
- Nº 1693 (2006/05/11)
A marioneta de Bush
Internacional
A Colômbia e a Venezuela estiveram longos anos unidas enquanto formaram a Grande Colômbia, da qual faziam parte igualmente o Equador e o Panamá. Esse era parte do sonho de Simon Bolívar, que as oligarquias dos respectivos países se encarregam de destruir.
Hoje, a Venezuela vive um momento de mudanças progressistas enquanto que a Colômbia sofre um regime amarrado de pés e mãos a Bush e é um país cada vez mais ocupado militarmente pelo império, que com a falsa desculpa de lutar contra o narcotráfico – eles são os principais consumidores de drogas – tem na mira dois objectivos: derrotar a guerrilha colombiana, que já leva perto de meio século em luta, e aniquilar a experiência democrática do país vizinho.
Para Bogotá e Caracas nem sempre têm sido fáceis os últimos anos. A capital colombiana, que se orgulha de mostrar aos visitantes o seu Transmilénio – eficiente sistema de transporte de superfície com mais de 90 estações, que envolve perto de 800 autocarros sobre mais de 400 km de vias, transporta perto de 1,2 milhões de passageiros diariamente e serve grande parte da cidade, incluindo a Avenida Caracas – acaba de ser sacudida por escandalosas revelações: autoridades locais terão desenhado programas para assassinar figuras políticas do país vizinho, incluindo o próprio presidente Chávez.
A denúncia parte de um membro – agora na condição de ex – da polícia política colombiana, o famigerado DAS, e apareceu numa edição recente da revista Semana, que se pode encontra na Internet.
De acordo com Rafael Garcia, actualmente preso e que foi durante anos ex-director de informática do DAS, durante a gestão de Jorge Noguera, chefe máximo dos serviços secretos, foi arquitectada uma «conspiração que consistia no assassinato de Chávez e vários altos funcionários do seu governo». Recorde-se que este Noguera foi destituído do DAS pelo presidente Uribe, depois de vários escândalos, entre eles a sua relação com os paramilitares e narcotraficantes e… premiado com um consulado em Itália.
«Tanto quanto eu sei – acrescentou o denunciante – éramos duas as pessoas que sabíamos: um ex-director de inteligência do DAS e eu. E do alto governo colombiano há seis pessoas comprometidas».
Personagens sinistros
O ex-capo do DAS já admitiu várias reuniões «institucionais» entre ele e o chefe paramilitar, o outro Jorge, mais conhecido como Jorge Quarenta. Sem o conhecimento de Uribe? Difícil de acreditar. Perguntado sobre o acto terrorista que vitimou o principal
fiscal venezuelano, Danilo Anderson, Garcia respondeu que ele não estava na lista dos elimináveis e que se deve ter tratado de um erro ou de uma mudança de planos. Quando a revista o inquiriu sobre a jornalista prófuga Patrícia Poleo, procurada pelas autoridades venezuelanas por esse assassinato, respondeu que sim, que havia uma relação entre ela e Jorge Quarenta, que responde igualmente por Rodrigo Tovar.
Como é evidente, Jorge Noguera nega todas as afirmações do denunciante, que afirma ainda ter participado numa fraude eleitoral para ajudar ao triunfo de Uribe nas eleições presidenciais. Uribe, como é natural, promete levar as investigações «até às últimas consequências».
Do lado venezuelano talvez não tenha havido grande surpresa em tudo isto. A Colômbia, junto com Miami, transformou-se no paraíso dos golpistas e terroristas venezuelanos, entre eles o fracassado ditador Carmona Estanga, que continua a conspirar e a sonhar com o regresso ao poder pela mesma via do golpe de Estado ou de uma invasão estadunidense. As autoridades, dentro das normas de convivência políticas, já pediram explicações aos seus pares colombianos.
Passando a fronteira, as reacções são unânimes no sentido de apontar críticas ao presidente Uribe, cuja vinculação com o narcotráfico e o paramilitarismo estão longe de serem desconhecidas.
A legitimidade do governo está em causa. Horácio Serpa, do Partido Liberal, afirma que «perante os factos que se denunciam, somos forçados a declarar que a legitimidade do governo está em dúvida. Nestas circunstâncias, é difícil aceitar que as eleições em curso tenham carácter democrático».
«Isto é de uma gravidade extraordinária. A haver algo de certo nestas acusações, estaríamos perante um desses governos turvos e sórdidos, que apelam aos piores métodos para conseguirem os seus objectivos», conclui por sua vez Carlos Gavíria, do Pólo Democrático Alternativo.
Antanas Mockus, candidato presidencial tal como os anteriores, declarou que o governo, para derrotar as guerrilhas esquerdistas, tem permitido uma coligação entre legalidade e ilegalidade pela qual é responsável o presidente Uribe.
Pedro Campos