AS LUTAS QUE AÍ VÊM

«O trabalho preparatório da jornada de 2 de Março é a grande tarefa do momento»

A acção nacional de luta convergente, marcada para 2 de Março pela CGTP-IN, constitui um importante passo em frente na acção organizada dos trabalhadores em defesa dos seus direitos e interesses e por uma mudança de política. Trata-se de, nesse dia, juntar numa só torrente, dando-lhes uma continuidade convergente, as muitas lutas sectoriais e de empresa que têm vindo a ser levadas a cabo; trata-se, ainda e ao mesmo tempo, de trazer à luta mais e mais trabalhadores, todos vítimas da política de direita ao serviço dos interesses do grande capital. Em causa estão questões tão concretas e prementes como direitos essenciais dos trabalhadores: o direito ao emprego e à estabilidade no emprego, o direito à contratação colectiva, o direito à liberdade de organização sindical, o direito ao trabalho com direitos, o direito a salários dignos; questões como as que decorrem da intenção do Governo de José Sócrates de aprovar com carácter de urgência a chamada Reforma na Administração Pública que visa o despedimento de milhares de trabalhadores; questões resultantes das consequências do ataque por parte do Governo aos serviços públicos, com o fecho de escolas, de centros de saúde, de maternidades, de urgências e serviços de atendimento permanente; questões que têm a ver com as incidências cada vez mais gravosa da política de direita nas condições de vida dos reformados e pensionistas – enfim, questões que convocam à luta contra a política de direita e por uma política que inicie a resolução dos muitos e graves problemas que afectam a imensa maioria dos portugueses e portuguesas.

Os ataques a direitos dos trabalhadores são sempre ataques à democracia, na medida em que têm como objectivo e consequência prejudicar a maioria e favorecer a minoria. A situação existente no nosso País é bem reveladora dessa realidade. As centenas de milhares de trabalhadores desempregados - cujo número continua a aumentar, ao contrário do que prometeu e diz o primeiro-ministro; o aumento da precariedade – que tende a generalizar-se com terríveis incidências sociais, civilizacionais e em matéria de direitos e liberdades; a tão badalada flexi-segurança – apresentada como último grito de modernidade, mas, de facto, tendo como objectivo impor a liberalização desenfreada dos despedimentos, a desregulação dos horários de trabalho e a precarização do mercado de trabalho, ou seja, liquidar direitos e colocar os trabalhadores na total dependência dos interesses e da vontade do grande patronato; os baixos salários e as baixas reformas, com aumentos tirados a ferros mas sempre abaixo da subida de custos dos bens essenciais - constituem exemplos flagrantes do conceito de democracia social adoptado pela política de direita: uma democracia ao serviço da minoria que explora e oprime a maioria, uma democracia que tem vindo de forma sistemática a golpear a democracia de Abril, em frontal desrespeito pela Constituição da República Portuguesa.

O facto de aumentar o número de trabalhadores e de outros cidadãos que se apercebem desse embuste, o denunciam e contra ele lutam, é por demais significativo e relevante. Um traço comum às últimas grandes acções de massas organizadas pela CGTP-IN é, precisamente, o do aparecimento nessas manifestações de gente que participa pela primeira vez em iniciativas desse tipo. E esse é um dado que importa ter em consideração porque quer dizer que há mais gente a aperceber-se da justeza da luta e da importância da sua própria participação nessa luta; quer dizer que as reivindicações do movimento sindical unitário ganham terreno e conquistam novos segmentos sociais; quer dizer que faz caminho e avança a ideia do papel determinante e decisivo da luta de massas no combate à política de direita e na conquista de uma alternativa de esquerda; quer dizer que vale a pena lutar – coisa que já sabíamos por experiência de muitas lutas ao longo dos tempos, mas que agrada ver confirmada nesta situação concreta em que a luta dos trabalhadores e das populações se apresenta como caminho indispensável para a conquista dos objectivos definidos.

Assim, o trabalho preparatório da jornada de luta do próximo 2 de Março – designadamente a mobilização e a organização das deslocações – coloca-se-nos como a grande tarefa do momento. Nela deverão estar empenhados não apenas os militantes do Partido e da JCP dirigentes e activistas sindicais, mas todo o nosso grande colectivo partidário, desde os organismos de direcção de sector às células de empresa e de local de trabalho; desde as organizações de freguesia às de concelho, distrito e região. E o mesmo há que dizer em relação à manifestação nacional dos jovens trabalhadores, convocada para 28 de Março.
Como afirmou o camarada Jerónimo de Sousa na intervenção proferida na sexta-feira passada, no Porto, as lutas que aí vêm «assumem particular importância para a criação de uma ampla frente social pela exigência da interrupção da política de direita e na afirmação de um novo rumo para o país, assente numa política alternativa e de esquerda que retome os valores de Abril.»