Janeiro de 1934. O governo encerrara os sindicatos livres e os trabalhadores respondem com a realização de um levantamento nacional insurreccional. José Gregório destaca-se tanto na preparação como na sua realização.
Se no resto do País, o levantamento foi pouco mais do que incipiente, na Marinha Grande os operários chegaram a tomar o poder na vila. Dirigidos por José Gregório e António Guerra, que gizam o plano e distribuem tarefas, os operários marinhenses cercam o posto da GNR e forçam-no à rendição. Por horas, a vila esteve ocupada e foi instituído o Soviete da Marinha Grande.
Mas a heroicidade não bastou para vencer a batalha, tal era a disparidade de forças. A repressão atacou com ferocidade e acabou por quebrar a resistência. Mas o 18 de Janeiro de 1934 na Marinha Grande fica para sempre marcado como um feito heróico da classe operária portuguesa, que ousou sonhar e lutar por um mundo sem exploração nem opressão.
Muitos dos revolucionários do 18 de Janeiro foram alvo de uma extrema violência por parte da repressão. Vários foram condenados a largos anos de prisão.
Dirigente clandestino
Procurado na Marinha Grande, sitiada e esmagada pelas forças do fascismo, José Gregório parte para outras paragens, para prosseguir o combate contra a ditadura. Na Guerra Civil de Espanha, realiza tarefas de retaguarda. Em 1938, é preso quando reentrava em Portugal, tendo sido brutalmente espancado.
Libertado na «amnistia» de 1940, reingressa de imediato na luta clandestina.
Juntamente com Álvaro Cunhal, Militão Ribeiro, Sérgio Vilarigues, Pires Jorge, Manuel Guedes, Pedro Soares e Júlio Fogaça, José Gregório (Alberto, de pseudónimo) está no grupo de militantes comunistas que levam a cabo a reorganização de 1940/41.
Uma das suas responsabilidades que assumiu foi a montagem e instalação da tipografia com que se reiniciou a publicação do Avante!, em Agosto de 1941. Sempre acompanhado pela sua companheira, Amélia Fonseca do Carmo, José Gregório desenvolve um importante trabalho organizativo no Algarve e no Norte, dirigindo as regiões do Porto, Vale do Vouga, Coimbra e Trás-os- Montes.
Membro do Comité Central e do seu Secretariado, tem um lugar destacado na elaboração e concretização da linha sindical do Partido. As quais não foram alheias às grandes lutas operárias do dos anos 40. Sobre as greves de 1942 e 42, afirmaria no seu relatório ao III Congresso: «Pela maneira como organizou e conduziu as massas trabalhadoras nas jornadas de Julho/Agosto, o nosso Partido dirigiu o maior movimento operário desde o advento do fascismo.» No IV Congresso é relator do importante Relatório sobre Actividade Sindical.
Perante a vaga repressiva de 1949, que conduziu à prisão de dirigentes como Álvaro Cunhal e Militão Ribeiro, José Gregório faz parte do grupo de direcção que, até 1952, recuperam e reforçam o Partido, ao nível da sua disciplina e unidade.
Em 1956, parte para Checoslováquia, gravemente doente. É neste país que acaba por falecer, em Maio de 1961.
Em 18 de Janeiro de 1975, os seus restos mortais regressam à sua Marinha Grande natal. A cerimónia transformou-se numa das mais impressionantes manifestações populares ocorridas naquela localidade.
Homenagem no Museu do Vidro
O Museu do Vidro, na Marinha Grande, foi o local escolhido pelo PCP para a sessão de homenagem a José Gregório, que se realizou na quarta-feira, 19 de Março, e que reuniu perto de cem pessoas. À tarde, já meia centena de pessoas se tinha concentrado junto à campa que acolheu os restos mortais de José Gregório.
Na sessão evocativa, João Dias Coelho, da Comissão Política, realçou que a vida de José Gregório «fica marcada pelo seu combate e pela luta contra o fascismo e a construção de uma sociedade livre da exploração do homem pelo homem, pelo socialismo e comunismo». E lembrou que iniciativas como aquelas são de enorme importância para «dar a conhecer e divulgar junto das novas gerações o papel do Partido na luta contra o fascismo, pela democracia e a liberdade».
O dirigente do PCP destacou a actualidade da intervenção de José Gregório no IV Congresso do Partido acerca do trabalho sindical, «face à brutal ofensiva politica e ideológica que se hoje desenvolve contra o movimento sindical de classe e os comunistas que por direito próprio nele participam e são o garante da sua natureza de classe e características essenciais».
Nesse informe, cita João Dias Coelho, Gregório afirma que «para acertada e justamente avaliarmos a linha política do Partido em relação a todos os aspectos da vida nacional e referentes à luta pela defesa dos interesses da classe operária e do povo português, para que o nosso Partido possa assentar, de acordo com a hora que passa, nas futuras tarefas a realizar, correspondentes ao derrubamento do fascismo, torna-se necessário e imprescindível considerar, muito atentamente a importância do movimento sindical bem como em relação a ele a posição do nosso Partido».
Para contrariar as teses actualmente em voga dos «sindicatos neutrais», o membro da Comissão Política volta a citar José Gregório: «Há todavia quem no seio da classe operária aconselhe e defenda a neutralidade dos sindicatos em relação a importantes problemas referentes à vida dos trabalhadores e do nosso País. Isto é, há quem afirme e defenda que os sindicatos se devem abster de fazer quaisquer acções de carácter político, limitando-se unicamente a uma actividade de carácter económico.»
Ora, prosseguia José Gregório, «não combater uma tal concepção a respeito da orientação a imprimir ao movimento sindical representaria privar a classe trabalhadora duma potente arma que possui na luta contra o seu inimigo e para atingir o seu objectivo final». Concluindo, «os sindicatos nunca deverão ser neutrais sempre e quando se trata da defesa dos interesses da classe operária. Nunca poderão pôr de lado a luta política sempre e quando se trata da defesa de quaisquer interesses da classe trabalhadora e do povo».
A exposição ficará patente no local até 30 de Março.