
- Nº 1790 (2008/03/20)
Municipais francesas
Sarkozy desautorizado
Europa
O repúdio dos franceses pelas políticas anti-sociais do governo de Sarkozy foi reforçado no domingo, na segunda volta das eleições municipais e cantonais em França. A direita no poder perdeu em número de votos e de municípios conquistados. A derrota foi estrondosa.
Os partidos de oposição alcançaram em conjunto 49,34 por cento dos votos, contra 47,55 obtidos pelos conservadores, praticamente a mesma diferença já observada uma semana antes, na primeira volta do escrutínio.
Depois da maré azul das presidenciais de Maio de 2007, a impopularidade crescente do presidente Sarkozy traduziu-se num sério revés eleitoral para o seu partido, União por um Movimento Popular.
Os piores e mais pesados resultados da direita registaram-se precisamente nas maiores cidades. Das 160 urbes com mais de 30 mil habitantes que antes governava, a UMP perdeu 36, mas o descalabro foi maior no conjunto das 37 cidades com mais de 100 mil habitantes existentes no país. Aqui, dos 21 municípios que controlava, a direita perdeu nove, restando-lhe 12.
Embora tenha conservado importantes centros como Marselha, Bordéus, Nice, Toulon, Nancy ou Orleães, a UMP foi derrotada em Toulouse, Estrasburgo, Rouen ou mesmo Saint-Denis da Reunião, a maior cidade insular do país. O mesmo sucedeu em Metz, Reims, ou Saint-Etienne.
Por seu lado, os socialistas passaram a controlar sete das dez maiores cidades do país e 14 dos 20 maiores centros urbanos. Vitorioso, o líder socialista declarou que Sarkozy «deve corrigir a política conduzida». Lembrando que «a esquerda é maioritária em votos», François Holande considerou que «o presidente da República é obrigado a escutar a mensagem dos franceses».
Por seu turno, Sarkozy, que esteve praticamente ausente na campanha eleitoral, evitou prestar declarações mas fez saber em vésperas do escrutínio que manterá o rumo, embora admita proceder a ligeiros ajustes governamentais e, sobretudo, mudanças no seu estilo presidencial e na sua comunicação.
PCF mantém posições
Constatando a «grande derrota da direita», Michel Laurent, responsável pelas eleições do PCF, afirmou na noite das eleições que o Partido Comunista Francês «conservou o essencial dos municípios», embora tenha lamentado a perda de Calais, cidade gerida pelos comunistas desde há 37 anos, devido à desistência, à última da hora, do candidato da Frente Nacional para o cabeça de lista da UMP.
Em contrapartida, a acrescentar às vitórias obtidas logo na primeira volta, os comunistas conquistaram, no último domingo, novas cidades médias como Villepinte, Villeneuve-Saint-Georges, Portes-les-Valence, Firminy, Aubière, Villerupt, Queven et Roissy-en-Brie. No conjunto, segundo dados daquele dirigente, o PCP disporá de 89 presidências em cidades com mais de nove mil habitantes contra 86 que dispunha no mandato anterior, mantendo o número de 28 municípios com mais de 30 mil habitantes.
Contudo, a perda para os socialistas da cidade de Aubervilliers e para a candidata verde do município de Montreuil, levaram à perda da presidência do departamento de Seine-Sant-Denis, gerido pelos comunistas desde a sua criação em 1967.
A perda destas duas cidades foi resultado directo da quebra do acordo eleitoral por parte dos socialistas que decidiram manter candidaturas na segunda volta contra o PCF, acabando por beneficiar do voto útil da direita para derrotar o candidato comunista.
A segunda volta registou um aumento recorde da abstenção, que superou os 38,3 por cento, contra perto de 25 por cento no sufrágio de há uma semana.