- Nº 1647 (2005/06/23)
Constituição Europeia adiada

UE admite crise profunda

Europa
O Conselho Europeu adiou a ratificação da Constituição e o acordo sobre o quadro financeiro. Diversos líderes europeus falam em crise profunda. Jerónimo de Sousa concorda.

«A Europa não está em estado de crise, está em estado de profunda crise.» As palavras são do presidente em exercício da União Europeia, o primeiro-ministro luxemburguês Jean-Claude Juncker, proferidas no sábado, depois de dois dias de reunião do Conselho Europeu, em que os governos dos Estados membros não chegaram a acordo sobre a Constituição Europeia e o quadro financeiro 2007/2013. «Estamos muito preocupados», acrescentou Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia.
Na quinta-feira, o Conselho da Europa decidiu prolongar para meados de 2007 o processo de ratificação do Tratado Constitucional para permitir «um período de reflexão», após o «Não» francês e holandês nos referendos de 29 de Maio e 1 de Junho, respectivamente. O prazo inicial, 1 de Novembro de 2006, é portanto abandonado.
Os governos de Portugal, da Dinamarca e da Polónia anunciaram já o adiamento dos referendos nos seus países. Em sentido contrário, o executivo do Luxemburgo confirmou anteontem a manutenção da data agendada para o referendo, 10 de Julho.
A discussão sobre o financiamento foi também um fiasco. Juncker declarou estar «envergonhado» por os dez novos Estados-membros se terem oferecido para reduzir os seus fundos para agradar aos países mais ricos. Jacques Chirac afirmou que a situação era «patética, para não dizer trágica», culpando o Reino Unido por ter querido «guardar o seu cheque na íntegra», em referência à devolução que Londres recebe da sua contribuição para os cofres comunitários desde 1984. Este reembolso corresponde a 4600 milhões de euros anuais.
Também o chanceler alemão Gerard Schroeder contestou o «cheque», admitindo que a União Europeia «atravessa uma crise muito grave». Esta opinião foi secundada pelo primeiro-ministro português. José Sócrates considera o resultado da cimeira «muito negativo para a Europa e um falhanço da União Europeia».
O Governo português tinha entretanto manifestado contentamento com a verba dos fundos de coesão e desenvolvimento rural que lhe tinham sido concedidos para os sete anos – 21,3 milhões de euros –, apesar de representar uma perda de 15 por cento em relação ao quadro financeiro em vigor em 2006. O facto de Portugal sair da lista das regiões europeias menos desenvolvidas, com a entrada de dez novos países na União Europeia, implica por si só uma perda de 10 por cento.

«Morto e enterrado»

Jerónimo de Sousa considera que o adiamento por um ano do processo de ratificação da Constituição Europeia constitui «uma pesada derrota da União Europeia neoliberal, federalista e militarista». «Este tratado não só está morto, como vai ser enterrado, e bem enterrado, pela luta dos povos», afirmou no domingo, no Seixal.
O secretário-geral do PCP criticou José Sócrates por «alimentar a esperança» na realização de um referendo sobre a questão em Portugal. «Quem assim pensa está condenado ao fracasso», disse Jerónimo de Sousa, defendendo que a revisão da Constituição Portuguesa deveria permitir a consulta popular sobre a integração de Portugal na União Europeia.
Em relação ao orçamento comunitário, Jerónimo de Sousa referiu que a proposta «que estava em cima da mesa não era uma boa solução para Portugal». «O Governo preparava-se para aceitar um acordo que significaria um brutal corte nos fundos comunitários», acrescentou.