MODERNIDADE, DESENVOLVIMENTO, PROGRESSO

«Lutar contra esta política, derrotá-la e conquistar uma política de esquerda»

Recapitulando: as condições de trabalho e de vida agravam-se, todos os dias, para a imensa maioria dos portugueses; crescem, todos os dias, os lucros da imensa minoria composta pelos grandes grupos económicos e financeiros.
O primeiro-ministro José Sócrates, mandando às urtigas as promessas eleitorais com as quais obteve a maioria de que dispõe, prossegue, todos os dias, a acentuação da política de direita com incidência nas suas linhas mais gravosas e mais penalizadoras dos interesses dos trabalhadores, do povo e do País. É esse, aliás, o traço característico fundamental da aplicação da política de direita neste seu trigésimo ano de existência. E tudo indica que o pior está para vir.
Pode dizer-se, dizendo a verdade, que neste primeiro ano de vida o Governo não tomou uma única medida favorável à maioria dos portugueses; uma única medida visando resolver um único dos muitos e graves problemas que afligem os trabalhadores, os reformados e pensionistas, os micro, pequenos e médios empresários, os jovens, as mulheres. Pode dizer-se, igualmente dizendo a verdade, que todas as medidas até agora tomadas pelo Governo PS/Sócrates foram altamente favoráveis aos interesses do grande capital explorador e opressor.
Com efeito, Governo PS/Sócrates é sinónimo de agravamento da exploração e das injustiças sociais e, portanto, de cada vez piores condições de vida para os portugueses. Um estudo há dias divulgado pela Comissão Europeia diz-nos... nada que não soubéssemos ou suspeitássemos: que entre os habitantes dos vinte e cinco países da União Europeia os portugueses são os que «têm mais dificuldades em pagar as suas contas» - renda de casa, bens essenciais, etc.
É a isto que os governantes e os propagandistas da política de direita chamam – com desfaçatez e desvergonha - modernidade, desenvolvimento, progresso.


É igualmente invocando os seus peculiares conceitos de modernidade, desenvolvimento e progresso que o Governo do PS leva por diante, todos os dias em todo o País, a sua cruzada de encerramentos de centros de saúde, de escolas, de maternidades. Exemplo acabado do conteúdo concreto desses conceitos é o comentário do ministro da Saúde de Sócrates a propósito da providência cautelar interposta pela Câmara de Barcelos para impedir o encerramento do bloco de partos no Hospital da cidade: disse ele, o ministro dito da saúde, que o não encerramento do referido bloco seria «gravemente prejudicial para o interesse público» - assim confirmando que este Governo é um autêntico perigo público.
É ainda e sempre em nome da modernidade – e, naturalmente, do desenvolvimento e do progresso - que o Governo PS/Sócrates todos os dias atira para o desemprego mais trabalhadores. Também nesta matéria bate recordes: crescendo ininterruptamente durante 2005 e o 1º semestre de 2006, o desemprego atinge, agora, a maior taxa após o 25 de Abril. E o pior é que, também nesta matéria, o pior está para vir: a Comissão Europeia prevê para Portugal uma «subida em flecha do desemprego em 2006 e 2007», subida que, diz a Comissão, colocará Portugal «acima da média europeia». Valha-nos a coragem de afirmar do primeiro-ministro ao garantir ter «boas e fundadas razões para acreditar que o desemprego não vai piorar em 2006. Pelo contrário, vai melhorar». É claro que, dizendo isto, o engenheiro Sócrates não está enganado: está é a tentar enganar-nos. Como enganou milhares e milhares com aquela promessa solene de criação de 150 mil novos empregos, divulgada em gigantescos outdors durante campanha eleitoral. E se acrescentarmos a esta calamidade o facto de 25% dos trabalhadores portugueses estarem condenados a essa forma moderna de baixa e brutal chantagem, a essa monstruosidade social e civilizacional que dá pelo nome de emprego precário, ficaremos com uma imagem mais real do estado a que a política de direita conduziu Portugal.


A modernidade, o desenvolvimento e o progresso que enformam a política de classe praticada por este governo do grande capital, são particularmente visíveis na ofensiva persistente e permanente dirigida contra os interesses, direitos e salários dos trabalhadores e contra o sistema público da segurança social.
À promessa eleitoral feita pelo então candidato José Sócrates – obviamente, visando caçar, e caçando, votos – de revisão das normas mais gravosas do sinistro Código do Trabalho, respondeu o agora primeiro-ministro José Sócrates fazendo exactamente o oposto: com a recente alteração do Código, o Governo criou ainda melhores condições de exploração por parte do grande capital, nomeadamente legalizando e incentivando a ofensiva das associações patronais contra a contratação colectiva e contra outros direitos dos trabalhadores. E a liberdade de acção que o Governo Sócrates concede ao grande capital, permite que este actue como muito bem quer, lhe apetece e lhe interessa: explorando em liberdade, violando o direito à greve e o direito à organização e acção sindicais; perseguindo e reprimindo dirigentes e activistas sindicais; ameaçando de despedimento os trabalhadores que se sindicalizem (em sindicatos da CGTP, é claro...) – enfim, desrespeitando ostensiva e arrogantemente a Constituição da República Portuguesa.
Tinta anos de política de direita impuseram a Portugal e aos portugueses uma democracia que tem como um dos seus pilares definidores a liberdade concedida ao grande capital de explorar. Lutar contra esta política, derrotá-la e conquistar uma política de esquerda: eis a tarefa que se coloca ao povo português.