1 de Março, em Lisboa

Muitas razões para marchar

«O PCP não aceita a sistemática violação das liberdades e a degradação do regime democrático. Para o PCP, a realização de uma Marcha em defesa da Liberdade e da Democracia constitui uma afirmação clara da actualidade dos valores de Abril e do respeito pelas liberdades, direitos e garantias que a Constituição da República Portuguesa consagra. Marcha que está aberta à participação de todos os que, preocupados com a situação do País, querem um futuro de liberdade, democracia e progresso social.» (do apelo da Marcha «Liberdade e Democracia»)
A Marcha «Liberdade e Democracia» realiza-se no próximo dia 1 de Março, em Lisboa. O arranque está marcado para o jardim do Príncipe Real às 14.30 horas, finalizando no Rossio, com um comício onde intervirá o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa. A animação musical estará a cargo de Samuel e Manuel Pires da Rocha.
Durante o percurso, está prevista a passagem junto ao Tribunal Constitucional, onde os militantes comunistas serão convidados a exibir o seu cartão do PCP.
As razões que estão na base da convocação da Marcha foram anunciadas por Jerónimo de Sousa numa conferência de imprensa em 17 de Janeiro. Na ocasião, o secretário-geral do Partido lembrou que nos 34 anos que se seguiram à Revolução de Abril «o regime democrático tem sido alvo de um violento ataque em todas as suas componentes – económica, política, social e cultural – caracterizado por um profundo, persistente e sistemático afrontamento aos direitos e liberdades democráticas».
O dirigente comunista relembrou também que a «democracia política está a sofrer ataques inquietantes, com o Governo do PS a enveredar por um caminho perigoso em que se revelam cada vez mais os traços de intolerância e autoritarismo, da repressão do protesto, de policialização da sociedade, de governamentalização da Justiça, de limitações à liberdade de imprensa, de ataques aos trabalhadores e aos seus direitos».
Estes ataques, prosseguiu então, «servem a consolidação do domínio crescente do poder económico sobre todas as esferas da vida política e social e têm como objectivo impedir e reprimir as expressões de descontentamento e luta popular e combater os que, como o PCP, não se conformam e assumem o legítimo direito de contestar as suas políticas e propor alternativas».
Relembramos algumas das mais significativas razões para marchar.

Leis an­ti­de­mo­crá­ticas visam o PCP

Aprovadas a 24 de Abril (!) de 2003 pelo PS, PSD e PP, e inseridas numa suposta «reforma do sistema político», as leis dos Partidos e do Financiamento dos partidos e das campanhas eleitorais constituem um forte ataque ao regime democrático, visando em primeiro lugar o PCP e a Festa do Avante!.
Com a Lei dos Partidos visa-se a imposição de um modelo único de funcionamento partidário. Logo em 2003, o PCP afirmou tratar-se de uma «inaceitável ingerência na vida interna dos partidos, abusivamente condicionada pela via legal». Numa declaração da Comissão Política de 30 de Abril daquele ano, afirmou-se que a «formatação rígida que se pretende impor em questões como as formas de votação, os procedimentos eleitorais internos ou o universo de órgãos de direcção, a par do retomar de traços de judicialização da vida partidária, constituem uma afronta ao livre prosseguimento da actividade dos partidos, que a Constituição consagra como princípio fundamental».
Com a lei do Financiamento dos Partidos e das Campanhas Eleitorais pretende-se criar dificuldades aos partidos que, como o PCP, vivem sobretudo das suas receitas próprias conseguidas na base do esforço dos seus militantes e organizações. Por outro lado, aumentam as subvenções estatais aos partidos. Também a angariação de fundos na Festa do Avante! e noutras iniciativas políticas do PCP se vê dificultada.
Na fase preparatória do XVII Congresso do PCP, em centenas de assembleias e reuniões, foi aprovada uma moção onde se proclamava que «só aos militantes do PCP – e a mais ninguém – cabe o direito soberano e intransmissível de decidirem como funciona e se organiza o PCP». Nessa moção, aprovada também no próprio Congresso, responsabilizava-se o então Presidente da República, Jorge Sampaio, e aqueles três partidos «pelas consequências para a liberdade de associação e organização política que decorre da aplicação destas leis antidemocráticas e inconstitucionais, com o estado de sítio que instalam e as arbitrariedades a que abrem caminho». E reafirmava-se o compromisso dos comunistas de desenvolver o combate a estas leis, lutando pela sua revogação.
Na sua intervenção sobre a alteração aos Estatutos do Partido, Francisco Lopes não deixou dúvidas: «Que ninguém tenha a ilusão que, mesmo por via legislativa, transformará o PCP num outro partido, dócil, conveniente, submetido ao poder e à ideologia do grande capital que domina a sociedade portuguesa.» «Não nos resignamos face a estas leis antidemocráticas e inconstitucionais.»
A recente suspensão, pelo Tribunal Constitucional, da exigência de prova do número de militantes por parte dos partidos políticos não altera em nada a gravidade destas leis.

Calar a voz ao des­con­ten­ta­mento

Ameaçados nos seus salários e direitos, os trabalhadores portugueses sofrem ataques sem precedentes à sua liberdade de organização e luta. Em muitas empresas, o exercício de direitos sindicais é proibido, sem que haja qualquer intervenção das entidades públicas, mesmo quando solicitada.
Nos locais de trabalho, sucedem-se as ilegalidades, as violações de direitos dos trabalhadores, o roubo de bens e toda a espécie de prepotências patronais. Sempre gozando de total impunidade. Mas quando os trabalhadores exercem os seus direitos, as forças policiais têm sido chamadas a intervir a mando do patronato, e em confronto com a lei.
Obedecendo às ordens dos patrões, agentes da autoridade intimidam e identificam trabalhadores, dispersam piquetes de greve com recurso à força, expulsam dirigentes sindicais das empresas onde exercem legalmente a sua actividade. Isto aconteceu, por exemplo, nos CTT de Guimarães, na Scotturb ou na Valorsul.
Também os direitos de associação, reunião e manifestação são cada vez mais postos em causa. Esta semana, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção do Sul, João Serpa, foi condenado a uma pena de prisão, convertida depois em multa, por participação em «manifestação ilegal». Na interpelação do Grupo Parlamentar do Partido ao Governo sobre o estado da democracia, realizada em Dezembro, foram denunciados outros casos recentes.
Na Covilhã, a polícia visitou a sede do Sindicato dos Professores para obter informações sobre uma manifestação, tendo contado com o apoio da governadora civil; em Montemor-o-Velho, um dirigente sindical foi incomodado por um agente policial e constituído arguido por participar numa manifestação; junto da Residência Oficial do primeiro-ministro, dois dirigentes do PCP foram constituídos arguidos por entregar um abaixo-assinado. O Governador Civil de Braga, oito meses depois de uma manifestação em Guimarães, mandou a PSP processar criminalmente quatro dirigentes sindicais sob a acusação de terem promovido uma manifestação não autorizada.
Também nas escolas, se procura impedir a natural expressão do descontentamento dos estudantes. Numa escola em Valongo, uma manifestação de estudantes adolescentes deu lugar a uma desproporcionada operação policial, enquanto que a Direcção Regional de Educação de Lisboa ordenou aos professores e funcionários que tomassem parte na desmobilização de lutas estudantis.
Em vários concelhos do País vão crescendo as limitações à liberdade de expressão e de propaganda, com regulamentos inconstitucionais e intromissões abusivas de autoridades no exercício de liberdades fundamentais.

Porta aberta ao poder ab­so­luto

Na sequência de um acordo entre o PS e o PSD, foi recentemente apresentada uma proposta de alteração à lei eleitoral para as autarquias locais. Com essas alterações, ambos os partidos pretendem eliminar a eleição directa das câmaras municipais e garantir, de modo administrativo, uma maioria absoluta a quem detém a presidência, mesmo quando essa não é a vontade expressa pelos eleitores.
Com estas alterações, PS e PSD visam a criação de um sistema assente em dois partidos, o que se traduzirá no esmagamento das forças políticas minoritárias, com o consequente empobrecimento da pluralidade democrática. A composição das câmaras municipais passaria a estar dependente da escolha unipessoal do respectivo presidente (o primeiro candidato da lista mais votada para a Assembleia Municipal), alterável a qualquer momento por vontade desde.
Este caminho, a ser seguido, traduzir-se-ia num prejuízo do funcionamento colegial dos órgãos autárquicos, na redução do nível de fiscalização democrática e na ampliação da margem para uma gestão menos transparente.
A 28 de Novembro de 2007, o PCP condenou o acordo entre PS e PSD para revisão das leis eleitorais. Desde que o projecto foi entregue, outras vozes se juntaram à rejeição destas alterações, nomeadamente a Associação Nacional dos Municípios Portugueses e a Associação Nacional das Freguesias.
Em preparação está também a revisão das leis eleitorais para a Assembleia da República.


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Jovens lutam por um mundo melhor

Lisboa acolheu, de sexta-feira a domingo, uma reunião do Conselho Geral da Federação Mundial da Juventude Democrática (FMJD). Nesta iniciativa participaram cerca de 80 delegados de mais de 40 organizações de juventude de países de todos os continentes do globo, representando as várias organizações membro do FMJD, organização de reconhecida projecção mundial (recebeu da ONU a distinção de Mensageiro da Paz), que actualmente é presidida por uma organização portuguesa: A Juventude Comunista Portuguesa. Esta reunião realizou-se num contexto de uma violência imperialista contra vários povos do mundo, de onde se destacam o povo da Palestina, Sahara Ocidental, Iraque, Afeganistão, Sudão, Chade, entre muitos outros que, vítimas de uma saqueadora agressão por parte das grandes potências imperialistas (particularmente os EUA, União Europeia e Japão) lutam diariamente, muitas vezes, pela própria sobrevivência. Durante estes três dias foram ainda abordados os processos de resistência à exploração que inúmeros povos do mundo vivem no seu país, lutando contra o capitalismo e as injustiças que lhe são inerentes. Nesse sentido, destaca-se a presença de delegados de organizações que escolheram e constroem sociedades diferentes, alternativas à exploração e à injustiça, como Cuba, República Democrática e Popular da Coreia, Venezuela, Vietname e Zimbabué. Paralelamente a esta reunião, realizou-se, no sábado, no Centro de Trabalho Vitória, um encontro com o secretário-geral do PCP, que alertou para os «grandes perigos e ameaças aos trabalhadores e aos povos do planeta». Pediu ainda a «participação, intervenção e luta da juventude» na «construção de um mundo melhor».

Intensificar o protesto

Depois de o plenário nacional do STAL e do STML, dia 30, em Lisboa, cerca de 500 representantes dos trabalhadores das autarquias manifestaram-se nas ruas e diante da Secretaria de Estado da Administração Local, onde avisaram que se o Governo não iniciar negociações até 14 de Fevereiro, a luta vai endurecer.