Mísseis norte-americanos e caso Litvinenko adensam tensão

Velho Continente em clima de guerra fria

A Rússia decidiu suspender o Tratado sobre Forças Convencionais na Europa até que todos os signatários decidam cumpri-lo. A decisão é a resposta de Moscovo ao alargamento da presença militar norte-americana na Europa de Leste.

A Rússia contesta o avanço da NATO a Leste

O presidente russo, Vladimir Putin, decidiu, sábado, ordenar a suspensão da vigência do Tratado sobre Forças Convencionais na Europa, assinado em 1990 por cerca de 30 países da NATO e do então Pacto de Varsóvia, e em vigor desde 1992.
Se nos próximos 150 dias a diplomacia não for capaz de serenar a crise entre a emergente potência capitalista do Leste da Europa e as homólogas do eixo transatlântico, a corrida às armas regressa abertamente ao Velho Continente, depois de 15 anos onde a discrição imperou entre as partes.
No decreto presidencial - entretanto enviado à diplomacia holandesa, país a quem cabe o papel de «guardião» do TFCE -, Putin justifica-se com a crescente presença de forças da NATO junto das suas fronteiras, «circunstâncias extraordinárias» que exigem «medidas inalienáveis» que permitam ao Kremlin reestruturar os mecanismos e meios de defesa do território da Federação Russa.
Em causa estão a instalação de um sistema de radares e mísseis na República Checa e na Polónia e o rearmamento das bases que Washington mantém na Europa, nomeadamente através da «instalação de armas convencionais na Bulgária e na Roménia», disse Putin, situação que «se reflecte no cumprimento das limitações impostas pelo Tratado», acrescentou.
No mesmo sentido, Moscovo não aceita que lhe seja exigido o encerramento das instalações militares na Geórgia e na Moldávia. A premissa faz parte da versão do documento no centro do conflito, revisto em 1999, em Istambul, mas Putin e as altas chefias militares russas entendem que tal só será possível quando «todos os países da NATO ratifiquem a nova versão do Acordo e comecem a cumpri-lo honestamente».
Nos últimos meses a Rússia lançou sérios avisos aos membros da NATO sobre esta matéria, afirmando que se a Aliança Atlântica insistisse na desestabilização da região não restava outro caminho senão responder com investimentos semelhantes em armamento e tecnologia militar.

UE e EUA

Em resposta à decisão do Kremlin, UE, EUA e NATO manifestam-se «decepcionados» e «muito preocupados».
Da parte da Casa Branca, cujo conteúdo da reacção acabou por ser repetido pela NATO, a reacção não se fez esperar. Em nome do Conselho de Segurança Nacional norte-americano, o porta-voz Gordon Johndroe sublinhou «que é do interesse de todos garantir segurança à Europa», declaração que apesar de pouco musculada não condiz com a prática de Washington no que ao avanço para Leste diz respeito.
Já a UE considerou, através de um comunicado emitido pela presidência portuguesa, ser necessário «um maior empenhamento no diálogo entre todas as partes», condição fundamental para ltrapassar esta situação» e assegurar o que classificam como um «marco na segurança e estabilidade».

Londres acirra ânimos

Paralelamente à crise em torno do TFCE, Londres e Moscovo envolveram-se em nova polémica relativamente ao caso da morte do suposto ex-espião russo Alexander Litvinenko, em Novembro de 2006, alegadamente envenenado com uma substância radioactiva, o Polónio-210, colocada no chá que tomou numa unidade hoteleira na Grã-Bretanha na companhia de dois compatriotas.
Do N.º 10 de Downing Street, foram dadas ordens claras às autoridades judiciais inglesas para que pedissem formalmente à Rússia a extradição do principal suspeito do crime, Andrei Lugovoi, mas o ministério dos Negócios Estrangeiros russo sempre se recusou a deferir o pedido.
Londres não gostou da posição russa e segunda-feira revelou que vai expulsar quatro funcionários da embaixada da Rússia no país. David Miliband, o principal responsável pela diplomacia britânica aduziu ainda que o governo agora liderado por Gordon Brown não hesitará em pedir a extradição de Lugovoi caso este viagem para um qualquer país com quem Londres tenha acordo nesse sentido.
O chefe das relações externas russo, Serguei Lavrov, qualificou as expulsões como um acto de «provocação» e lembrou que caso a medida seja mesmo implementada a relação entre os dois países ficará gravemente «deteriorada».
Lavrov não esquece igualmente que o executivo britânico se recusa em extraditar o magnata Boris Berezovsky e o independentista tchecheno Akhmed Zakayev, acusados de diversos crimes na Rússia e tidos como dos mais empenhados animadores das campanhas públicas contra Vladimir Putin.


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