A MAIS PROMISSORA MENSAGEM

«Com a luta as coisas podem mudar num sentido favorável à maioria dos portugueses»

É hábito antigo dos governantes que usam tomar decisões que sabem desagradar à maioria dos governados, escolher os períodos em que as ditas decisões podem passar mais despercebidas e, por isso, serem menos contestadas. O período Natal/Ano Novo é, como se sabe e a experiência nos diz, um tempo de eleição para esse tipo de manobras governamentais: é nessa altura que, para além de outras decisões de que mais tarde nos viremos a aperceber, os governantes decidem os aumentos dos preços dos bens essenciais e os aumentos de salários – os primeiros sempre aumentando mais do que os segundos, como mandam os interesses dos grandes grupos económicos e financeiros.
Há uma semana, falámos aqui da chamada mensagem de Natal do primeiro-ministro, resumindo-a assim: tudo melhorou neste ano que ora finda, há ainda um longo caminho pela frente, mas com mais e maiores sacrifícios de todos os portugueses, tudo melhorará ainda mais no próximo ano – e traduzindo o seu significado essencial.
As notícias posteriormente divulgadas pela generalidade dos órgãos de comunicação social confirmam a tradução feita: no ano de 2007 tudo vai piorar para quem trabalha e vive do seu trabalho e tudo vai melhorar para quem vive à custa da exploração do trabalho dos outros. Ou, dito de outra forma: os que trabalham vão ser mais explorados para que os exploradores tenham maiores lucros.

Entretanto, chegou-nos outra mensagem, esta chamada de Ano Novo e, como é hábito, da responsabilidade do Presidente da República. Dela pouco há a dizer na medida em que nada de novo há a assinalar em relação às mensagens dos seus antecessores: o Presidente Cavaco Silva expressou as habituais preocupações face aos graves problemas do País; asseverou que «é chegado o tempo de ultrapassar a fase do reduzido crescimento económico e de acertar o passo com os nossos parceiros europeus» (mas não tínhamos já ultrapassado essa fase e acertado esse passo, aqui há uns quinze anos, quando Portugal estava no «pelotão da frente»?); produziu a espantosa revelação de que quer «um Portugal melhor» e afirmou-se «exigente quanto aos resultados» - e, naturalmente, falou ainda «na realização de reformas inadiáveis», não especificando, no entanto, a que reformas aludia e dando-nos, assim, legitimidade para supor que as citadas «reformas inadiáveis» hão-de ter a ver com aquilo a que todos os governantes da política de direita têm vindo a chamar «a reforma do sistema político», eufemismo utilizado para camuflar a ofensiva em curso contra o conteúdo democrático do regime nascido com a revolução de Abril.
Em todo o caso, é provável que, depois do Presidente da República ter abandonado as nossas casas, em algumas delas tenha ficado a pairar uma brisa de boas intenções e um sabe-se lá de esperança num ano novo cheio de prosperidades.
Tanto mais que, recorde-se, tudo isto foi dito no primeiro dia do ano, em jeito de boa-nova para o 2007 de todos os portugueses.

Ora, mal o PR virou costas, entrou-nos em casa, a subida dos preços que todos sabíamos reservada para esta altura. Subiram já, ou vão subir a curto prazo, os preços de tudo o que é essencial. E tudo sobe mais do que os salários dos trabalhadores e do que as pensões e reformas.
O que é que aumentou ou vai aumentar? Repita-se: tudo em matéria de bens essenciais: transportes públicos, electricidade, combustíveis, portagens, rendas de casa, produtos alimentares (o pão incluído), taxas moderadoras, etc. etc. E para que se não diga que tudo sobe e nada baixa, o Governo decidiu baixar… a comparticipação na compra de medicamentos...
Em matéria de salários, as coisas perspectivam-se no sentido do conteúdo essencial da mensagem de Natal do primeiro-ministro: os aumentos previstos para os trabalhadores da Administração Pública – que, como é sabido, servem de exemplo para os do sector privado – aumentam 1,5%, isto segundo as intenções do Governo e do grande capital.
Olhando para estes dados, é óbvio que as condições de vida da imensa maioria dos portugueses vão continuar a agravar-se e que, ao contrário do que o primeiro-ministro nos prometeu e o Presidente da República quer, tudo vai piorar para a maioria dos portugueses no ano de 2007.

Há, no entanto, razões para confiarmos em que a evolução das coisas não se faça no sentido que os governantes desejam. E são razões fortes, razões que se prendem com as potencialidades de intervenção dos trabalhadores na luta pela defesa dos seus interesses e direitos, portanto contra os interesses e direitos defendidos pelos executores da política de direita. É na luta de massas que reside a possibilidade real não apenas de forçar o Governo a recuar nas suas intenções mais gravosas, mas igualmente de derrotar a política de direita que há trinta anos vem flagelando os trabalhadores, o povo e o País.
Nesse sentido, é visível que as perspectivas são boas, que há todas as condições para que o Ano Novo nos traga as respostas necessárias à política do Governo PS/José Sócrates.
As lutas travadas no ano que findou, com especial destaque para o gigantesco Protesto Geral de 12 de Outubro – impressionante demonstração da força dos trabalhadores unidos e organizados - indiciam fortes disponibilidades de luta das massas trabalhadoras e constituem, por isso, o mais promissor sinal, a mais promissora mensagem de que as coisas podem mudar num sentido favorável, de facto, à imensa maioria dos portugueses.