Uma luta de décadas

Cronologia

1954 – Álvaro Cunhal, a cumprir pena de prisão, defende a tese para exame do 5.º ano jurídico da Faculdade de Direito de Lisboa com o tema «O aborto, causas e soluções».
1973 – 1.º Encontro do MDM onde «o direito das mulheres ao planeamento familiar e ao aborto nas melhores condições, de forma a não afectar a sua saúde e a não ser considerado um crime» é já parte integrante do conjunto das reivindicações aprovadas.
1974 – Um texto oficial de Programa de Acção do Ministério dos Assuntos Sociais faz referência ao planeamento familiar como um direito constitucional de todos os cidadãos.
1975 – Portugal participa na Conferência Mundial da Mulher, promovido pela ONU, na cidade do México.
1976 – Aprovada a licença de maternidade de 90 dias.
1976 – Entrada em vigor da Constituição da República, que estabelece a igualdade entre homens e mulheres em todos os domínios da vida. A promoção do planeamento familiar e a organização de estruturas jurídicas e técnicas que permitam o exercício de uma maternidade consciente são tarefas do Estado.
1977 – Na Assembleia da República é entregue uma petição de cinco mil assinaturas exigindo a legalização do aborto.
1977 – O 3.º Encontro Nacional do MDM aborda e toma posição sobre o planeamento familiar, a educação sexual e o aborto.
1979 – Início do julgamento de Maria Antónia Palla, após ser apresentado um programa, de sua autoria, sobre o aborto clandestino em Portugal. Após um grande movimento de opinião, Maria Antónia Palla é absolvida.
1979 – Início do julgamento da Conceição Massano, jovem acusada, por denúncia anónima, da prática de aborto.
1980 – Portugal ratifica, pela Lei n.º 23/80, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres.
1982 – PCP apresenta na Assembleia da República três projectos-lei sobre a protecção e defesa da maternidade, garantia do direito ao planeamento familiar e educação sexual, interrupção voluntária da gravidez.
1984 – 1.º Congresso do MDM, em Lisboa, dá particular atenção, quer no documento base quer na discussão, à educação, planeamento familiar, aborto, assistência ao parto, e condições sanitárias, maternidade.
1985 – 2.ª Conferência da Mulher Trabalhadora da CGTP-IN aborda com detalhe as questões da maternidade.

1986Conferência do PCP «A Emancipação da Mulher no Portugal de Abril». Estiveram presentes 1069 delegadas(os). Na sua preparação foram realizadas cerca de 800 reuniões e plenários.
«Esta conferência é a confirmação inestimável de que os cuidados e atenção do PCP para os problemas da mulher não é uma posição nova, nem de hoje. É uma posição de principio. É uma posição de sempre». Maria Alda Nogueira
«Engavetam-se como leis incómodas as leis da interrupção voluntária da gravidez, da protecção da maternidade e paternidade, do planeamento familiar e educação sexual nascidas de projectos-lei do PCP». Odete Santos
«...Ficará assinalada como um marco na luta do Partido e da mulher portuguesa pela sua emancipação». Álvaro Cunhal
1990 – Constituição de um grupo de trabalho na APF (Grupo de Estudos e Reflexão sobre o Aborto), que lançará o Movimento de Opinião pela Despenalização do Aborto em Portugal (MODAP).
1991 – Publicado o Decreto-Lei n.º 166/91 que cria a Comissão para a Igualdade e os Direitos da Mulher.
1992 – III Conferência Sindical sobre as Mulheres Trabalhadoras da CGTP-IN afirma o valor social eminente da maternidade/paternidade, exigindo o cumprimento da legislação sobre educação sexual, planeamento familiar e IVG.
1994 – Colóquio do MODAP «Dez anos depois, a situação do aborto em Portugal».
1995 – Publicada a Lei n.º 17/95 que altera a Lei n.º 4/84 que, entre outros aspectos, aumenta a duração da licença de maternidade.
1996 – PCP apresenta o projecto-lei n.º 177/VII, sobre IVG, que acabará por ser rejeitado.
1997 – Conferência de imprensa do MODAP de divulgação das 15 mil assinaturas recolhidas a favor da despenalização do aborto.
1997 – O primeiro-ministro António Guterres, em declarações ao jornal «Público», afirma não ser favorável à despenalização do aborto.
1997 – No Bairro de Aldoar, no Porto, morre uma mulher, vítima de aborto clandestino.
1997 – PCP retoma iniciativa legislativa apresentando novo projecto-lei, n.º 417/VII, sobre a interrupção voluntária da gravidez.
1998 – É aprovado, na generalidade, um projecto-lei do PS (Projecto-Lei n.º 451/VII), com os votos do PCP, que previa o aborto legal até às 10 semanas a pedido da mulher.
1998 –Na sequência de um acordo entre o PS e o PSD, à total revelia do processo legislativo, o Presidente da República sujeita a referendo público a questão do IVG até às 10 semanas.
1998 – Publicada a Lei n.º 18/98 que altera a Lei n.º 4/84, prolongando o período de licença por maternidade para 110 dias até 31 de Dezembro de 1999, e para 120 dias a partir dessa data.
1998 – Referendo sobre o aborto. Ganha o «Não» com 50,9 por cento dos votos, contra 49,1 de votos no «Sim». Face à lei, o referendo não teve efeitos vinculativos por apenas votaram 31,9 por cento dos eleitores.
1999 – PCP apresenta o projecto-lei n.º 16/VIII sobre a despenalização do aborto, a pedido da mulher, até às 12 semanas, para uma maternidade livre e consciente.
2000 – 6.º Congresso do MDM, realizado em Aveiro, aprova uma nova Carta dos Direitos das Mulheres, que inclui importantes reivindicações no campo da saúde sexual e reprodutiva.
2000 – PCP apresenta projecto-lei n.º 308/VIII, que garanta o acesso aos medicamentos contraceptivos de emergência.
2001 – PCP apresenta projecto-lei n.º 531/VIII, visando reforçar a protecção da maternidade/paternidade, que acabou por não ser apreciado em virtude da realização antecipada de eleições.
2001 – Publicada a Lei n.º 9/2001, por iniciativa legislativa do PCP, que prevê medidas de apoio social às mães e pais estudantes.
2001 – APF e Associação Internacional para o Planeamento da Família condenam julgamento no Tribunal da Maia.
2001 – PCP apresenta, na Assembleia da República, requerimento sobre a prática do aborto nos hospitais públicos.
2001 – Na sequência de uma iniciativa de Ilda Figueiredo, deputada do PCP no Parlamento Europeu, cerca de 50 eurodeputados(as) assinam a Declaração de Solidariedade Internacional com as 17 mulheres portuguesas em julgamento no Tribunal da Maia sob a acusação da prática de aborto clandestino.
2002 – Mais de 800 personalidades de todo o mundo assinam a declaração de solidariedade internacional.
2002 – O Tribunal da Maia absolve 15 das 17 mulheres acusadas de prática de aborto clandestino.
2002 – PCP toma posição pública sobre a sentença do Tribunal da Maia.
2002 – Realizam-se concentrações em Lisboa e no Porto, promovidas pela Plataforma pelo Direito de Optar, de solidariedade com as mulheres a serem julgadas na Maia.
2002 – Iniciada, em Viana do Castelo, investigações por suspeita da prática de aborto de uma mulher de 21 anos que deu entrada no hospital com hemorragias vaginais abundantes, anemia aguda e graves dilacerações abortivas.
2002 – Condenada, na Guarda, uma enfermeira por ter provocado (em 1999) a morte de uma mulher na sequência de manobras abortivas.
2002 – Plataforma pelo Direito Optar entrega ao Presidente da República um dossier sobre o julgamento da Maia e um documento subscrito por diversas personalidades.
2002 – PCP entrega Projecto-Lei n.º 1 IX visando a despenalização da IVG.
2003 – Sete mulheres, num conjunto de 17 arguidos, são acusadas, em Aveiro, de práticas de aborto clandestino.
2004 – Uma parteira e uma mulher são acusadas, em Setúbal, pelo Ministério Público de práticas de aborto clandestino. O PCP manifesta solidariedade às mulheres em julgamento.
2004 – Em Lisboa, uma jovem é acusada de ter ingerido «misoprostol».
2005 – PCP lança folheto sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez.
2006 – PCP propõem pagamento de 100 por cento de salário de referência no caso de licença de maternidade-paternidade pelo período de 150 dias.


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Um crime contra a dignidade humana

Os comunistas, dentro e fora da Assembleia da República, continuam a sustentar com firmeza a exigência de se enfrentar, com coragem, o problema do aborto clandestino e de terminar com a criminalização que ofende os mais elementares valores humanos e civilizacionais e representa uma intolerável agressão e ameaça às mulheres portuguesas. Em entrevista ao Avante!, Fernanda Mateus, da Comissão Política do PCP, defendeu a aprovação de uma lei de despenalização do aborto, sendo indispensável que se desenvolva um vasto movimento de opinião que, entre outras finalidades, pressione os deputados nesse sentido.

Aprofundar os direitos <br>da maternidade e paternidade

A abordagem da problemática da família é matéria sobre a qual o PCP sempre intervém com as iniciativas que tem considerado em cada momento mais adequadas, quer no que se refere ao aumento dos salários dos trabalhadores quer em iniciativas de aperfeiçoamento de mecanismos legais de protecção dos trabalhadores em função da maternidade e paternidade, de garantia de direitos das crianças e jovens e de melhoria da qualidade de vida dos idosos.

Por uma maternidade consciente e responsável

A garantia de uma interrupção voluntária da gravidez, a pedido da mulher e até às 12 semanas, em condições de segurança, é parte integrante da promoção da saúde sexual e reprodutiva das mulheres, constante em múltiplas recomendações internacionais. Entretanto, foi criado o Movimento pela Despenalização do IVG que exige a despenalização do aborto a pedido da mulher até às 12 semanas. Neste sentido, um pouco por todo o País, recolhem-se assinaturas pelo direito de a mulher optar livremente por uma maternidade consciente e responsável. Este abaixo-assinado será entregue em Setembro e tem como objectivo chamar a atenção para a urgente necessidade da Assembleia da República alterar a actual lei. Estas preocupações são comuns a muitos cidadãos que, independentemente da sua opção política e ideológica, entendem que não é possível adiar por mais tempo a resolução deste problema.

Mulheres, <br>vítimas de perseguição penal

O PCP tem vindo a lutar desde 1982 pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez (IVG) e pelo consequente fim do grave problema de saúde pública que constitui o aborto clandestino. Em 1998, a Assembleia da República chegou mesmo a aprovar, na generalidade, um projecto-lei de despenalização, cujo processo legislativo viria a ser interrompido pela convocação de um referendo sobre a matéria, acordado da noite para o dia entre os líderes de então do PS e do PSD. Este referendo não teve qualquer valor vinculativo, visto que votaram apenas 31,9 por cento dos eleitores. Para os comunistas, havendo hoje uma maioria parlamentar favorável, a despenalização da IVG é a única forma de pôr fim às sucessivas investigações, devassas, humilhações e condenações de mulheres que nos últimos anos se repetiram em vários processos judiciais em Portugal.

Aborto clandestino <br>Uma violência sobre as mulheres

Após as eleições legislativas antecipadas, que se realizaram em 2004, o PS optou por usar a sua maioria parlamentar ao serviço da insistência de referendar o aborto, em vez de o despenalizar no órgão de poder com competências para tal – a Assembleia da República.