Triunfo bolivariano

Pedro Campos
Tal como antecipavam governo e oposição, os bolivarianos ganharam as municipais de 7 de Agosto, onde 38 757 candidatos – a maioria deles de uma oposição que não cessa de gritar «Fraude!» antes e depois da votação – disputaram um total de 5599 lugares – 2389 em câmaras municipais e 3207 em juntas de freguesias – de 345 municípios do país. Um universo de 14 363 690 votantes sobre uma população total de 22 181 194 habitantes, tinha à sua disposição 29 136 mesas de votação, das quais 88,18%
automatizadas. Ainda que faltem por apurar os resultados de alguns centros eleitorais, já está claro que a proporção de eleitos estará numa relação de 8 bolivarianos contra 2 dos partidos antibolivarianos.
Esta é uma primeira vitória. A segunda é que, apesar dos apelos abstencionistas das forças mais reaccionárias apoiadas pela maioria dos média, o absentismo eleitoral ficou-se pelo 69,1% contra os 76,2% de 2000, a única referência histórica passível de comparação. Por outro lado, convém recordar que, se em 2000 a população eleitoral era de 11 769 396, agora foi de 14 363 690, o que dá uma ideia de quanto se incrementou o universo eleitoral. Estes níveis de abstenção – 76,6% em 2002, 69.1% em 2005 – são
perfeitamente normais na América Latina (e não só) quando se trata de eleições autárquicas. Estes índices descem substancialmente no caso de eleições presidenciais ou legislativas. Por exemplo, no caso do Estado Amazonas, onde também estava em discussão o cargo de governador, a abstenção desceu para 34,1%, muito abaixo do 53,2% de 2000, e garantiu a reeleição do candidato bolivariano, se bem que houvesse outro da mesma tendência, que ficaria em terceiro lugar.
Nas últimas nove eleições, a oposição antibolivariana contabilizou outras tantas derrotas, mas nenhuma tão desastrada como esta.
Dos vereadores que tinha conquistado em 2000, nestas eleições – só em 15 dos 24 estados – perdeu 650. Quando se conheçam os resultados finais, esta perda pode saltar para mil. Isto significa que em vários municípios onde era maioria passou para a condição de minoritária. Noutros converteu-se numa minoria ainda mais pequena. E ainda há casos onde não terá sequer representantes. Em boa medida, estas derrotas da oposição devem-se principalmente aos apelos histéricos à abstenção – como é óbvio, torcem a verdade e argumentam que a abstenção é um voto contra o governo – e às
divisões no seu seio, que se deram igualmente do lado bolivariano, mas com efeitos menos demolidores.

Ca­racas veste-se de ver­melho

O caso da capital é patético. O distrito metropolitano está dividido em cinco municípios com universos eleitorais muito diferentes. A oposição triunfou em três deles e perdeu nos outros dois. Vejamos os resultados a nível de vereadores:
Municípios - Libertador: Bolivarianos - 13, Antibolivarianos - 0; Sucre: Bolivarianos - 13, Antibolivarianos - 0; Baruta: Bolivarianos - 3, Antibolivarianos - 8; El Hatillo: Bolivarianos - 1, Antibolivarianos - 6; Chacao: Bolivarianos - 1, Antibolivarianos - 6.
Posto assim, pode dizer-se que a oposição triunfou na maioria dos municípios ou que a derrota não foi tão terrível: 20 vereadores contra 31. E é desta maneira como se manipula a análise dos resultados, que se devem ler de uma outra maneira.
Municípios - Libertador: Bolivarianos - 13, Antibolivarianos - 0, Habitantes - 2 073 768 (66,0%); Sucre: Bolivarianos - 13, Antibolivarianos - 0, Habitantes - 628 299 (20,0%); Baruta: Bolivarianos - 3, Antibolivarianos - 8, Habitantes - 302 027 (9,6%); El Hatillo: Bolivarianos - 1, Antibolivarianos - 6, Habitantes - 64 957 (2,1%); Chacao: Bolivarianos - 1, Antibolivarianos - 6, Habitantes - 71 025 (2,3%).
Total - Bolivarianos - 31, Antibolivarianos - 20, Habitantes - 3 140 076 (100,0%).
Como se pode ver, nos dois municípios mais importantes – que reúnem 86% da população – as forças bolivarianas conquistaram a totalidade dos vereadores. A oposição ganhou em três municípios pequenos, onde se concentra a população mais rica, e mesmo ali os apoiantes do processo conquistaram 25% dos eleitos.
A jornada eleitoral foi observada por especialistas de vários países e organizações internacionais, entre elas a União Interamericana de Organismos Eleitorais (Uniore), Conselho Eleitoral da Colômbia (ECU), Conselho Eleitoral da Nicarágua (CEN), Centro de Promoção e Assessoria Eleitoral (Capel), Conselho Eleitoral Andino e Parlamento Andino.
Guillermo Reyes (ECU) resumiu a opinião geral ao apontar que é natural uma abstenção (até) superior à verificada e ao felicitar o organismo eleitoral venezuelano pelo trabalho realizado. Roberto Rivas (CEN) manifestou que a Venezuela se deve sentir orgulhosa do seu sistema eleitoral «que é absolutamente seguro, que não permite a duplicidade do voto e evita que os mortos possam sufragar».


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