Bruteza made in USA
Foi uma reportagem tendo como tema a «brutalidade nas prisões americanas». Na SIC-Notícias, na tarde do passado sábado, que foi cinzenta, chuvosa, melancolizante, como que a condizer com o carácter verdadeiramente negro da informação que nos estava a ser prestada. Não era a primeira vez, é certo, que a TV, e precisamente a SIC-Notícias, transmitia um testemunho verdadeiramente chocante acerca da realidade prisional nos Estados Unidos. Desta vez, porém, as revelações pareceram mais indignantes e talvez também mais inquietantes. É que desde a repercussão mundial do escândalo de Abu Ghraib ficámos todos a saber que a bestialidade no tratamento de presos é, na efectiva prática norte-americana, artigo de exportação. Antes, já havia Guantamano; mas Guantamano sempre esteve envolto num espesso nevoeiro fabricado com censuras, arrogâncias e cumplicidades, que tem limitado de algum modo a intensidade da repugnância que o caso provoca. Com este documentário tudo era mais explícito, decerto porque não implicava embaraços à escala internacional. Entretanto, já Abu Ghraib estava supostamente «regularizado» mediante algumas poucas condenações de pasmosa ligeireza em confronto com os crimes cometidos, surgiram informações esparsas de que muitas situações similares haverá. De tudo isto emerge um quadro que a reportagem agora transmitida pela SIC-Notícias confirma: as prisões norte-americanas, quer as situadas no próprio território dos Estados Unidos quer as que o poder norte-americano instala e controla em territórios alheios, são antros de bruteza que peremptoriamente desmentem a apregoada preocupação USA com direitos humanos. E, é claro, como inevitável consequência, os que porventura queiram negar, diluir ou sequer fazer esquecer este facto tornam-se, na verdade, cúmplices activos de crimes contra a humanidade.
O caso dos aviões vazios
Por coincidência, já se vê que tristíssima, na manhã do mesmo sábado em que a SIC-Notícias nos contava como em prisões dos Estados Unidos são tratados cidadãos norte-americanos, ocorreram na televisão portuguesa, designadamente na RTPN, um momento infelizmente situado na mesma área. Foi em «Pontos de Vista», uma rubrica de debate acerca de assuntos da actualidade. Nela foi abordado, entre outros, o caso dos aviões ao serviço da CIA que transportam prisioneiros para países onde possam ser comodamente torturados graças à compreensão dos governos locais, mais propensos a valorizarem a obediência ao «amigo americano» que essa coisa dos direitos humanos. Anote-se, de passagem, que parte desses condescendentes governos será, ao que consta, de países do Leste europeu que há alguns anos se libertaram de duras ditaduras comunistas. Mas passemos, para lembrar que perante essas notícias no mínimo alarmantes tem sido pelo menos ético dar sinais de inquietação e desconforto, até porque está apurado que pelo menos um desses aviões poisou em território português. Porém, aconteceu uma surpresa: um dos participantes no programa desembestou numa mão-cheia de supostos argumentos para desvalorizar o escândalo. Não lhe bastou atracar à resposta dada há dias por um membro do governo ao alegar que, estando embora ao serviço da CIA, o avião em causa estava vazio, com óbvia excepção dos tripulantes. Podia, pois, o sujeito do «Pontos de Vista» ater-se à interessante convicção de que a CIA se entretém a mandar aviões vazios para cá e para lá do Atlântico, na mais perfeita das inocências. Mas não senhores, o homem quis ir mais longe. Há criaturas assim, digamos que se parecem com cercos miúdos que não descansam enquanto não se emporcalham todos no decurso das suas traquinices. E, assim, o cavalheiro omitiu o dado, na circunstância fundamental, de que toda a celeuma começou com uma reportagem do «Washington Post», parece que insuspeito da prática de anti-americanismo militante. E ignorou o facto de diversos governos europeus e mesmo um órgão da UE decidirem investigar o facto denunciado. E optou por reduzir tudo à irrelevante escala de umas fotos tiradas por um qualquer mal-intencionado, presumivelmente comunista, e de mais um ou dois dados insignificantes. Dir-se-ia que a criatura se estava a propor para eventual colaboração no tráfego transatlântico de aviões vazios, mas de facto estava a fazer outra tarefa: a tentar defender, mediante ocultação de provas, autores de infames crimes de guerra. E, para tanto, a servir-se da TV pública, que todos pagamos. Que é nossa, e não do Dick Chency.
O caso dos aviões vazios
Por coincidência, já se vê que tristíssima, na manhã do mesmo sábado em que a SIC-Notícias nos contava como em prisões dos Estados Unidos são tratados cidadãos norte-americanos, ocorreram na televisão portuguesa, designadamente na RTPN, um momento infelizmente situado na mesma área. Foi em «Pontos de Vista», uma rubrica de debate acerca de assuntos da actualidade. Nela foi abordado, entre outros, o caso dos aviões ao serviço da CIA que transportam prisioneiros para países onde possam ser comodamente torturados graças à compreensão dos governos locais, mais propensos a valorizarem a obediência ao «amigo americano» que essa coisa dos direitos humanos. Anote-se, de passagem, que parte desses condescendentes governos será, ao que consta, de países do Leste europeu que há alguns anos se libertaram de duras ditaduras comunistas. Mas passemos, para lembrar que perante essas notícias no mínimo alarmantes tem sido pelo menos ético dar sinais de inquietação e desconforto, até porque está apurado que pelo menos um desses aviões poisou em território português. Porém, aconteceu uma surpresa: um dos participantes no programa desembestou numa mão-cheia de supostos argumentos para desvalorizar o escândalo. Não lhe bastou atracar à resposta dada há dias por um membro do governo ao alegar que, estando embora ao serviço da CIA, o avião em causa estava vazio, com óbvia excepção dos tripulantes. Podia, pois, o sujeito do «Pontos de Vista» ater-se à interessante convicção de que a CIA se entretém a mandar aviões vazios para cá e para lá do Atlântico, na mais perfeita das inocências. Mas não senhores, o homem quis ir mais longe. Há criaturas assim, digamos que se parecem com cercos miúdos que não descansam enquanto não se emporcalham todos no decurso das suas traquinices. E, assim, o cavalheiro omitiu o dado, na circunstância fundamental, de que toda a celeuma começou com uma reportagem do «Washington Post», parece que insuspeito da prática de anti-americanismo militante. E ignorou o facto de diversos governos europeus e mesmo um órgão da UE decidirem investigar o facto denunciado. E optou por reduzir tudo à irrelevante escala de umas fotos tiradas por um qualquer mal-intencionado, presumivelmente comunista, e de mais um ou dois dados insignificantes. Dir-se-ia que a criatura se estava a propor para eventual colaboração no tráfego transatlântico de aviões vazios, mas de facto estava a fazer outra tarefa: a tentar defender, mediante ocultação de provas, autores de infames crimes de guerra. E, para tanto, a servir-se da TV pública, que todos pagamos. Que é nossa, e não do Dick Chency.