Fundamentalismos pacóvios
Para quem já se tenha esquecido da expressão pacóvio, esclareça-se que encerra um grande número de componentes nela subentendidos, tais como parvo, parolo, pateta, toleirão, etc. Pacóvio é todo aquele que se prende a uma visão de um passado congelada no tempo e a transforma numa fantasia que tenta transmitir aos outros, com a intenção deliberada de os convencer e enganar. Isto, por entre imagens de uma auto-estima ilimitada e exibindo a máscara da convicção. O verdadeiro pacóvio político é essencialmente um contador de histórias inventadas cuja intenção é induzir em erro os que o escutam. Vem isto a propósito de casos exemplares recentemente ocorridos na quadra do Natal. Uns, na área fundamentalista da governação; outros, com a assinatura e timbre de altos prelados da Igreja.
O engenheiro Sócrates, um grande ficcionista da Globalização, contou de novo ao povo português a parábola das suas realizações como primeiro-ministro. A economia caminha com segurança, a passo de caracol. Tão vagarosamente vai que nem sequer se nota o seu andar. Mas há remédio para este contratempo. Para acelerar o passo, basta entregar o que resta do Estado à Igreja e ao grande capital financeiro. O ensino, a saúde, a comunicação, a segurança social, têm de passar para o domínio da sociedade civil (da Igreja ), dos ATL das instituições de solidariedade privadas (da Igreja), das Misericórdias (da Igreja), dos hospitais particulares (da Igreja), das creches e infantários (da Igreja), etc., etc. Simultaneamente, o governo socialista(!) rende-se à estética da ética do dinheiro e da caridade e atribui, em cada dia que passa, novos privilégios aos grandes apóstolos da filantropia, tais como o J.P. Morgan (Rockefeller mais a Santa Sé) ou o famoso Rendeiro (Banco Privado Português, Ellipse Foundation, Bill Clinton e um grupo de 110 importantes empresários que detêm 40% do PIB nacional e cujo objectivo central é a anexação de toda a área da Educação e do pré-escolar, amarrando as escolas ao poder empresarial. O Governo de Sócrates já manifestou o seu total apoio a este lobby que surge a pretexto de ser uma espontânea e fulminante resposta da sociedade civil ao apelo de Cavaco Silva na luta contra a exclusão. Declara o capitalista Rendeiro: «Quero fazer parte da turma do bem!». É a ligação à doutrina da igreja. Palavras comovedoras mas que não convencem...
O fundamentalismo relativo dos bispos
De momento, a igreja não dá a cara neste negócio. Por pouco tempo será. A sua presença já é mais que evidente na Saúde, na Educação, na Segurança Social, nas Finanças, na Justiça. E ao contrário do que possa parecer, os bispos só são rígidos e dogmáticos em relação ao povo pequeno. Outro é o seu discurso quando falam com amigos, sócios ou aliados da Igreja.
Ergue-se agora o pano de boca do grande espectáculo da cantata do aborto. Os bispos tinham dito que não falavam mas lá nos vão abrindo os seus corações. É o que é próprio da sua natureza!
Na Mensagem de Natal, o cardeal-patriarca alinhou na equipa de Rendeiro e preferiu falar na luta contra a exclusão social. Mas lá foi dizendo de sua justiça: «Sejam quais forem os motivos, abortar é sempre negar o lugar a um ser humano». Trata-se, portanto, de um delito grave que a igreja pode punir com a exclusão. Curiosa contradição de D. José que luta contra a exclusão e nela se apoia.
Depois, desfilam pelo palco os outros bispos, numa apurada afinação. «A IVG representa o regresso ao tempo dos expostos, dos meninos da Roda dos Mosteiros da Idade Média», considerou D. João Miranda, bispo do Porto. «A hierarquia deixou clara, em vários pronunciamentos, a posição da Igreja de rejeição absoluta do aborto», declarou D. Manuel Clemente, bispo auxiliar de Lisboa. «O que neste momento está em questão não é termos consideração por uma mulher que decide abortar... é olharmos para a realidade de um ser vivo que poderia ter uma vida e deixou de a ter», afirmou D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga. D. Manuel Franco Falcão, Bispo Emérito de Beja, já tinha definido os quadros do dogma: «Aborto. O delito e a pena. É a morte do feto no seio materno ou fora dele, independentemente do tempo de gestação ».
Por aqui se vê qual é o panorama que a igreja coloca ao próximo referendo. Os resultados da consulta apenas serão importantes como índices da sujeição ou da rejeição popular da Doutrina da Fé.
Aliás, a par do desenvolvimento da campanha, é curioso observar-se como se está a constituir, entre o episcopado e a sociedade civil, um forte movimento que branqueia a imagem de Ratzinger, esquece o que ele foi e o entroniza como patrono da doutrina social e firme condutor das almas.
Fiquemos atentos a todos estes sinais.
O engenheiro Sócrates, um grande ficcionista da Globalização, contou de novo ao povo português a parábola das suas realizações como primeiro-ministro. A economia caminha com segurança, a passo de caracol. Tão vagarosamente vai que nem sequer se nota o seu andar. Mas há remédio para este contratempo. Para acelerar o passo, basta entregar o que resta do Estado à Igreja e ao grande capital financeiro. O ensino, a saúde, a comunicação, a segurança social, têm de passar para o domínio da sociedade civil (da Igreja ), dos ATL das instituições de solidariedade privadas (da Igreja), das Misericórdias (da Igreja), dos hospitais particulares (da Igreja), das creches e infantários (da Igreja), etc., etc. Simultaneamente, o governo socialista(!) rende-se à estética da ética do dinheiro e da caridade e atribui, em cada dia que passa, novos privilégios aos grandes apóstolos da filantropia, tais como o J.P. Morgan (Rockefeller mais a Santa Sé) ou o famoso Rendeiro (Banco Privado Português, Ellipse Foundation, Bill Clinton e um grupo de 110 importantes empresários que detêm 40% do PIB nacional e cujo objectivo central é a anexação de toda a área da Educação e do pré-escolar, amarrando as escolas ao poder empresarial. O Governo de Sócrates já manifestou o seu total apoio a este lobby que surge a pretexto de ser uma espontânea e fulminante resposta da sociedade civil ao apelo de Cavaco Silva na luta contra a exclusão. Declara o capitalista Rendeiro: «Quero fazer parte da turma do bem!». É a ligação à doutrina da igreja. Palavras comovedoras mas que não convencem...
O fundamentalismo relativo dos bispos
De momento, a igreja não dá a cara neste negócio. Por pouco tempo será. A sua presença já é mais que evidente na Saúde, na Educação, na Segurança Social, nas Finanças, na Justiça. E ao contrário do que possa parecer, os bispos só são rígidos e dogmáticos em relação ao povo pequeno. Outro é o seu discurso quando falam com amigos, sócios ou aliados da Igreja.
Ergue-se agora o pano de boca do grande espectáculo da cantata do aborto. Os bispos tinham dito que não falavam mas lá nos vão abrindo os seus corações. É o que é próprio da sua natureza!
Na Mensagem de Natal, o cardeal-patriarca alinhou na equipa de Rendeiro e preferiu falar na luta contra a exclusão social. Mas lá foi dizendo de sua justiça: «Sejam quais forem os motivos, abortar é sempre negar o lugar a um ser humano». Trata-se, portanto, de um delito grave que a igreja pode punir com a exclusão. Curiosa contradição de D. José que luta contra a exclusão e nela se apoia.
Depois, desfilam pelo palco os outros bispos, numa apurada afinação. «A IVG representa o regresso ao tempo dos expostos, dos meninos da Roda dos Mosteiros da Idade Média», considerou D. João Miranda, bispo do Porto. «A hierarquia deixou clara, em vários pronunciamentos, a posição da Igreja de rejeição absoluta do aborto», declarou D. Manuel Clemente, bispo auxiliar de Lisboa. «O que neste momento está em questão não é termos consideração por uma mulher que decide abortar... é olharmos para a realidade de um ser vivo que poderia ter uma vida e deixou de a ter», afirmou D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga. D. Manuel Franco Falcão, Bispo Emérito de Beja, já tinha definido os quadros do dogma: «Aborto. O delito e a pena. É a morte do feto no seio materno ou fora dele, independentemente do tempo de gestação ».
Por aqui se vê qual é o panorama que a igreja coloca ao próximo referendo. Os resultados da consulta apenas serão importantes como índices da sujeição ou da rejeição popular da Doutrina da Fé.
Aliás, a par do desenvolvimento da campanha, é curioso observar-se como se está a constituir, entre o episcopado e a sociedade civil, um forte movimento que branqueia a imagem de Ratzinger, esquece o que ele foi e o entroniza como patrono da doutrina social e firme condutor das almas.
Fiquemos atentos a todos estes sinais.