
- Nº 1690 (2006/04/20)
Negociações arrastam-se desde Outubro
Páscoa de luta nos hotéis
Trabalhadores
Nos hotéis Tivoli e Marriot, em Lisboa, o fim-de-semana de mini-férias foi marcado pelas lutas dos trabalhadores, reclamando melhores salários e garantia de direitos. Os cadernos reivindicativos foram apresentados em Outubro, mas «as administrações apostaram num braço de ferro» e não evoluíram nas suas posições, como refere Rodolfo Caseiro, dirigente do Sindicato da Hotelaria do Sul e membro da direcção regional de Lisboa do PCP.
No Marriot (antigo Penta), a greve iniciou-se no dia 13, quinta-feira, e foi prolongada para dia 14. Durante sábado e domingo, estiveram em greve os trabalhadores de quatro hotéis Tivoli (propriedade do Grupo Espírito Santo).
«Os trabalhadores destas unidades realizaram 4 dias de greves com grande sucesso, numa adesão entre 90 e 95 por cento, com os mesmos objectivos, reclamar melhores salários e defender o contrato colectivo», conta Rodolfo Caseiro. As administrações, que tentaram esvaziar a negociação, «tiveram a resposta dos trabalhadores», tanto mais significativa quanto os dois grupos hoteleiros têm assento nos corpos sociais da Associação dos Hotéis de Portugal, a qual, por sua vez, «tem grandes responsabilidades no boicote à negociação do CCT» para o sector.
A 10 de Abril, o sindicato começou a desenvolver, todos os dias, um conjunto de acções, calendarizadas para todo o mês. «Estas iniciativas, de denúncia pelo facto da Associação dos Hotéis de Portugal boicotar as negociações do CCT, são feitas, com presença de um carro de som, junto das unidades cujos donos são dirigentes desta associação patronal», explica o sindicalista comunista. Aos clientes dos hotéis, é distribuído um comunicado em inglês, francês e português.
«De 21 a 30 de Abril vamos realizar, também nestas unidades, uma série de vigílias, entre as 21 e as 23 horas», acrescenta Rodolfo Caseiro, lembrando que «os meses de Março e Abril estão a ser preenchidos com intensas lutas na hotelaria e turismo». A Páscoa «é um período em que as principais unidades hoteleiras registam uma grande ocupação de turistas e é também por esse facto que os trabalhadores, nesta ocasião, intensificam as formas de luta por melhores salários, pela defesa do seu CCT e a manutenção dos direitos nele consagrados, e contra a sua possível caducidade».
No mês de Março, ocorreram lutas nos vários sub-sectores (cantinas, hospitalização privada, Hospital da CUF, etc.), pela defesa da contratação colectiva, e os trabalhadores da hotelaria e turismo participaram nas lutas mais gerais do movimento sindical unitário.
Polícia actua mas IGT não
«Estranhamente, ou não», as administrações do Marriot e do grupo Tivoli, no decurso das greves, tiveram a mesma resposta, chamando a polícia, «para intimidar e pressionar os trabalhadores», nota Rodolfo Caseiro, reparando que, «também estranhamente, ou não, a polícia teve o mesmo comportamento no decorrer das greves, ou seja, colocou-se ao lado das administrações».
Durante a luta de dia 13, o coordenador da União dos Sindicatos de Lisboa – um dos dirigentes sobre quem a Polícia carregou, para tentar abrir caminho a trabalhadoras eventuais, externas ao hotel – chamou a atenção para o facto de este posicionamento das forças policiais representar um regresso ao passado. É que, lembrou Arménio Carlos, desde os governos de Cavaco Silva que a Polícia tinha deixado de se colocar ao lado dos patrões, nos conflitos laborais, mesmo com a lei do lado dos trabalhadores.
Nos hotéis Tivoli e Marriott, acusa Rodolfo Caseiro, «as administrações pressionaram os trabalhadores a trocar horários e folgas; contactaram, dentro do período do pré-aviso de greve, pessoas estranhas à empresa para substituir grevistas; e tentaram impedir a actuação dos piquetes de greve». Ora, «lamentavelmente, a Polícia prestou-se a dar cobertura a estas ilegalidades, em vez de fazer cumprir a legalidade», «prestou-se a fazer dois cordões de protecção, para entrada ilegal de pessoas que não eram das empresas, a fim de substituírem os trabalhadores em greve, acreditando nos falsos argumentos das administrações e nem tão pouco lhes pedindo provas de que não se tratava de extras ilegais» e «prestou-se, pasme-se, a acompanhar os piquetes de greve no interior das empresas, o que só não aconteceu porque os piquetes recusaram ser acompanhados pela Polícia».
O dirigente sindical ressalva que «nos vários grupos policiais que intervieram, e foram muitos, houve agentes e comissários tolerantes e compreensivos com a nossa luta».
Ausente dos conflitos esteve a Inspecção Geral do Trabalho. Rodolfo Caseiro conta que, «apesar de ser solicitada insistentemente, durante as greves, a IGT apenas interveio no dia 13 e só no Hotel Marriott», uma «intervenção envergonhada» e com «posições sempre muito dúbias». «Quando confrontada com ilegalidades flagrantes, colocava sempre dúvidas, remetendo para os tribunais», protesta o sindicalista, relatando que, quando os dois inspectores que se deslocaram ao Marriott tinham já tomado vários apontamentos e registado várias ilegalidades, um deles acabou por responder com reservas, a uma observação feita pelo piquete de greve (dizendo-lhes que já teriam ali material abundante para o levantamento do auto).
Os extras
Os profissionais do sector que fazem trabalho extra «merecem todo o nosso respeito e consideração» e «muitos deles não sabiam das greves, foram utilizados, não só pelas administrações, como por aqueles que os contratam». Rodolfo Caseiro conta que «muitos deles, quando se aperceberam da cilada em que tinham caído, mesmo sabendo que no futuro podem ser marginalizados, colocaram-se ao nosso lado na greve».
Sem preço
«Estas lutas têm sido ricas em exemplos de consciência, firmeza e dignidade, principalmente dos jovens», relatando Rodolfo Caseiro que «muitos jovens e menos jovens fizeram sentir que foram pressionados e aliciados pelos administradores, que lhes prometiam que seriam promovidos se não fizessem greve», mas «responderam que querem ser promovidos pela sua capacidade, porque a sua dignidade não está à venda».
Solidariedade activa
Durante a greve no Hotel Marriot, esteve presente uma delegação do PCP e Paula Henriques, do Comité Central e da DORL, transmitiu aos trabalhadores a solidariedade e apoio do Partido. No Tivoli esteve outra delegação e também o deputado António Filipe, que informou que iria levantar na Assembleia da República o problema da intervenção policial nestes conflitos laborais.
Rodolfo Caseiro diz que «a presença do Partido foi muito apreciada pelos trabalhadores, ouvindo-se várias expressões de reconhecimento e admiração», e admite que «há condições, na sequência da luta, para recrutar mais trabalhadores para o Partido, sobretudo quadros jovens», uma vez que «a própria luta cria condições para o reforço do Partido, nestas empresas e noutras onde a luta vai continuar».