Pedofilias (3)
Outras duas noções da «Rerum Novarum» que convém recordar são as que se referem à caridade cristã e ao papel social que a Igreja deve desempenhar. Declara Leão XIII: «Desde que actuem, os costumes cristãos exercem naturalmente sobre a prosperidade temporal a sua parte de benéfica influência, porque atraem o favor de Deus, princípio e fonte de todo o bem; limitam o desejo excessivo das riquezas e a sede dos prazeres, esses dois flagelos que tantas vezes lançam a amargura e o desgosto, mesmo no seio da opulência; levam a aceitar uma vida e alimentação frugal e a suprir pela economia a modéstia do rendimento... Além disso, a Igreja provê directamente à felicidade das classes deserdadas, ao fundar e manter instituições que julga próprias para aliviar a sua miséria... A Igreja... chegou a assegurar subsídios aos que viviam na miséria, poupando-lhes a humilhação de estender a mão ; porque esta mãe comum dos ricos e dos pobres, aproveitando maravilhosamente os rasgos de caridade que por toda a parte havia provocado, fundou sociedades religiosas e uma multidão de outras instituições úteis, para não deixar sem alívio qualquer género de miséria. Há hoje, sem dúvida, um certo número de homens, ecos fiéis dos pagãos de ra, que chegam a fazer dessa caridade tão maravilhosa uma arma para atacar a Igreja. E viu-se uma beneficência estabelecida pelas leis civis substituir-se à caridade cristã! Mas esta caridade que se dedica, toda e sem pensamento reservado, à utilidade do próximo, não pode ser suprimida por nenhuma invenção humana. Só a Igreja possui essa virtude que apenas se pode ir beber no Sagrado Coração de Jesus Cristo. E é vaguear longe de Jesus Cristo o afastar-se da sua Igreja...» ( RN, nº. 21).
Num curto espaço de poucos períodos ficam esclarecidos quais os principais objectivos que a igreja católica institucional visa alcançar no plano da acção social. Em relação ao Estado, promover antes de tudo o mais a protecção da propriedade privada; reconhecer aos governantes o direito de produzirem leis; e conceber o exercício do poder do Estado como o de uma autoridade representada acima de uma sociedade classista para a qual não houvesse alternativa. Em relação ao Povo, defender o princípio de que os homens nascem desiguais e se agrupam em classes cujos interesses convergirão e se completarão nos quadros de uma verdadeira reconciliação cristã. A Igreja e o Estado cuidarão dos pobres e indigentes, dividindo as tarefas entre si. Porém, na construção dessa sociedade em harmonia, os católicos devem ter um papel principal: «É altamente louvável o zelo de grande número dos nossos que, conhecendo perfeitamente as necessidades da hora presente, sondam cuidadosamente o terreno para aí descobrirem uma vereda honesta que conduza à reabilitação da classe operária» (RN, nº. 38). Cumpre à Igreja reclamar a paridade na acção social entre as estruturas públicas do Estado e as sociedades confessionais criadas no interior da sociedade civil. «Considerando simplesmente o ponto de vista da Razão» - declara-se na Rerum Novarum, pontos 37 e 38 - «estas sociedades aparecem como fundadas com um fim honesto e, consequentemente, sob os auspícios do direito natural. No que elas têm de relativo à religião, não dependem senão da Igreja. Os poderes públicos não podem, pois, arrogar-se legitimamente nenhum direito sobre elas, atribuir-se a sua administração. A sua obrigação é, antes, respeitá-las, protegê-las e, em caso de necessidade, defendê-las... Proteja o Estado estas sociedades fundadas segundo o direito. Mas não se intrometa no seu interior e não toque nas molas íntimas que lhes dão vida. Pois que o movimento vital procede essencialmente de um princípio interno e extingue-se facilmente sob a acção de uma ingerência do exterior».
Neste ponto da análise, será curioso observar-se como as posições sociais da RN ( já lá vão 114 anos ) traduzem afinal o mesmo sentido contido na divisa «Sacerdócio e Império», adoptada pelo fundador da Casa Pia (já lá vão 222 anos). Constataremos, então, que a doutrina social da igreja, tal como hoje se apresenta, dotada com IPSS, ONGS, fundações não lucrativas, associações de pais, de empresários cristãos, etc., corresponde a um mesmo exercício secular, eclesiástico e imperial.
Num curto espaço de poucos períodos ficam esclarecidos quais os principais objectivos que a igreja católica institucional visa alcançar no plano da acção social. Em relação ao Estado, promover antes de tudo o mais a protecção da propriedade privada; reconhecer aos governantes o direito de produzirem leis; e conceber o exercício do poder do Estado como o de uma autoridade representada acima de uma sociedade classista para a qual não houvesse alternativa. Em relação ao Povo, defender o princípio de que os homens nascem desiguais e se agrupam em classes cujos interesses convergirão e se completarão nos quadros de uma verdadeira reconciliação cristã. A Igreja e o Estado cuidarão dos pobres e indigentes, dividindo as tarefas entre si. Porém, na construção dessa sociedade em harmonia, os católicos devem ter um papel principal: «É altamente louvável o zelo de grande número dos nossos que, conhecendo perfeitamente as necessidades da hora presente, sondam cuidadosamente o terreno para aí descobrirem uma vereda honesta que conduza à reabilitação da classe operária» (RN, nº. 38). Cumpre à Igreja reclamar a paridade na acção social entre as estruturas públicas do Estado e as sociedades confessionais criadas no interior da sociedade civil. «Considerando simplesmente o ponto de vista da Razão» - declara-se na Rerum Novarum, pontos 37 e 38 - «estas sociedades aparecem como fundadas com um fim honesto e, consequentemente, sob os auspícios do direito natural. No que elas têm de relativo à religião, não dependem senão da Igreja. Os poderes públicos não podem, pois, arrogar-se legitimamente nenhum direito sobre elas, atribuir-se a sua administração. A sua obrigação é, antes, respeitá-las, protegê-las e, em caso de necessidade, defendê-las... Proteja o Estado estas sociedades fundadas segundo o direito. Mas não se intrometa no seu interior e não toque nas molas íntimas que lhes dão vida. Pois que o movimento vital procede essencialmente de um princípio interno e extingue-se facilmente sob a acção de uma ingerência do exterior».
Neste ponto da análise, será curioso observar-se como as posições sociais da RN ( já lá vão 114 anos ) traduzem afinal o mesmo sentido contido na divisa «Sacerdócio e Império», adoptada pelo fundador da Casa Pia (já lá vão 222 anos). Constataremos, então, que a doutrina social da igreja, tal como hoje se apresenta, dotada com IPSS, ONGS, fundações não lucrativas, associações de pais, de empresários cristãos, etc., corresponde a um mesmo exercício secular, eclesiástico e imperial.
