Debate em Setúbal

Aeroporto na Ota é opção errada

Vários especialistas consideram que o novo aeroporto de Lisboa deve ser construído em Rio Frio, e não na Ota, num debate organizado pela Câmara Municipal de Setúbal.

O aeroporto da Ota poderá estar saturado entre 2025 e 2050

A opção do Governo pela construção do novo aeroporto internacional de Lisboa na Ota «é uma má escolha e constitui um escândalo nacional», afirmou o professor universitário Jorge Paulino Pereira, recentemente em Setúbal.
Autor de mais de 70 publicações sobre temas de engenharia civil e colaborador em diversos projectos de infra-estruturas de transporte rodoviário, ferro viário e aeroportuário, Jorge Paulino Pereira foi um dos oradores convidados no debate sobre o novo aeroporto de Lisboa, promovido pela Câmara Municipal de Setúbal, com a colaboração do Lemos Ferreira, antigo Chefe do Estado Maior da Força Aérea e presidente da ANA.
Também os professores catedráticos António Brotas e António Diogo Pinto foram unânimes nas críticas à escolha da Ota e na defesa de Rio Frio como a melhor opção para a futura infra-estrutura aeroportuária. «A localização do novo aeroporto internacional de Lisboa deverá ser a melhor em termos de Lisboa e da sua zona envolvente metropolitana, a Mega-Lisboa, que será a principal utilizadora dos serviços de passageiros e mercadorias», afirmou o professor Paulino Pereira, citado pela Lusa.
O docente considera a localização do novo aeroporto na Ota «desfavorável em termos de ordenamento do território e de acessibilidade à capital e ainda menos adequada em termos aeronáuticos e de construção civil».
«A solução da Ota é desajustada em termos de operacionalidade e de localização, de lugares de estacionamento e de custos de construção, com vultuosas operações de terraplanagem para modelar o terreno, remoção de colinas e aterro de vales que estão preenchidos com aluviões», disse.
Jorge Paulino Pereira salientou que o futuro aeroporto da Ota também não permite a construção de uma terceira pista, que poderá ser necessária em 2035/2040 devido à sua localização geográfica e zona envolvente. «Ninguém tem defendido a solução da Ota no meio académico, no meio dos pilotos civis e militares e no meio técnico e profissional. Apenas alguns políticos ou jornalistas envolvidos em agências de informação pagas pelo Governo têm defendido a solução OTA», acusou.

Interesses imobiliários

A opinião de Jorge Paulino Pereira foi corroborada pelo professor António Brotas, jubilado pelo Departamento de Física do Instituto Superior Técnico, que também defende a opção pela construção do novo aeroporto em Rio Frio.
«O aeroporto da Ota só tem duas pistas, não é ampliável e não permite uma construção faseada», disse o catedrático, que acusou os decisores políticos portugueses de cedências a interesses imobiliários e de «falta de visão estratégica» no que respeita ao transporte aéreo e ferroviário. «A ligação ferroviária de alta velocidade Lisboa/Madrid é compatível com a plataforma logística do Poceirão (Palmela) e com a construção do novo aeroporto em Rio Frio», disse António Brotas, contrapondo a dificuldade que existe em resolver o problema das acessibilidades à Ota.
Para o engenheiro de minas e petróleos António Diogo Pinto – que foi presidente do conselho de administração da Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau e responsável pela execução do empreendimento – a opção do Governo pela Ota também representa «uma má escolha que deveria ser revista pelo Governo».
António Diogo Pinto considera que a impossibilidade de expansão do aeroporto da Ota, que poderá estar saturado entre 2025 e 2050, deveria ter levado desde logo à «exclusão liminar» daquela localização e defende que seria mais vantajosa a construção do novo aeroporto em Rio Frio.

Uma má estratégia

António Diogo Pinto, responsável pela execução do Aeroporto Internacional de Macau, garantiu que é possível construir o aeroporto em Rio Frio sem prejudicar minimamente os aquíferos subterrâneos, considerados como os mais importantes de toda a Europa. Por outro lado, desvalorizou a necessidade de abate de alguns sobreiros, que poderiam ser facilmente substituídos por outros.
Para António Diogo Pinto, a escolha da Ota para a construção do novo aeroporto constitui uma opção estratégica errada e penalizadora para o País. «Somos pobres porque gastamos mal o dinheiro público. Numa altura em que se pedem tantos sacrifícios aos portugueses, não faz sentido que se vá para um a solução que só vai beneficiar meia dúzia de pessoas e em que os outros ficam todos a perder», concluiu.


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