Fruto da decisão conjunta de representantes de mais de 30 milhões de jovens de 63 países reunidos em Londres na Conferência Mundial Juvenil, a FMJD adoptou um compromisso pela paz e contra o imperialismo. Ainda hoje esse é o seu objectivo, como refere Inês Zuber, dirigente da JCP.- Qual a importância do 60.º aniversário da FMJD para o mundo e em particular para Portugal?- A importância de se comemorar estes 60 anos relaciona-se sobretudo com o facto do espírito que esta organização teve na sua origem ainda permanecer e da sua actividade hoje ser muito necessária. A FMJD nasceu da necessidade que existia dos jovens coordenarem os seus esforços pela luta pela paz, pelo progresso social e contra o imperialismo. Desempenhou um papel muito importante historicamente em vários momentos contra agressões imperialistas (como a Guerra do Vietname) e pela solidariedade com várias revoluções progressistas. Neste momento, com o crescimento das agressões anti-imperialistas e com a alteração de forças no mundo, assistimos ao crescimento e ao reforço da FMJD, organização determinante neste quadro mundial. Por isso é importante divulgar este aniversário no movimento juvenil em todo o mundo, bem como a actividade da federação.
- Se não houvesse FMJD o mundo seria diferente? - Se não houvesse FMJD, o movimento juvenil anti-imperialista e que luta em cada país pelo progresso social não teria uma acção tão coordenada em determinados momentos. E sabemos que uma acção coordenada pode ser muito importante para pressionar e chamar a atenção para algumas causas.
- Em Portugal, a única organização que pertence à FMJD é a JCP. Faz falta haver outras organizações portuguesas na FMJD? - Na FMJD farão partes todas as organizações anti-imperialistas. A FMJD poderá estar em Portugal através de mais organizações, mas também podemos chegar a outras associações divulgando as resoluções da federação, as campanhas (como a deste ano sobre a vitória dos povos sobre o nazi-fascismo) e o Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes (também dinamizado pela FMJD) e que alarga o âmbito de acção da federação a muitas associações.
- 60 anos depois da formação da federação, o mundo está muito diferente. A FMJD continua a fazer sentido? - Sim. Um dos trabalhos que temos tentado desenvolver na presidência da federação é continuar a ser uma organização progressista e anti-imperialista, apesar das diferenças que existem entre as associações que dela fazem parte. Existe uma crítica ao sistema capitalista e neo-liberal. A FMJD só se vai reforçar se cada organização, o movimento juvenil e as lutas se reforçarem em cada país. Isto só acontece se as organizações-membro tiverem um contacto muito forte com a juventude e as massas juvenis. Se tivermos um contacto com o movimento juvenil em cada país, conhecemos as realidades. Através desse mecanismo e desse processo, a federação continua desempenhar um papel muito importante.
- A JCP preside actualmente à FMJD. Que significado tem esse facto tanto para a JCP como para a FMJD?- A nível do trabalho internacional da JCP, a federação constitui uma prioridade. Reconhecemos o papel histórico da FMJD e o instrumento fundamental que ela constitui no movimento juvenil internacional. A JCP pertence à FMJD há muito tempo, mas antes disso, durante o período da ditadura, quando ainda não havia JCP mas sim outras organizações comunistas clandestinas em Portugal, a federação foi uma estrutura que sempre mostrou solidariedade com a luta dos jovens comunistas e progressistas no nosso país. Antes do 25 de Abril, delegações portugueses participaram inclusivamente em festivais mundiais, saindo do país clandestinamente, para explicar a situação em Portugal e as razões por que se lutava. Do ponto de vista histórico e simbólico, a FMJD tem um papel muito importante.
O facto de estarmos na presidência pode servir, por um lado, para reforçar a federação e fazê-la crescer e, por outro lado, para tornar mais visíveis os problemas e as lutas dos jovens portugueses.
História da Federação e do Festival em revistaA revista da Federação Mundial da Juventude Democrática, a
World Youth, terá uma edição especial em breve com dois artigos de fundo. O primeiro aborda a história da federação e o seu trabalho em defesa da paz, do anti-imperialismo e das suas causas concretas. O segundo artigo trata das várias edições do Festivais Mundiais da Juventude e dos Estudantes. «O primeiro festival teve lugar em 1947, em Praga, e só se realiza porque a federação quis que se realizasse, embora a FMJD não seja a organizadora do movimento dos festivais», refere Inês Zuber.
Este artigo dá grande destaque ao 16.º festival, que se realizou em Agosto, na Venezuela. «Ainda estamos a fazer um balanço, mas da discussão que já se fez nos vários organismos da FMJD, conclui-se que foi um sucesso imenso. Foi o maior festival desde 1989. Só isso demonstra o retomar da dinâmica da própria federação», considera a dirigente da JCP.
«O 16.º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes teve um conteúdo político fortemente anti-imperialista e essa dinâmica só foi possível graças à FMJD, que teve um papel determinante no processo, até porque coordenava o Comité Organizativo Internacional», recorda.
«Uma das melhores formas de aproveitarmos a dinâmica criada é, por um lado, reforçar as lutas em cada país, aproveitando o conhecimento, a troca de experiências e a energia do festival e, por outro lado, reforçar a estrutura internacional anti-imperialista do movimento juvenil, a FMJD», defende Inês Zuber.
A
World Youth será publicada em inglês e castelhano, mas o artigo sobre a história da FMJD está disponível em português no
site da JCP
( www.jcp-pt.org/especial.php?id=26 ) .
Objectivos e acções década a décadaDécada de 40- denúncia da intenção norte-americana de domínio sobre o mundo através da submissão dos países abrangidos pelo Plano Marshall e da criação de blocos e instalação de bases militares em diversos países;
Década de 50- alerta para o perigo de uma nova guerra;
- recolha de milhões de assinaturas para o Apelo de Estocolmo, visando a proibição de bombas atómicas;
- acções pela proibição das bombas atómicas, o desarmamento e o fim das experiências atómicas e termonucleares;
Década de 60- denúncia da inflexibilidade dos EUA em estabelecer acordos para o desarmamento;
- defesa do desarmamento geral, absoluto e controlado e da ideia que a solução do problema alemão era decisiva para terminar a Guerra Fria e para a coexistência pacifica;
Década de 70- luta pela retirada da NATO em muitos países da Europa;
- organização de iniciativas de solidariedade política e material para com os países vitimas de agressão, em particular a Palestina;
- realização de encontros, conferências e outras actividades com vista à supressão do armamento nuclear e o desarmamento;
Década de 80- apoio às negociações sobre o desarmamento, através da redução substancial dos mísseis de médio alcance em ambas as partes da Europa, e às propostas relativas à real limitação e redução das armas estratégicas;
- acampamentos, concertos, manifestações, semanas da educação pela paz e outras acções contra o estabelecimento de mísseis americanos na Europa e as bases militares e nucleares da NATO;
Década de 90- combate pela resolução política dos conflitos, pela dissolução das alianças militares e pela conversão da industria de guerra em industria de paz ao serviço dos povos;
- luta contra o comércio de armamento, responsabilizando os Estados Unidos e a Europa – os principais produtores de armamento – de fomentarem os conflitos regionais, que em 1995 adquiriam 75 por cento das armas comercializadas;
- mobilização contra as agressões ilegítimas dos EUA e de seus aliados contra a Jugoslávia e o Iraque;
- proposta da adaptação das estruturas das Nações Unidas, em particular do Conselho de Segurança, transformando-o num instrumento democrático e representativo, adaptado às novas realidades mundiais;
- apelo para o desenvolvimento da capacidade da ONU de prevenir conflitos e a sua monitorização do comercio de armas;
- apoio à Declaração de Hiroshima, pela abolição das armas nucleares;
Depois de 2000- acções contra as guerras e ocupações no Afeganistão e no Iraque;
- acções pelo respeito pela determinação nacional, a igualdade entre os estados soberanos, a solução dos conflitos por meios pacíficos, sem permitir a dominação unilateralista de nenhum país.
Festa de aniversário no sábado
O 60.º aniversário da Federação Mundial da Juventude Democrática é comemorado no próximo sábado, às 21h, no Salão Nobre da Casa do Ribatejo, na Rua do Salitre, n.º 136, 1.º, em Lisboa. Organizada pela JCP, a iniciativa conta com as intervenções de Miguel Madeira, presidente da FMJD, e Aurélio Santos, antigo dirigente do MUD Juvenil. Segue-se um porto de honra.