a CDU recuperou a câmara do Barreiro
Uma vitória dos valores do Partido
Apenas quatro anos depois de ter perdido para o PS a presidência da Câmara Municipal do Barreiro, a CDU venceu as eleições no passado dia 9, recuperando a maioria nesta simbólica autarquia. Em conversa ao Avante!, o novo presidente da Câmara, Carlos Humberto Carvalho, e Nuno Costa, responsável pela organização concelhia do PCP, consideram que se trata de uma vitória das concepções políticas, ideológicas e autárquicas do Partido. E concluem: «Quando somos afirmativos, quando vamos para o combate ideológico com as nossas armas e quando não escondemos aquilo que somos, só temos a ganhar.»
Da mesma forma como constituiu um duro golpe emocional para os comunistas do Barreiro – e não só – a perda da maioria na câmara em 2001, a vitória da CDU nas eleições do passado dia 9 de Outubro foi recebida com especial alegria nas noites eleitorais nos centros de trabalho do Partido em todo o País. Todas as vitórias são importantes, mas – para quê negar? – o Barreiro tem um simbolismo especial para os comunistas portugueses. Não é mais nem menos. Apenas diferente!
Em conversa com Carlos Humberto Carvalho e Nuno Costa, o Avante! foi descobrir os «segredos» desta vitória, conseguida após um único mandato de maioria PS. Como afirmou o recém-eleito autarca, que toma hoje posse como presidente da câmara municipal do Barreiro, nunca há apenas uma razão para explicar vitórias e derrotas, mas uma multiplicidade delas. Mas de uma coisa estão certos os dois membros do Comité Central do PCP: esta foi uma vitória das concepções políticas e ideológicas do Partido e do seu projecto autárquico.
Todo o processo eleitoral – construção das listas e do programa, estilo de campanha e, garantem, a futura acção à frente da autarquia – está profundamente marcado por concepções que são as dos comunistas. Conta o responsável pela organização concelhia do Barreiro que o processo de escolha dos candidatos, bem como o resultado desse processo, envolveu militantes do Partido aos mais diversos níveis, bem como gente de vários sectores da sociedade barreirense. Este amplo processo de auscultação constituiu um valor de enorme importância para gerar a dinâmica que se verificou na campanha da CDU e que foi essencial para os resultados obtidos. Assim se foi construindo, realça Nuno Costa, «tijolo a tijolo este edifício que foi a nossa candidatura».
Sair para a rua, conversar com todos
Escolhidos os candidatos, foi altura de vir para a rua, pondo em prática outra das características do projecto autárquico dos comunistas: «Ir para o terreno, afirmar a nossa candidatura, dar a conhecer às pessoas os nossos candidatos e as nossas ideias, confrontar o projecto do Partido e da CDU para as autarquias. Isto representou largas centenas de contactos ao longo de vários meses», destacou Nuno Costa.
O responsável pela organização partidária no Barreiro lembra a importância do que chama de «rede informal» de apoio à CDU, que aos poucos se foi estendendo no concelho, face à «desastrosa gestão do Partido Socialista». Para Nuno Costa, já havia um «ruído de fundo a considerar que a alternativa era a CDU» mas, com o surgimento junto das pessoas dos candidatos da coligação, materializou-se esse «ruído de fundo» e a CDU assumiu-se definitivamente como alternativa. A confiança na possibilidade real de reconquistar a maioria na autarquia foi o passo a seguir.
Segundo Carlos Humberto, desde cedo que se percebeu que era possível alcançar a vitória. Mas, ressalva, «teria de ser uma vitória construída», afirmando as concepções do Partido e partir delas para «somar vontades, aglutinar saberes, juntar conhecimentos, ter em conta a sensibilidade das pessoas». Para o presidente da câmara eleito, partiu-se daqui para a ideia de que «era possível ampliar a base social, eleitoral e, se possível, política de apoio ao Partido».
Nuno Costa considera que a organização do Partido foi essencial para esta vitória. Mas, afirma, falar de organização do Partido neste caso é falar também dos candidatos, já que os mais destacados são oriundos da organização do Partido aos mais diversos níveis. «Há aqui ténues fronteiras entre aquilo que é a organização do Partido e quem são os candidatos», destaca.
Para Nuno Costa e Carlos Humberto, há lições a tirar da vitória alcançada no Barreiro pela CDU. Na opinião do actual presidente da câmara, fica provado que quando não se «vende a alma ao Diabo», quando não se desiste de lutar e se aplica as orientações do Partido, os resultados surgem. Comprovar a possibilidade real de se alcançarem vitórias com base em concepções ideológicas e políticas, que são as do Partido, e em princípios éticos foi, em sua opinião, o maior êxito alcançado pela CDU no concelho. «É tanto ou mais importante do que a própria vitória», reafirma.
Ter em conta a realidade
Nuno Costa e Carlos Humberto Carvalho são unânimes em considerar que o diagnóstico do concelho, realizado pelo Partido, marcou o início do trabalho que culminaria na vitória eleitoral de 9 de Outubro. Para Carlos Humberto, para alcançar a maioria havia que partir da realidade concreta do concelho.
O Barreiro sofreu, nos últimos 15 anos, profundas alterações na sua estrutura económica e de classe. Nesse período, perdeu 17 mil habitantes e passou de um grande centro industrial para um concelho em que o sector terciário é predominante. «Não se pode pensar que há alterações sociológicas tão profundas sem que tenham consequências políticas e ideológicas na consciência das pessoas», destaca o novo edil barreirense. Também na actividade do Partido estas alterações se fizeram sentir. Carlos Humberto dá apenas um exemplo, significativo: «Antes tínhamos uma célula na Quimigal com mil militantes. Tudo isso não existe mais hoje.»
Outra das questões que não se pode deixar de ter em conta quando se analisam vitórias e derrotas é, neste caso, a dimensão do concelho (34 quilómetros quadrados, um dos mais pequenos do País) e a sua capacidade reduzida de criar receitas próprias e, consequentemente, de realizar obra, muito inferiores à dos concelhos vizinhos.
Mas as alterações verificadas, embora muito profundas, não descaracterizaram por completo o concelho, destaca Carlos Humberto. «O Barreiro tem identidade, tem história, tem um percurso de intervenção, de luta, de resistência…»
Quatro anos bastaram…
Para Carlos Humberto, se a CDU ganhou as eleições também porque partiu para a batalha eleitoral com base no conhecimento da realidade concreta, o PS terá perdido pela razão inversa. «O PS perdeu as eleições em 2005 quando as ganhou em 2001», avança o novo presidente da câmara, que acusa o PS de ter utilizado «quase todos os métodos para roubar a câmara à CDU, em 2001: a demagogia, a mentira, a promessa fácil». A criação de expectativas demasiadamente elevadas e os logros criados pela gestão do PS provocaram, considera Carlos Humberto, legítimas desilusões na população do Barreiro.
Para a derrota do PS pesou muito também a arrogância dos seus autarcas nos quatro anos em que dirigiram a autarquia. Segundo Carlos Humberto, sempre desconfiaram de tudo e de todos: dos trabalhadores da autarquia, do movimento associativo, dos vereadores das outras forças políticas. Sobre os trabalhadores, Nuno Costa lembra como estes foram «ostracizados» pelo executivo do PS e lembra que houve trabalhadores despromovidos por serem do PCP.
Os dois responsáveis do Partido destacam o facto de terem sido necessários apenas quatro anos para recuperarem uma autarquia perdida – coisa, aliás, rara na história portuguesa. Após ter perdido, em 2001, por menos de 400 votos (e menos de um por cento), no passado dia 9, a CDU recuperou a câmara, tendo ficado à frente do PS por 2700 votos, o que corresponde a mais de sete por cento. «Em 2001, as pessoas avaliaram 27 anos de gestão da CDU e deram pela primeira vez a oportunidade a uma gestão PS. E compararam. E decidiram pela CDU», afirmou Carlos Humberto Carvalho, o novo presidente da Câmara Municipal do Barreiro.
«O Barreiro
é uma construção das pessoas»
Carlos Humberto Carvalho e Nuno Costa realçam que esta vitória provou que valores e princípios podem ganhar eleições. Para os dois dirigentes do PCP, a vitória foi alcançada, não na base da demagogia e da mentira, mas da «humildade, da seriedade, do trabalho, do empenho e da ligação às massas», como afirmou Carlos Humberto. Como estas não são apenas belas frases de propaganda eleitoral, mas princípios sólidos do projecto autárquico dos comunistas, é para continuar, afirmam ambos os responsáveis.
«Não é por acaso que anunciámos na campanha a criação do pelouro da Democracia, Participação e Cidadania, que ficará na responsabilidade do presidente da câmara», afirmou Carlos Humberto, lembrando que a criação deste pelouro será mesmo uma das primeiras medidas do novo executivo municipal. Contactos com os trabalhadores nos serviços durante vários dias e reuniões de câmara descentralizadas pelas freguesias, com visitas e encontros com entidades locais são apenas algumas das formas – as primeiras – que assumirá esta nova atitude de exercer o poder. «Este espírito de que o Barreiro é uma construção das pessoas vai continuar.»
Em conversa com Carlos Humberto Carvalho e Nuno Costa, o Avante! foi descobrir os «segredos» desta vitória, conseguida após um único mandato de maioria PS. Como afirmou o recém-eleito autarca, que toma hoje posse como presidente da câmara municipal do Barreiro, nunca há apenas uma razão para explicar vitórias e derrotas, mas uma multiplicidade delas. Mas de uma coisa estão certos os dois membros do Comité Central do PCP: esta foi uma vitória das concepções políticas e ideológicas do Partido e do seu projecto autárquico.
Todo o processo eleitoral – construção das listas e do programa, estilo de campanha e, garantem, a futura acção à frente da autarquia – está profundamente marcado por concepções que são as dos comunistas. Conta o responsável pela organização concelhia do Barreiro que o processo de escolha dos candidatos, bem como o resultado desse processo, envolveu militantes do Partido aos mais diversos níveis, bem como gente de vários sectores da sociedade barreirense. Este amplo processo de auscultação constituiu um valor de enorme importância para gerar a dinâmica que se verificou na campanha da CDU e que foi essencial para os resultados obtidos. Assim se foi construindo, realça Nuno Costa, «tijolo a tijolo este edifício que foi a nossa candidatura».
Sair para a rua, conversar com todos
Escolhidos os candidatos, foi altura de vir para a rua, pondo em prática outra das características do projecto autárquico dos comunistas: «Ir para o terreno, afirmar a nossa candidatura, dar a conhecer às pessoas os nossos candidatos e as nossas ideias, confrontar o projecto do Partido e da CDU para as autarquias. Isto representou largas centenas de contactos ao longo de vários meses», destacou Nuno Costa.
O responsável pela organização partidária no Barreiro lembra a importância do que chama de «rede informal» de apoio à CDU, que aos poucos se foi estendendo no concelho, face à «desastrosa gestão do Partido Socialista». Para Nuno Costa, já havia um «ruído de fundo a considerar que a alternativa era a CDU» mas, com o surgimento junto das pessoas dos candidatos da coligação, materializou-se esse «ruído de fundo» e a CDU assumiu-se definitivamente como alternativa. A confiança na possibilidade real de reconquistar a maioria na autarquia foi o passo a seguir.
Segundo Carlos Humberto, desde cedo que se percebeu que era possível alcançar a vitória. Mas, ressalva, «teria de ser uma vitória construída», afirmando as concepções do Partido e partir delas para «somar vontades, aglutinar saberes, juntar conhecimentos, ter em conta a sensibilidade das pessoas». Para o presidente da câmara eleito, partiu-se daqui para a ideia de que «era possível ampliar a base social, eleitoral e, se possível, política de apoio ao Partido».
Nuno Costa considera que a organização do Partido foi essencial para esta vitória. Mas, afirma, falar de organização do Partido neste caso é falar também dos candidatos, já que os mais destacados são oriundos da organização do Partido aos mais diversos níveis. «Há aqui ténues fronteiras entre aquilo que é a organização do Partido e quem são os candidatos», destaca.
Para Nuno Costa e Carlos Humberto, há lições a tirar da vitória alcançada no Barreiro pela CDU. Na opinião do actual presidente da câmara, fica provado que quando não se «vende a alma ao Diabo», quando não se desiste de lutar e se aplica as orientações do Partido, os resultados surgem. Comprovar a possibilidade real de se alcançarem vitórias com base em concepções ideológicas e políticas, que são as do Partido, e em princípios éticos foi, em sua opinião, o maior êxito alcançado pela CDU no concelho. «É tanto ou mais importante do que a própria vitória», reafirma.
Ter em conta a realidade
Nuno Costa e Carlos Humberto Carvalho são unânimes em considerar que o diagnóstico do concelho, realizado pelo Partido, marcou o início do trabalho que culminaria na vitória eleitoral de 9 de Outubro. Para Carlos Humberto, para alcançar a maioria havia que partir da realidade concreta do concelho.
O Barreiro sofreu, nos últimos 15 anos, profundas alterações na sua estrutura económica e de classe. Nesse período, perdeu 17 mil habitantes e passou de um grande centro industrial para um concelho em que o sector terciário é predominante. «Não se pode pensar que há alterações sociológicas tão profundas sem que tenham consequências políticas e ideológicas na consciência das pessoas», destaca o novo edil barreirense. Também na actividade do Partido estas alterações se fizeram sentir. Carlos Humberto dá apenas um exemplo, significativo: «Antes tínhamos uma célula na Quimigal com mil militantes. Tudo isso não existe mais hoje.»
Outra das questões que não se pode deixar de ter em conta quando se analisam vitórias e derrotas é, neste caso, a dimensão do concelho (34 quilómetros quadrados, um dos mais pequenos do País) e a sua capacidade reduzida de criar receitas próprias e, consequentemente, de realizar obra, muito inferiores à dos concelhos vizinhos.
Mas as alterações verificadas, embora muito profundas, não descaracterizaram por completo o concelho, destaca Carlos Humberto. «O Barreiro tem identidade, tem história, tem um percurso de intervenção, de luta, de resistência…»
Quatro anos bastaram…
Para Carlos Humberto, se a CDU ganhou as eleições também porque partiu para a batalha eleitoral com base no conhecimento da realidade concreta, o PS terá perdido pela razão inversa. «O PS perdeu as eleições em 2005 quando as ganhou em 2001», avança o novo presidente da câmara, que acusa o PS de ter utilizado «quase todos os métodos para roubar a câmara à CDU, em 2001: a demagogia, a mentira, a promessa fácil». A criação de expectativas demasiadamente elevadas e os logros criados pela gestão do PS provocaram, considera Carlos Humberto, legítimas desilusões na população do Barreiro.
Para a derrota do PS pesou muito também a arrogância dos seus autarcas nos quatro anos em que dirigiram a autarquia. Segundo Carlos Humberto, sempre desconfiaram de tudo e de todos: dos trabalhadores da autarquia, do movimento associativo, dos vereadores das outras forças políticas. Sobre os trabalhadores, Nuno Costa lembra como estes foram «ostracizados» pelo executivo do PS e lembra que houve trabalhadores despromovidos por serem do PCP.
Os dois responsáveis do Partido destacam o facto de terem sido necessários apenas quatro anos para recuperarem uma autarquia perdida – coisa, aliás, rara na história portuguesa. Após ter perdido, em 2001, por menos de 400 votos (e menos de um por cento), no passado dia 9, a CDU recuperou a câmara, tendo ficado à frente do PS por 2700 votos, o que corresponde a mais de sete por cento. «Em 2001, as pessoas avaliaram 27 anos de gestão da CDU e deram pela primeira vez a oportunidade a uma gestão PS. E compararam. E decidiram pela CDU», afirmou Carlos Humberto Carvalho, o novo presidente da Câmara Municipal do Barreiro.
«O Barreiro
é uma construção das pessoas»
Carlos Humberto Carvalho e Nuno Costa realçam que esta vitória provou que valores e princípios podem ganhar eleições. Para os dois dirigentes do PCP, a vitória foi alcançada, não na base da demagogia e da mentira, mas da «humildade, da seriedade, do trabalho, do empenho e da ligação às massas», como afirmou Carlos Humberto. Como estas não são apenas belas frases de propaganda eleitoral, mas princípios sólidos do projecto autárquico dos comunistas, é para continuar, afirmam ambos os responsáveis.
«Não é por acaso que anunciámos na campanha a criação do pelouro da Democracia, Participação e Cidadania, que ficará na responsabilidade do presidente da câmara», afirmou Carlos Humberto, lembrando que a criação deste pelouro será mesmo uma das primeiras medidas do novo executivo municipal. Contactos com os trabalhadores nos serviços durante vários dias e reuniões de câmara descentralizadas pelas freguesias, com visitas e encontros com entidades locais são apenas algumas das formas – as primeiras – que assumirá esta nova atitude de exercer o poder. «Este espírito de que o Barreiro é uma construção das pessoas vai continuar.»