Ocupantes lançam ofensiva

Iraque em pé de guerra

O exército norte-americano e as forças militares do governo iraquiano atacaram, no fim-de-semana, Tall Afar. A ofensiva pode estender-se a outras cidades do Norte do Iraque.
As armas ainda não se calaram definitivamente em Tall Afar, mas os violentos combates desencadeados desde sexta-feira da semana passada baixaram de intensidade com a alegada fuga dos grupos resistentes à ocupação do país.
De acordo com a versão oficial, os últimos combatentes terão escapado por uma complexa rede de túneis subterrâneos e supõem-se que alguns se encontrem refugiados algures no Norte do Iraque. As autoridades garantem que o fecho da fronteira com a Síria e o recolher obrigatório não permitiram o regresso dos grupos sobreviventes ao país vizinho, o qual, voltam a acusar, é uma base de apoio dos «terroristas».
Os responsáveis militares pela operação, envolvendo seis mil efectivos das forças militares iraquianas e quatro mil soldados norte-americanos, confirmaram a morte de 157 membros da resistência e a prisão de outros trezentos, números repetidos pelo ministro do interior iraquiano na visita que o governo de Bagdad efectuou, segunda-feira, à região.
A comitiva, liderada pelo chefe do governo Iraquiano, Ibrahim Jaafari, pouco adiantou sobre a situação que vivem os cerca de 400 mil habitantes de Tall Afar após mais de 48 horas de pesados combates, mas aproveitou para relançar a campanha sobre futuros ataques na zona junto à fronteira com a vizinha Síria.
Saadum al-Duleimi confirmou as ameaças do fim-de-semana e afirmou que «depois de Tall Afar iremos a Rabiya, Sinjar e em seguida prosseguimos pelo Vale do Eufrades». O ministro da defesa foi mesmo mais longe e dirigiu-se directamente à população resistente ao advertir «todos os que têm dado refúgio aos “terroristas”, que parem de o fazer, caso contrário, cortar-vos-emos as mãos, as cabeças e as línguas como fizemos em Tall Afar».

A sombra do massacre

As palavras do ministro da defesa sobre um eventual ajuste de contas com a resistência na ressaca do ataque foram explicadas como sendo proferidas «em sentido figurado», mas não deixam de levantar o véu sobre um eventual massacre ocorrido entre sexta-feira e domingo na cidade fronteiriça.
O facto é que para além da suspeita suscitada pela «franqueza» de Duleimi, o Crescente Vermelho iraquiano já manifestou a sua preocupação pela situação humanitária em Tall Afar. A organização de assistência médica sublinhou o êxodo de aproximadamente sete mil famílias durante o período mais violento na cidade, os três últimos dias de combates.
No mesmo sentido pronunciou-se o Conselho Nacional Iraquiano, a maior organização sunita do Iraque, apelidando precisamente de «massacre» as operações militares em Tall Afar.
As condições de vida da população podem ser de extrema gravidade considerando que os confrontos entre ocupantes e resistência duram pelo menos desde 26 de Agosto, dado admitido entretanto por fonte do exército norte-americano. Apesar do desconhecimento que subsiste sobre os verdadeiros contornos e consequências para o povo de Tall Afar, as declarações oficiais proferidas no balanço da tomada da cidade revelaram o verdadeiro motivo do ataque. Segundo um porta-voz militar dos EUA, o referendo constitucional de 15 de Outubro próximo está na base da operação. No sufrágio, basta que 66 por cento da população de três províncias iraquianas vote contra o projecto para este ser chumbado anulando todo o processo.

Sunitas contra a constituição

O Comité dos Ulemas Muçulmanos iniciou já a sua contestação à constituição, acusando o parlamento de Bagdad de apresentar um texto que legitima não só a presença estrangeira como também a divisão do país.
Em comunicado divulgado um dia antes do assalto a Tall Afar, a principal estrutura confessional sunita do Iraque apelou à população para que se manifeste contra o projecto constitucional e reclame a dissolução da Assembleia Nacional.
O Comité lembrou ainda a quem for votar para ter «cuidado com as fraudes, porque quem roubou os vossos votos nas últimas eleições poderá faze-lo novamente», concluindo que, a manter-se a ocupação, «o terrorismo continuará porque é uma criação da ocupação e só desaparecerá com o fim desta».

Direitos Humanos
ONU denuncia violação

No Iraque, a população não tem garantidos os mais elementares direitos políticos, sociais, culturais e económicos. A conclusão é do mais recente relatório da Missão de Assistência das Nações Unidas.
Segundo o documento, a violência e os assassinatos de civis, dirigentes políticos ou autoridades policiais, entre outras barbaridades, são quotidianas e «os cadáveres continuam a aparecer em Bagdad, a maioria apresentando sinais de tortura», que os familiares das vítimas atribuem a «forças ligadas ao ministério do interior».
A polícia é apontada como responsável por actos de «uso excessivo da força» e os turcomanos – uma das muitas comunidades que partilham o Iraque – são indicados como um dos alvos de sevícias e maus-tratos confirmados.
O periódico dá ainda conta da execução de três homens condenados à pena de morte e da exibição, na televisão pública, da cara de alegados suspeitos de «actos de violência» sem estes terem sido sequer ouvidos pela justiça.


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