A entrevista
Foi na TVI, a primeira entrevista de Cavaco Silva no âmbito da pré-campanha para a eleição presidencial, e é preciso registar que, ao contrário do que eu receava, Constança Cunha e Sá não lhe facilitou a prova, o que só lhe ficou bem. Quanto ao resto, isto é, quanto à prestação do senhor Professor, foi o que poderia esperar-se: um espectáculo tosco. Porque o senhor Professor tem uma elocução pernóstica, afectada, com inflexões aflautadas que, coitado, o torna ridículo e inevitavelmente sugere uma atitude se soberba interior; tem uma imagem de frieza e arrogância que pode ser apenas aparência mas que, de qualquer modo, está lá e produz efeitos. Por isso, se por desgraça o senhor Professor fosse escolhido para Belém, eu ficaria a desejar que pelo menos ficasse por cá, nunca se mostrasse no estrangeiro, porque eu teria vergonha de que lá fora se soubesse que o Presidente da República do meu País era aquele sujeito sempre um pouco caricatural, sempre a resvalar para o grotesco. E o senhor Professor é tanto assim que muito me maravilhou a sua insistência em dizer que os dois trunfos de que o Presidente da República dispõe são a imagem e a palavra. É que quanto à imagem, só por encomenda seria fácil encontrar pior. E no que se refere à palavra, nem a maior das boas vontades pode dizer que é muito melhor: quanto à forma, já acima se disse como é de difícil digestão; quanto aos conteúdos, bem se pode tomar esta entrevista como amostragem significativa. E vale a pena examinar esse aspecto com mais algum vagar.
O candidato dos belmiros
Talvez o que primeiro deva ser notado é que o senhor Professor como que seguiu o exemplo bíblico de Pedro e por três vezes se negou a si próprio: por três vezes Constança Cunha e Sá tentou confrontá-lo com afirmações por ele feitas algum tempo atrás e em todos esses momentos ele recusou responsabilizar-se por elas, quer alegando que não se recordava quer negando-se redondamente. Convenhamos que não é bonita atitude em qualquer cidadão, muito menos em quem aspira à presidência da República e, para mais, reclama para si próprio o estatuto de homem confiável, dessa presunção fazendo um dos trunfos da sua candidatura. Para lá disto, chegou a ser incómodo o modo quase espavorido como ele sempre se recusou a falar da sua acção passada, a discuti-la e se fosse caso disso a justificá-la, excepto num breve momento em que, aliás a completo despropósito e em fuga à pergunta que lhe havia sido posta, desatou a enumerar os seus supostos feitos. A questão é que, naturalmente, um candidato a qualquer lugar só pode ser avaliado pelo que é, e o que é só pode ser medido pelo que fez ou não fez. Recusando-se repetidamente a sequer aceitar perguntas que questionassem alguns aspectos da sua actividade como homem político, o senhor Professor denunciou uma inquietante má-consciência. Em todo o caso, salientemos que aquela estória da confiança que inspira tem alguma verdade, e é uma vontade que muito nos interessa a nós, arraia-miúda. É que, o próprio senhor Professor fez o favor de no-lo dizer, quando «esteve como empresários» pôde comprovar como lhes inspira confiança. É certo que não disse de quais empresários falava, mas também não era precisa essa informação complementar: os seus nomes vieram na imprensa, são os srs. Belmiro de Azevedo, Fernando Ulrich, António Carrapatoso, Francisco Van Zeller, Ludgero Marques, João Pereira Coutinho, Américo Amorim, decerto alguns outros e todos figuras importantes do mundo dos negócios. Infelizmente, porém, a circunstância de tão emblemáticos empresários terem manifestado no senhor Professor a sua confiança suscita a maior desconfiança nos muitos milhares de trabalhadores que sabem, por dura experiência própria, como são eles a pagar o preço dessa confiança que pelos vistos desvanece o senhor Professor. E, porque é assim, quando o senhor Professor multiplica os seus protestos de querer vir para Belém «para ajudar», são muitas as vozes que perguntam, muito legitimamente: «ajudar a quem?». Ou melhor: não formulam a pergunta por já saberem a resposta. É, de resto, essa resposta que dá todo o sentido à candidatura de Jerónimo de Sousa. Bem pode o senhor Professor queixar-se de que o insultam quando caracterizam objectiva e lucidamente a sua acção no passado de que não quer falar. É que esse passado, e não as suas supostas sabedorias, é que explica a confiança dos tais empresários. E explicará, espero, a rejeição dos portugueses que, de resto, já aconteceu uma vez. O que também faz parte do passado do senhor Professor.
O candidato dos belmiros
Talvez o que primeiro deva ser notado é que o senhor Professor como que seguiu o exemplo bíblico de Pedro e por três vezes se negou a si próprio: por três vezes Constança Cunha e Sá tentou confrontá-lo com afirmações por ele feitas algum tempo atrás e em todos esses momentos ele recusou responsabilizar-se por elas, quer alegando que não se recordava quer negando-se redondamente. Convenhamos que não é bonita atitude em qualquer cidadão, muito menos em quem aspira à presidência da República e, para mais, reclama para si próprio o estatuto de homem confiável, dessa presunção fazendo um dos trunfos da sua candidatura. Para lá disto, chegou a ser incómodo o modo quase espavorido como ele sempre se recusou a falar da sua acção passada, a discuti-la e se fosse caso disso a justificá-la, excepto num breve momento em que, aliás a completo despropósito e em fuga à pergunta que lhe havia sido posta, desatou a enumerar os seus supostos feitos. A questão é que, naturalmente, um candidato a qualquer lugar só pode ser avaliado pelo que é, e o que é só pode ser medido pelo que fez ou não fez. Recusando-se repetidamente a sequer aceitar perguntas que questionassem alguns aspectos da sua actividade como homem político, o senhor Professor denunciou uma inquietante má-consciência. Em todo o caso, salientemos que aquela estória da confiança que inspira tem alguma verdade, e é uma vontade que muito nos interessa a nós, arraia-miúda. É que, o próprio senhor Professor fez o favor de no-lo dizer, quando «esteve como empresários» pôde comprovar como lhes inspira confiança. É certo que não disse de quais empresários falava, mas também não era precisa essa informação complementar: os seus nomes vieram na imprensa, são os srs. Belmiro de Azevedo, Fernando Ulrich, António Carrapatoso, Francisco Van Zeller, Ludgero Marques, João Pereira Coutinho, Américo Amorim, decerto alguns outros e todos figuras importantes do mundo dos negócios. Infelizmente, porém, a circunstância de tão emblemáticos empresários terem manifestado no senhor Professor a sua confiança suscita a maior desconfiança nos muitos milhares de trabalhadores que sabem, por dura experiência própria, como são eles a pagar o preço dessa confiança que pelos vistos desvanece o senhor Professor. E, porque é assim, quando o senhor Professor multiplica os seus protestos de querer vir para Belém «para ajudar», são muitas as vozes que perguntam, muito legitimamente: «ajudar a quem?». Ou melhor: não formulam a pergunta por já saberem a resposta. É, de resto, essa resposta que dá todo o sentido à candidatura de Jerónimo de Sousa. Bem pode o senhor Professor queixar-se de que o insultam quando caracterizam objectiva e lucidamente a sua acção no passado de que não quer falar. É que esse passado, e não as suas supostas sabedorias, é que explica a confiança dos tais empresários. E explicará, espero, a rejeição dos portugueses que, de resto, já aconteceu uma vez. O que também faz parte do passado do senhor Professor.