Como formar um colectivo de empresa

Como abordar os trabalhadores de uma empresa onde não há militantes comunistas? Como criar um colectivo da JCP? Como organizar trabalhadores não sindicalizados? As respostas surgem com base numa experiência concreta recente.
Assim como não há receitas para o trabalho da JCP, não existem também para a criação de colectivos de empresa. Existem, sim, experiências concretas e muitas vezes diferentes em que vamos aprendendo. O trabalho colectivo e a intervenção organizada dos comunistas nos locais de trabalho é o caminho indispensável. As dificuldades e os resultados são realidades únicas, onde se aprende sempre. O elemento permanente é a importância de lá intervirmos, porque uma experiência é uma experiência e não são sempre iguais.
Esta foi assim. Na JCP viu-se que era importante distribuir documento aos trabalhadores de uma empresa de que pouco ou nada se conhecia, mas que tinha um número de jovens trabalhadores elevado. A primeira distribuição confirmou a importância. De cada vez que lá se voltava, conhecia-se melhor os horários, os problemas e as dificuldades. Os documentos tornaram-se mais concretos e os trabalhadores iam dizendo: «Vocês são os únicos que se importam». Também isso dava alento para lá voltar.
Ao fim de várias distribuições, a estranheza em relação à nossa presença tornou-se simpatia, que depois se transformou em respeito. Percebe-se que não é com uma distribuição – nem com duas, nem três – que se cria organização. É com uma presença regular e nos momentos certos. É preciso persistência.
Apareceu o primeiro recrutamento. Marcou-se um encontro com o novo camarada num dia em que lá se ia distribuir. Disse-nos que não era boa ideia parar para falar em frente da empresa, compreendemos. Combinamos que íamos distribuir à hora da saída e que, quando recebesse o documento, diria «Até já» para se saber que era ele. Assim foi. Como combinado, ouviu-se o esperado «Até já». Um camarada foi ter ao local do encontro e os outros juntaram-se um pouco mais tarde, porque era preciso terminar a distribuição. Chegado ao local combinado, na mesa de um café, não estava só ele, mas mais dois amigos. Perguntou se tinha mal. Não tinha mal nenhum, inscreveram-se todos na JCP.
Conversou-se sobre os problemas na empresa e sobre o que era a JCP e o PCP, sobre a luta dos trabalhadores, a sindicalização e o próximo documento, que agora podia ser muito melhor, pois já tínhamos mais informações sobre o que se passava dentro da empresa.
O camarada que lá foi falar com eles tinha um caderno pousado sobre a mesa, com os autocolantes do Partido e da JCP visíveis. A certa altura, já durava a conversa uns tempos, deixaram todos de falar e ficaram a olhar para o camarada e para o caderno. Percebeu a tempo o motivo do receio e guardou-o. Estavam a entrar alguns supervisores no café. O camarada pediu desculpa pela imprudência e mudou-se o tema da conversa para futebol durante alguns minutos, até irem embora e depois voltaram com boa disposição ao motivo do encontro.
No fim da conversa saíram com reunião marcada para um local melhor, o Centro de Trabalho do PCP mais próximo, e pagaram logo as quotas. Os camaradas que então já tinham terminado a distribuição chegaram, conheceram os novos militantes e lá foram todos embora.
Assim foi a primeira reunião. Foi-se conversar com um novo camarada e saiu-se com um pequeno colectivo, que depois, com o trabalho, foi crescendo.

Con­ti­nuar o tra­balho

Nas reuniões seguintes, sempre difíceis de marcar pelos horários incompatíveis, foi-se decidindo falar com os colegas de trabalho de maior confiança e recrutar para a JCP, assim como levar fichas de sindicalização. Alertando para os cuidados necessários, mas também sem transmitir medo aos camaradas, com o tempo – corajosos como são os jovens e ainda mais quando são comunistas – levam documentos e deixam-nos nas casas de banho e junto aos cacifos. Começam a assumir-se como comunistas junto dos outros operários.
É importante agir de forma inteligente. Muitas vezes os vínculos laborais são precários. Não se pode expor demasiado os camaradas, mas também são necessários trabalhadores corajosos. É um equilíbrio difícil de conseguir e as dúvidas vão surgindo. É necessário avaliar o momento e as condições, agindo da melhor forma, ouvindo bem a opinião de todos.
Desde a primeira vez em que a JCP lá foi, passaram dois anos e meio. Durante os primeiros meses a intervenção nem sempre foi regular, nem sempre foi a necessária. Depois de definirmos a empresa como prioritária e percebermos o significado da sua importância, começamos a lá ir muito regularmente. Umas vezes com documentos específicos sobre os problemas, outras com campanhas nacionais da JCP. Tem sido também importante a articulação com o Partido, em que camaradas mais experientes vão acompanhado as dúvidas que aparecem.
Elegeram-se recentemente os delegados sindicais e o contributo da JCP é importante, mas não o único. Depois de bastante tempo, existem agora trabalhadores que vão pelo seu próprio pé sindicalizarem-se e contam aos outros. Agora os trabalhadores tem finalmente a sua organização de classe na empresa. Nesta fábrica, as habituais reuniões impostas pela administração aos trabalhadores – onde os patrões falavam durante horas – vão ter agora uma voz diferente, amiga, a de um plenário da CGTP-IN. É outra história.

Di­fi­cul­dades e po­ten­ci­a­li­dades

Devemos valorizar as conquistas, não como absolutas, mas na medida em que nos permitem avançar. Sem exageros de sentimentos de que já está tudo feito, porque é mais fácil deixar cair do que levantar. Criar é muito motivador. No 8.º Congresso da JCP foram reforçadas as linhas de trabalho para a intervenção junto dos jovens trabalhadores e esta é uma importante orientação a cumprir.
O trabalho não terminou, como nunca termina. O mais importante é continuar e intensificar com solidez a actividade da JCP, responsabilizar mais camaradas por esta frente de trabalho e melhorar a nossa capacidade de identificar e agir de forma mais ágil. O fundamental é mais do que esta empresa, é poder ter em mais fábricas e locais de trabalho, com concentração de mão-de-obra juvenil, colectivos de jovens comunistas e reforçar a JCP junto da classe operária, o que será certamente um contributo para o Partido e para a luta. Onde há JCP, há Partido.
Aqui, nesta empresa, novas dificuldades têm surgido e novas potencialidades também. É preciso continuar a recrutar e a sindicalizar. Um camarada veio-se embora por não aceitar aquelas condições de trabalho, outro porque acabou o contrato e não foi renovado e outro ainda porque quer continuar os estudos e já participa na organização do ensino superior. Já lá não trabalham, mas sem o seu contributo não teria sido possível os passos que se deram e todos se disponibilizam para lá ir distribuir documentos. Foram recrutando-se outros que hoje lá trabalham e outros virão.
O colectivo de empresa da JCP lá está e tem a próxima reunião marcada, no Centro de Trabalho do PCP mais próximo.


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