Falar dos doentes
Anunciava-se em «Sociedade Civil» uma conversa subordinada ao título «Que futuro para o SNS?». É claro que era de visionamento obrigatório. Direi mesmo que era de obrigatório visionamento para todos os cidadãos portugueses porque, é claro, doentes somos todos nós, se não no presente decerto no passado e seguramente no futuro. Infelizmente, «Sociedade Civil» é transmitida em horário inacessível à esmagadora maioria dos que (ainda) têm emprego e os consequentes horários, às 14 horas dos dias úteis: é mais um exemplo do significativo critério da RTP quanto ao cumprimento do serviço público que lhe está cometido. Por mim, sintonizei a RTP2 à hora certa e encontrei no ecrã os três convidados que a jornalista Fernanda de Freitas recebia naquele dia: Jorge Simões, professor de Gestão e Política de Saúde, Adalberto Fernandes, presidente do Conselho de Administração dos hospitais de Santa Maria e Pulido Valente, e Maria Augusta de Sousa, bastonária da Ordem dos Enfermeiros. Pareceu-me uma equipa sólida e achei que com ela ia aprender muitas coisas. E aprendi, naturalmente. O que não aprendi foi a resposta à pergunta que era título do programa, e foi na verdade uma pena pois, como bem se sabe, essa é uma questão que nos tempos que vão correndo inquieta a generalidade dos portugueses. Em compensação, digamos assim, aprendi quase logo de entrada e graças ao dr.Jorge Simões que a sustentabilidade (o que eu gosto desta palavra!) do Serviço Nacional de Saúde depende das verbas que são consignadas ao seu financiamento. Para falar com franqueza, como qualquer outro cidadão já me tinha lembrado disso, mas ainda assim fiquei agradecido ao dr.Jorge Simões, porque ouvir esta revelação a um professor de Gestão e Saúde Pública tem outro sabor. Aliás, por causa desta coisa da sustentabilidade e das verbas financiadoras do SNS é que são vistas com tão maus olhos pela generalidade da população certas despesas de necessidade abaixo do duvidoso (a compra dos submarinos do dr.Portas ocorre sempre ao primeiro plano da memória) e a tributação generosamente baixa lançada sobre a banca engordada por lucros conhecidamente fabulosos, dois exemplos entre muitos casos. Dizendo-o de outro modo, dir-se-á que o nó do problema se situa no OE e na repartição das despesas públicas para fazer face às diversas necessidades do País, isto é, do povo. Porque, convém lembrá-lo uma vez mais, a despesa pública há-de ser a devolução às populações, sob a forma de serviços necessários, dos impostos pelas populações pagos para esse mesmo destino.
Um e-mail indecifrável
É claro que falar do SNS e do seu futuro é de facto falar dos doentes e do que eles podem ou não fazer para defender a sua vida. Por isso, decerto, depressa chegou à conversa a crescente presença da iniciativa privada na área da Saúde. Também neste ponto a intervenção do dr.Jorge Simões foi relevante ao dizer que «nenhuma unidade pública (de Saúde) foi privatizada», mas apenas a sua gestão que, segundo ele, quando privada «é muito mais eficiente». Por acaso, esta eficiência parece de duvidosas consequências em mais de um lugar (o Hospital Amadora-Sintra será disso um instrutivo exemplo), mas o senhor doutor é que é professor. A suposta moralidade deste passo da conversa seria a de que a crescente privatização dos cuidados de Saúde em Portugal é um boato sem fundamento. Infelizmente, a realidade está aí a confirmá-lo, e o número de cidadãos que já subscreveram seguros de Saúde, cerca de dois milhões segundo informou Fernanda de Freitas, tende a corroborá-lo. Lá mais para diante, e para justificação da existência de hospitais privados, o dr.Jorge explicou que nestes há mais conforto, melhor hotelaria. Para quem a pode pagar, naturalmente. Em verdade, este precioso esclarecimento podia ter sido dado usando-se uma fórmula antiga: sempre houve ricos e pobres, e assim continuará a haver. Como este espaço está a esgotar-se, acrescento apenas que em dada altura a jornalista leu um e-mail recebido. Nele eram referidos «os donos dos políticos», «os proprietários dos políticos». Curiosamente, quer o dr.Jorge quer o dr.Adalberto, ambos de inquestionáveis sabedorias, disseram não perceber o que aquilo queria dizer- Ele há coisas fantásticas, não há?
Um e-mail indecifrável
É claro que falar do SNS e do seu futuro é de facto falar dos doentes e do que eles podem ou não fazer para defender a sua vida. Por isso, decerto, depressa chegou à conversa a crescente presença da iniciativa privada na área da Saúde. Também neste ponto a intervenção do dr.Jorge Simões foi relevante ao dizer que «nenhuma unidade pública (de Saúde) foi privatizada», mas apenas a sua gestão que, segundo ele, quando privada «é muito mais eficiente». Por acaso, esta eficiência parece de duvidosas consequências em mais de um lugar (o Hospital Amadora-Sintra será disso um instrutivo exemplo), mas o senhor doutor é que é professor. A suposta moralidade deste passo da conversa seria a de que a crescente privatização dos cuidados de Saúde em Portugal é um boato sem fundamento. Infelizmente, a realidade está aí a confirmá-lo, e o número de cidadãos que já subscreveram seguros de Saúde, cerca de dois milhões segundo informou Fernanda de Freitas, tende a corroborá-lo. Lá mais para diante, e para justificação da existência de hospitais privados, o dr.Jorge explicou que nestes há mais conforto, melhor hotelaria. Para quem a pode pagar, naturalmente. Em verdade, este precioso esclarecimento podia ter sido dado usando-se uma fórmula antiga: sempre houve ricos e pobres, e assim continuará a haver. Como este espaço está a esgotar-se, acrescento apenas que em dada altura a jornalista leu um e-mail recebido. Nele eram referidos «os donos dos políticos», «os proprietários dos políticos». Curiosamente, quer o dr.Jorge quer o dr.Adalberto, ambos de inquestionáveis sabedorias, disseram não perceber o que aquilo queria dizer- Ele há coisas fantásticas, não há?