A miséria motora da população (conclusão)
Ao longo deste século a «miséria motora» tem raízes históricas e sociais para um vasto grupo de habitantes da nossa Terra. Hoje, quando se começa a falar no autêntico escândalo constituída pela miséria e a «grande» miséria dentro dos próprios países desenvolvidos, convém não esquecer que ela, antes de tudo, se reflecte no corpo e no espírito, ou seja, na personalidade total daqueles que a sofrem.
Tudo isto traduz a existência de uma autêntica «miséria corporal» que não constitui uma expressão oca, ou um conceito abstracto criado para chocar ou fazer agitação política. É uma realidade que se traduz em situações concretas na vida das populações: significa que existe menor resistência a muitas doenças, que a fadiga é sentida com maior intensidade e mais dificilmente suportada, que a insegurança no trabalho é maior, que os tempos livres são menos ricos, que a vida pode ser mais curta, que o crescimento não se dá em toda a sua plenitude, e que o desenvolvimento das capacidades dos mais aptos só se consegue por puro acaso (ex. Joaquim Agostinho, Carlos Lopes, Rosa Mota e mais alguns).
Uma análise da realidade mostra-nos com clareza: os hábitos de sedentarismo acompanhados pelos da má alimentação, a alcolização e o tabaco, têm origem histórica no desprezo que uma filosofia exclusivamente valorizadora das coisas do espírito votava ao corpo sede de todos os prazeres pecaminosos e condenado a desaparecer a muito curto prazo. As gerações mais velhas lembram-se muito bem das «várias proibições» a que foram sujeitas (e, nalguns casos, continuam a perdurar !): na escola, na minha escola, era proibido correr nos recreios, jogar era algo de terrível e os alunos passavam horas de angustiada imobilidade numas carteiras de pau e ferro que eram autênticos instrumentos de tortura.
É certo que muitos de nós escapávamos a estes «campos de concentração» (normalmente formando autênticos «armazéns» de rapazinhos, pois as raparigas, essas eram um encanto de recato e quietude...) e voávamos pelos campos, subindo às árvores, à cata de ninhos e outros frutos, jogando à bola e caçando vasta bicharada.
Paradoxos
Mas, ainda hoje muitos pais e professores se queixam da irrequietude dos seus filhos e alunos(as), mas que inúmeras vezes têm bons resultados escolares em todas as disciplinas (muita coisa haveria a dizer deste termo que designava as diferentes «matérias»). Hoje, quase todos eles já não aceitam as antigas limitações e as escolas já baniram algumas delas. Mas também, na generalidade dos casos, não conseguem viver a alegria da escapadela proibida para sentirem o prazer de gozarem o corpo livre no espaço ilimitado dos campos... porque estes, pura e simplesmente desapareceram debaixo do alcatrão e do cimento.
Paradoxos da evolução do tempos... que privam, agora de outra forma, a expressão do movimento, como «alimento natural» e insubstituível na vida dos citadinos, com graves consequências para o desenvolvimento completo das crianças que, em termos médios, sabemos estarem a sofrer um progressivo aumento de obesidade, exemplo significativo de outros males.
No entanto, os dados fornecidos pela ciência são formais: a privação da actividade física devidamente orientada (portanto de carácter formativo) constitui um sério empobrecimento da vida individual, atingindo directamente o processo educativo da juventude, a capacidade de produzir do adulto, a melhoria da qualidade de vida dos idosos. Mas para além das próprias práticas, as condições actuais de que se reveste o fenómeno desportivo, demonstram que a simples aquisição das técnicas não é suficiente. É indispensável que uma certa cultura seja transmitida de forma a que se tenha uma compreensão concreta do que é o estádio, daquilo que nele se passa e de como é importante a prática individual regular.
Além disso, é urgente reformular a cidade, impedindo que o reino imperial do automóvel se continue a alargar, roubando aos humanos, não só o espaço, mas também o próprio ar. Seja dito em abono da verdade que toda esta situação que assume já características de uma autêntica catástrofe, tem origem nas mesmas causas históricas de que se falou no início.
Tudo isto traduz a existência de uma autêntica «miséria corporal» que não constitui uma expressão oca, ou um conceito abstracto criado para chocar ou fazer agitação política. É uma realidade que se traduz em situações concretas na vida das populações: significa que existe menor resistência a muitas doenças, que a fadiga é sentida com maior intensidade e mais dificilmente suportada, que a insegurança no trabalho é maior, que os tempos livres são menos ricos, que a vida pode ser mais curta, que o crescimento não se dá em toda a sua plenitude, e que o desenvolvimento das capacidades dos mais aptos só se consegue por puro acaso (ex. Joaquim Agostinho, Carlos Lopes, Rosa Mota e mais alguns).
Uma análise da realidade mostra-nos com clareza: os hábitos de sedentarismo acompanhados pelos da má alimentação, a alcolização e o tabaco, têm origem histórica no desprezo que uma filosofia exclusivamente valorizadora das coisas do espírito votava ao corpo sede de todos os prazeres pecaminosos e condenado a desaparecer a muito curto prazo. As gerações mais velhas lembram-se muito bem das «várias proibições» a que foram sujeitas (e, nalguns casos, continuam a perdurar !): na escola, na minha escola, era proibido correr nos recreios, jogar era algo de terrível e os alunos passavam horas de angustiada imobilidade numas carteiras de pau e ferro que eram autênticos instrumentos de tortura.
É certo que muitos de nós escapávamos a estes «campos de concentração» (normalmente formando autênticos «armazéns» de rapazinhos, pois as raparigas, essas eram um encanto de recato e quietude...) e voávamos pelos campos, subindo às árvores, à cata de ninhos e outros frutos, jogando à bola e caçando vasta bicharada.
Paradoxos
Mas, ainda hoje muitos pais e professores se queixam da irrequietude dos seus filhos e alunos(as), mas que inúmeras vezes têm bons resultados escolares em todas as disciplinas (muita coisa haveria a dizer deste termo que designava as diferentes «matérias»). Hoje, quase todos eles já não aceitam as antigas limitações e as escolas já baniram algumas delas. Mas também, na generalidade dos casos, não conseguem viver a alegria da escapadela proibida para sentirem o prazer de gozarem o corpo livre no espaço ilimitado dos campos... porque estes, pura e simplesmente desapareceram debaixo do alcatrão e do cimento.
Paradoxos da evolução do tempos... que privam, agora de outra forma, a expressão do movimento, como «alimento natural» e insubstituível na vida dos citadinos, com graves consequências para o desenvolvimento completo das crianças que, em termos médios, sabemos estarem a sofrer um progressivo aumento de obesidade, exemplo significativo de outros males.
No entanto, os dados fornecidos pela ciência são formais: a privação da actividade física devidamente orientada (portanto de carácter formativo) constitui um sério empobrecimento da vida individual, atingindo directamente o processo educativo da juventude, a capacidade de produzir do adulto, a melhoria da qualidade de vida dos idosos. Mas para além das próprias práticas, as condições actuais de que se reveste o fenómeno desportivo, demonstram que a simples aquisição das técnicas não é suficiente. É indispensável que uma certa cultura seja transmitida de forma a que se tenha uma compreensão concreta do que é o estádio, daquilo que nele se passa e de como é importante a prática individual regular.
Além disso, é urgente reformular a cidade, impedindo que o reino imperial do automóvel se continue a alargar, roubando aos humanos, não só o espaço, mas também o próprio ar. Seja dito em abono da verdade que toda esta situação que assume já características de uma autêntica catástrofe, tem origem nas mesmas causas históricas de que se falou no início.