Espaço Ciência

Homenagear o conhecimento

A Geologia estará em destaque no Pavilhão Central, no espaço ciência da Festa do Avante! o lema «Portugal de Pedra e Cal», o espaço pretende mostrar a sua importância e as implicações que os minérios e minerais têm na vida da sociedade. Perto do lago, assinala-se o Ano Mundial da Física e fazem-se experiências de Física e observações de Astronomia. Num espaço e noutro, o rigor científico é assegurado por alguns dos melhores especialistas nacionais das respectivas áreas, ao mesmo tempo que se procura garantir a percepção do conhecimento por parte de todos – especialistas ou não.
Combinar o rigor científico com a facilidade de compreensão de matérias naturalmente densas pelo maior número de pessoas é uma das principais preocupações do grupo de trabalho do Espaço Ciência da Festa do Avante!, que este ano se divide pela Geologia, pela Física e pela Astronomia. Para Augusto Flor, responsável por esta área, é importante que todo o espaço seja concebido de forma «simples, mas correcta». Para o membro do Executivo da Festa, o rigor científico está plenamente assegurado pela participação na concepção dos materiais de exposição de alguns dos maiores especialistas nacionais nas três áreas do conhecimento: Galopim de Carvalho supervisiona a parte sobre Geologia; Rui Namorado Rosa a da Física; e Máximo Ferreira a Astronomia.
O outro objectivo também será cumprido, confia. E tem sido, como afirma Tânia Sousa, membro do grupo de trabalho. Para esta jovem de 27 anos, o Espaço Ciência já «fidelizou os visitantes, de várias idades, formações e experiências». Isto é, aliás, comprovado pela participação dos visitantes da Festa, ao longo dos anos, nas diversas actividades do Espaço Ciência. Este espaço é visitado por muita gente sem particulares conhecimentos científicos, mas com grande curiosidade. A clareza dos textos das exposições, das declarações em debates e a sempre pronta ajuda das associações e grupos de estudantes da área – com quem a Festa estabelece laços de cooperação, reforçados ano após ano – ajudam os visitantes menos conhecedores a ficarem mais esclarecidos.
Mas não só. Também as pessoas de alguma forma ligadas às diferentes áreas participam nos debates, tiram notas dos textos das exposições, solicitam os módulos das exposições para escolas e outras instituições, lembra Anabela Silva, membro do grupo de trabalho da Ciência. Augusto Flor recorda que, mais uma vez, a exposição da Ciência estará, a seguir à Festa, disponível para circular por vários locais do País.

A importância desconhecida da terra

A edição deste ano da Festa do Avante! dedica à Geologia um papel destacado no Espaço Ciência, no Pavilhão Central. Com o lema «Portugal de pedra e cal», o espaço será dividido em três componentes: a exposição, o espaço dos debates e o chamado espaço «lúdico». Neste, será possível observar rochas à lupa, fazer experiências com conchas e barro (para melhor compreender a formação dos fósseis) e assistir ao trabalho realizado por um oleiro, um calceteiro e um escultor – artes e ofícios intimamente ligados à terra, e aos minerais e minérios. Para Augusto Flor, esta é uma forma de valorizar o trabalho, nomeadamente, nestes casos, os dependentes do meio físico.
Com o tema «Geologia – Ciência, História, Economia e Sociedade», pretende-se, neste espaço, mostrar a imensa e importância dos minerais na sociedade. Assim, é destacada a Ciência da Terra nas suas diversas facetas: Na vertente da própria Ciência, para se perceber em que planeta vivemos e para onde vamos; da História, ao decifrar a evolução da Terra e da vida no decorrer das eras geológicas; da Economia, ao ser aplicada para o uso e progresso da Humanidade; da Sociedade.
Estas vertentes todas estarão representadas nos debates a decorrer no Pavilhão Central, naquele espaço. O primeiro debate, que decorre na sexta-feira à noite, é subordinado à prevenção sísmica e às catástrofes naturais, tendo como ponto de partida o terramoto de Dezembro passado no Índico e o terramoto de Lisboa de 1755; o segundo trata da preservação de recursos e património geológicos e o terceiro da pressão urbanística nas zonas costeiras, ligada ao ordenamento do território. Em todos eles, participam alguns dos melhores especialistas destes temas existentes no País, bem como está assegurada a participação de membros do Instituto de Conservação da Natureza, da Protecção Civil, da Associação Portuguesa de Geólogos. Já confirmados estão vários cientistas de renome, especialistas nos determinados assuntos.

A geologia está em todo o lado

Os reflexos dos minerais e minérios na cultura e literatura será um dos aspectos a abordar na exposição, patente no Pavilhão Central, sobre Geologia. Alice Figueira, professora de Português, destacou a quantidade de vezes em que se encontra, em alguns dos mais destacados escritores e poetas nacionais, esta realidade. E referiu, apenas a título de exemplo, os poemas de Cesário Verde e José Carlos Ary dos Santos sobre a profissão de calceteiro.
Em seguida, a professora de Português realçou a atracção pelos minerais e pelas profissões a eles associadas na literatura nacional: Eça de Queiroz e Miguel Torga são apenas outros exemplos. O Memorial do Convento e a Jangada de Pedra, do Nobel português José Saramago, são outros dos exemplos destacados. Alice Figueira referiu ainda a referência, na exposição, às referências na arte, na religião e na mitologia.

O Saber ao dispor de todos

«A Ciência não é neutra», afirmava o matemático português Bento de Jesus Caraça. Para Augusto Flor, esta frase é plena de significado e de actualidade. E vai mais longe: «Nenhuma actividade humana é neutra.» Na opinião do membro do Executivo da Festa do Avante! e responsável por esta área, o «ser humano tem várias opções e é neste quadro que age. E tem aquelas que têm a ver com o que nós defendemos: uma maior equidade, uma maior justiça social, um maior equilíbrio. Esta é uma visão da vida e do mundo. Há outras». Pôr os recursos naturais ao dispor de todos é uma opção política. «É isto que nós queremos também vincar nesta exposição», destacou Augusto Flor.
O próprio Einstein, lembrou, afirmava que o desenvolvimento da Ciência deve, «a cada instante, estar ao serviço da Humanidade». Para o responsável pela ciência na Festa, estes pensamentos e estes pensadores têm reflexos concretos na concepção do Partido, ao nível do seu Programa e das suas propostas concretas, inclusas nos programas eleitorais. No seu Programa, os comunistas portugueses destacam que a «política científica e tecnológica deverá ter como objectivos a valorização dos recursos naturais, o aumento quantitativo e qualitativo da produção, o aumento da produtividade do trabalho, a poupança de energia e matérias-primas, a defesa e preservação do meio ambiente». O aumento das verbas em matéria de investigação e desenvolvimento era uma das propostas dos comunistas nas eleições legislativas realizadas este ano.

No Ano Mundial da Física
Einstein, o Físico revolucionário

Já tradicional na Festa é o espaço da Física e da Astronomia, junto ao lago da Atalaia. Este ano não será diferente. Para José Fonseca, a adesão que todos os anos este espaço tem mais do que justifica a sua manutenção. Também aqui, as coisas passar-se-ão em várias facetas. Uma parte de experiências de Física, levada a cabo pelo Núcleo de Física do Instituto Superior Técnico, e uma outra, de Astronomia, em colaboração com a associação Helíades, de Constância, e com o professor Máximo Ferreira. Na parte da Física, explica José Fonseca, será possível aos visitantes perceber que «muito do que nos rodeia está relacionado com a Física». Quanto à astronomia, espera-se que as observações sejam de novo concorridas. À noite, é claro, mas também de dia, com observações ao Sol.
No ano em que se assinala o Ano Mundial da Física (comemorando assim os cem anos dos primeiros estudos de Einstein acerca da Relatividade), Albert Einstein estará em grande destaque, numa exposição que, segundo o jovem membro do grupo de trabalho, pretende, antes de mais, «homenagear o conhecimento em si». Noutro conjunto de painéis da mesma exposição, far-se-á referência ao lado mais «revolucionário» do Físico, e porventura dos menos conhecidos. «E há muitos escritos, muitos testemunhos do Einstein sobre isso», realçou. É, portanto uma homenagem a um génio da Ciência, que defendia a sua utilização para o avanço e o progresso da Humanidade. Para José Fonseca, num momento em que as coisas se passam cada vez menos desta forma e cada vez mais o conhecimento está nas mãos de poucos e é utilizado como arma de domínio de muitos, é importante lembrar esta faceta de Albert Einstein, o maior génio da Ciência do século XX.
No espaço dos debates, este lado revolucionário do cientista é realçado no domingo. Sexta e Sábado também há debates: na Sexta sobre «Astronomia, Ciência – Conhecimento» e, Sábado, o tema é «2005 – Ano Mundial da Física».