Pequena história de um PS sem história
Era um homem calmo, ponderado, organizado. No tempo do governo PSD/CDS-PP, assumia uma atitude crítica face às questões da Área Metropolitana de Lisboa. Vinha do Barreiro, chegava à Conferência de Representantes da Assembleia Metropolitana e assumia o seu papel de oposição activa perante o governo PSD/CDS-PP e o que ia sendo anunciado acerca das propostas de Lei nºs 10/2003 e 11/2003, de Miguel Relvas, que estavam em preparação.
A certa altura, a Conferência de Representantes avançou na elaboração de um documento muito crítico acerca da situação em que a Junta e Assembleia Metropolitanas se encontravam. Assim não valeria a pena continuar, porque os problemas se agravavam na Área Metropolitana e estes órgãos, sem condições de actuação, sem meios financeiros e técnicos adequados, e, sobretudo, não eleitos directamente pelas populações, estavam num impasse agravado em sucessivos anos e mandatos.
Este documento, elaborado com a prestimosa participação daquele homem calmo, ponderado e organizado, aprovado na Conferência de Representantes e apresentado na Assembleia Metropolitana da Área Metropolitana de Lisboa, foi amplamente analisado nas vertentes das profundas necessidades de desenvolvimento integrado, das questões fundamentais para o futuro da Área Metropolitana e dos concelhos envolvidos, da necessidade evidente da eleição directa dos órgãos metropolitanos, e foi aprovado por unanimidade pelo PS, pela CDU, pelo PSD e pelo CDS-PP.
Parecia encontrado um novo caminho para a Área Metropolitana de Lisboa, mas as Leis 10/2003 e 11/2003, das Grandes Áreas Metropolitanas, Comunidades Urbanas e Associações Intermunicipais, foi o que se viu, desde a demagogia de Miguel Relvas à barragem propagandística acerca das necessidades de implicar o país nesse desenvolvimento maior de um processo vazio e condenado à partida, divisionista e, sobretudo, levado a cabo para ocultar e dificultar o novo rumo que se impunha, e parecia imparável, para as Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto. Por exemplo em Trás-os-Montes e Alto Douro, autarcas do PSD e do PS conseguiram o inimaginável, ou seja, dividir a região em duas fantasiosas «Comunidades» que já estavam enterradas à partida. E assim ficámos, com a agravante de que, na Área Metropolitana de Lisboa, tudo avançou para pior, com cortes de 37,4% nas dotações descentralizadas pelo poder central, logo em dois anos sucessivos; de uma dotação que pouco ultrapassava um milhão de euros recuou-se rapidamente para uma dotação que rondou os 600 000 euros e agora o corte aprofunda-se e fica uma dotação irrisória de que nem sequer vale a pena falar.
Mas, entretanto, Miguel Relvas e os «extraordinários» governos do PSD/CDS-PP foram à vida, o PS ganhou as eleições de Fevereiro deste ano e, maravilha das maravilhas, subiu ao posto de secretário de Estado da Administração Local o tal homem calmo, ponderado, organizado e defensor da transformação decisiva dos órgãos metropolitanos em entidades eleitas e a caminho de uma nova vida de encanto e de mudança. Por isso mesmo, no seio da Assembleia Metropolitana, surgiu a ideia de solicitar uma audiência a Sua Excelência, para que fosse ponderada em conjunto e levada finalmente a cabo a matéria constante no tal documento aprovado por unanimidade aquando da sua participação activa no órgão metropolitano.
Assim nã dá...
Tal audiência já aconteceu e ficámos todos muito tristes. Antes não tivesse acontecido... Talvez por razões de alto interesse nacional, talvez por desígnios ainda não adivinhados e, muito menos, impossíveis de entender na profunda essência do governo do PS, a questão essencial, que foi colocada a Sua Excelência com o carácter de urgência de que ele bem se lembraria, recebeu uma resposta assaz pressagiadora de tempos ainda mais difíceis e conturbados para a Área Metropolitana de Lisboa: essa questão essencial, a da preparação urgente para o salto qualitativo, em matéria de intervenção integrada e representativa das forças políticas, sociais, culturais e económicas, incluindo obviamente a eleição directa dos órgãos Junta Metropolitana e Assembleia Metropolitana, só seria abordada pelo governo a partir de 2009...
Não vale a pena pôr mais na crónica. Esta gente não tem palavra nem vergonha. Assim anda, da oposição para o poder, mudando de opinião e de postura em conformidade com a situação que interessa à conservação do governo a todo o custo, e depois, quando mal se precata, salta do poder bem-amado e vem cá para fora retomar os bons princípios de oposição e de progresso necessário, em palavras, claro, a favor dos mais desfavorecidos e dos desvalidos da sorte.
Não dá... Por isso o descrédito principia a ser perigoso e avassalador, tornando os ciclos políticos cada vez mais curtos, até que, algum dia, este povo se fartará da hipocrisia, da mentira, das promessas assim e das políticas assado em que nos queimam em lume doloroso e destruidor e fazem o que já deviam ter feito há muitos anos, ou seja, negar os votos e o poder a quem não tem ética, a esse «centrão» imoral que não tem um mínimo de grandeza nem vergonha para ocupar seja que cargo for, neste país que precisa urgentemente de um sobressalto de mudança decisiva da nossa vida.
Apesar de tudo, merecemos melhor do que isto em que nos afundamos dia após dia, e nos afundaremos ainda mais, se não houver uma reviravolta de honra e dignidade que seja patriótica e transformadora.
Este documento, elaborado com a prestimosa participação daquele homem calmo, ponderado e organizado, aprovado na Conferência de Representantes e apresentado na Assembleia Metropolitana da Área Metropolitana de Lisboa, foi amplamente analisado nas vertentes das profundas necessidades de desenvolvimento integrado, das questões fundamentais para o futuro da Área Metropolitana e dos concelhos envolvidos, da necessidade evidente da eleição directa dos órgãos metropolitanos, e foi aprovado por unanimidade pelo PS, pela CDU, pelo PSD e pelo CDS-PP.
Parecia encontrado um novo caminho para a Área Metropolitana de Lisboa, mas as Leis 10/2003 e 11/2003, das Grandes Áreas Metropolitanas, Comunidades Urbanas e Associações Intermunicipais, foi o que se viu, desde a demagogia de Miguel Relvas à barragem propagandística acerca das necessidades de implicar o país nesse desenvolvimento maior de um processo vazio e condenado à partida, divisionista e, sobretudo, levado a cabo para ocultar e dificultar o novo rumo que se impunha, e parecia imparável, para as Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto. Por exemplo em Trás-os-Montes e Alto Douro, autarcas do PSD e do PS conseguiram o inimaginável, ou seja, dividir a região em duas fantasiosas «Comunidades» que já estavam enterradas à partida. E assim ficámos, com a agravante de que, na Área Metropolitana de Lisboa, tudo avançou para pior, com cortes de 37,4% nas dotações descentralizadas pelo poder central, logo em dois anos sucessivos; de uma dotação que pouco ultrapassava um milhão de euros recuou-se rapidamente para uma dotação que rondou os 600 000 euros e agora o corte aprofunda-se e fica uma dotação irrisória de que nem sequer vale a pena falar.
Mas, entretanto, Miguel Relvas e os «extraordinários» governos do PSD/CDS-PP foram à vida, o PS ganhou as eleições de Fevereiro deste ano e, maravilha das maravilhas, subiu ao posto de secretário de Estado da Administração Local o tal homem calmo, ponderado, organizado e defensor da transformação decisiva dos órgãos metropolitanos em entidades eleitas e a caminho de uma nova vida de encanto e de mudança. Por isso mesmo, no seio da Assembleia Metropolitana, surgiu a ideia de solicitar uma audiência a Sua Excelência, para que fosse ponderada em conjunto e levada finalmente a cabo a matéria constante no tal documento aprovado por unanimidade aquando da sua participação activa no órgão metropolitano.
Assim nã dá...
Tal audiência já aconteceu e ficámos todos muito tristes. Antes não tivesse acontecido... Talvez por razões de alto interesse nacional, talvez por desígnios ainda não adivinhados e, muito menos, impossíveis de entender na profunda essência do governo do PS, a questão essencial, que foi colocada a Sua Excelência com o carácter de urgência de que ele bem se lembraria, recebeu uma resposta assaz pressagiadora de tempos ainda mais difíceis e conturbados para a Área Metropolitana de Lisboa: essa questão essencial, a da preparação urgente para o salto qualitativo, em matéria de intervenção integrada e representativa das forças políticas, sociais, culturais e económicas, incluindo obviamente a eleição directa dos órgãos Junta Metropolitana e Assembleia Metropolitana, só seria abordada pelo governo a partir de 2009...
Não vale a pena pôr mais na crónica. Esta gente não tem palavra nem vergonha. Assim anda, da oposição para o poder, mudando de opinião e de postura em conformidade com a situação que interessa à conservação do governo a todo o custo, e depois, quando mal se precata, salta do poder bem-amado e vem cá para fora retomar os bons princípios de oposição e de progresso necessário, em palavras, claro, a favor dos mais desfavorecidos e dos desvalidos da sorte.
Não dá... Por isso o descrédito principia a ser perigoso e avassalador, tornando os ciclos políticos cada vez mais curtos, até que, algum dia, este povo se fartará da hipocrisia, da mentira, das promessas assim e das políticas assado em que nos queimam em lume doloroso e destruidor e fazem o que já deviam ter feito há muitos anos, ou seja, negar os votos e o poder a quem não tem ética, a esse «centrão» imoral que não tem um mínimo de grandeza nem vergonha para ocupar seja que cargo for, neste país que precisa urgentemente de um sobressalto de mudança decisiva da nossa vida.
Apesar de tudo, merecemos melhor do que isto em que nos afundamos dia após dia, e nos afundaremos ainda mais, se não houver uma reviravolta de honra e dignidade que seja patriótica e transformadora.